Por estes dias passam pelo
Estoril alguns dos mais poderosos, mediáticos e corajosos juízes do planeta.
Ouvir Baltazar Gárzon, Sérgio Moro, António Di Pietro ou Carlos Alexandre é
concentrar a nossa atenção sobre o modo como a elite da justiça mundial
luta contra o poder e os seus ilícitos, cada vez mais descarados.
Corrupção, tráfico de estupefacientes,
de pessoas e de influências, crime organizado, fuga aos impostos, vigilância ilegal
Os superjuízes têm falado de
uma maneira desassombrada e clara, pondo a nu as suas dificuldades, obstáculos, o gigantesco polvo que os cerca, as leis feitas para que a justiça não se
faça.
Entre o assombro e medo – eis a
sensação que se fica do que dizem. Dos diversos contributos, escolhi a frase do
espanhol Baltazar Gárzon – “Lutar contra a corrupção tem um custo”.
Elevadíssimo para qualquer juiz.
Além do desgaste físico, psicológico,
emocional, há que descartar definitivamente viver em paz, ter uma vida pessoal
e familiar normal. A isto acresce a frustração de ver muitos criminosos
escapulirem-se entre os dedos, observar como as regras/leis protegem os
poderosos e os criminosos e quase nada poder fazer. É uma guerra para se perder,
ainda que se consiga sair vitorioso em algumas batalhas.
Por videoconferência, o
americano Snowden chamou a atenção para o excessivo poder da vigilância global –
“é eficiente para muita coisa, mas não salva vidas!”.
O percursor desta estirpe de
insignes juízes – António Di Pietro – lembrou que é bom que haja processos
mediáticos. E não podia estar mais de acordo, pois eles trazem a justiça para o
centro do debate público, interessam a população por estas questões e dão força
à desigual luta dos juízes contra políticos, poderosos e corruptos.
Carlos Alexandre foi o mais
polémico de todos, ao defender a delação premiada como instrumento necessário a
democracias maduras. Por muito que perceba o alcance e os benefícios de tal
posição, não acho uma boa ideia. A bufaria premiada obrigaria a justiça a meter
as mãos no lixo e a negociar com criminosos. Toda a força moral e legal de um juiz
ficaria comprometida.
GAVB