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domingo, 29 de dezembro de 2019

O QUE UMA MULHER NUNCA PERGUNTARIA



Há uma arte de perguntar e uma ética. 
O modo como perguntamos diz muito do modo como pensamos. 
A Major senegalesa Seynabou Diouf, que acaba de ser distinguida com o prémio “Mulher Polícia das Nações Unidas”, tocou numa ferida, a todo o instante reabertas, pelo modo como as nossas perguntas transportam uma visão distorcida do mundo. 

Lendo o que o jornal El País conta do seu percurso e da sua ação em várias missões das Nações Unidas, percebo o sentido mais justo daquela ideia de Mário Quintana, para quem pouco importavam as respostas certas. «O essencial, era fazer as perguntas certeiras» sublinhava ele. Por alguma razão Confúcio não procurava saber as respostas, antes procurava entender as perguntas. 

Há um episódio curioso no início da carreira da militar senegalesa, em 1985. No primeiro dia da sua incorporação na polícia nacional do Senegal, esqueceram-se de a avisar. Era a primeira vez que uma mulher estava nessas condições. 
Ela não faz, quanto a este incidente, qualquer pergunta! Ao longo destes anos ocupou-se de assuntos como o da prostituição de crianças em Dakar. Esse trabalho levou-a à inclusão em missões de paz no Sudão, no Mali e na República Democrática do Congo, onde continuou a denunciar os abusos sexuais sobre a população. 

Criou o primeiro Fórum de Mulheres da missão da ONU no Sudão e uma rede de mulheres no Mali; liderou um grupo de trabalho sobre as questões de género na missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo, que registou quase uma centena de casos de exploração sexual de mulheres, por parte do próprio pessoal das Nações Unidas. O resultado desse trabalho levou-a a sublinhar, com orgulho, que, desde o ano passado, não há qualquer registo de denúncia. 
O prémio que agora lhe foi atribuído confirma a importância do envolvimento de mulheres na luta contra o abuso e exploração sexual.
E o que é que isso tem a ver com a justeza das perguntas? 
Deixo à vossa consideração esta frase da militar senegalesa, agora distinguida: 

«Uma mulher nunca te perguntará o que levavas vestido quando foste violada; mesmo que estivesses nua, isso não justificaria a violação.» 


Isso leva a procurar o Livro das Perguntas de Neruda:

«Diz-me, A Rosa está nua ou só tem esse vestido?»


Fernando Alves Guerra, Sinais, TSF, 29-11-2019

sábado, 28 de dezembro de 2019

MÉDICA ESPANCADA DE FORMA GRATUITA RECUSA VOLTAR A EXERCER NO MESMO HOSPITAL

Uma discussão fútil entre médica e paciente, por causa do suposto mau modo como a clínica se dirigia à utente do hospital de São Bernardo, em Setúbal, levou ao espancamento da médica por parte de uma jovem de 25 anos. 

Bofetadas, pontapés, cabelos arrancados - tudo serviu para agredir uma profissional de saúde, que dava o melhor de si, para atender com eficiência e competência a população do distrito de Setúbal. 
Não voltará a exercer naquele hospital, tal o trauma que esta agressão lhe causou. 
Além da dor física e dos ferimentos graves num olho, que obrigaram a intervenção cirúrgica, subsiste a humilhação que a impunidade da agressora goza, pois ficou e liberdade após bárbara e gratuita agressão.
Da administração do hospital de São Bernardo nem uma palavra de condenação nem uma frase de solidariedade, muito menos um pedido de desculpa formal pela falta de segurança do hospital.

Com muita tristeza verifico que a população portuguesa não percebe bem a situação crítica que a SNS está a viver, com uma debandada sem precedentes de clínicos para o setor privado ou para o estrangeiro. 
Abandonados pelo governo, não defendidos pelas administração escolares e agredidos pelos utentes, os médicos estão exaustos e desiludidos. Sentem-se humilhados e, muitas vezes, com razão. 
Não estão para «isto»! Quem estaria?

GAVB


segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

O CRIME AMBIENTAL COMPENSA PORQUE A JUSTIÇA É BRANDA?



Entendo perfeitamente a angústia do ministro do Ambiente português, João Pedro Matos Fernandes, quando percebe a acusação velada no olhar das vítimas das cheias dos últimos dias. Também ele sabe que boa parte dos estragos poderiam ter sido evitados se o Ambiente não fosse o filho bastardo da governação. Por isso, resolveu trazer debate uma questão pertinente: a insensibilidade da justiça portuguesa para os crimes ambientais. 

O ministro dá um exemplo concreto, sem citar nomes: «O Ministério Público está cada vez mais atento à relevância e à gravidade dos crimes e contraordenações ambientais, mas a magistratura judicial transforma, às vezes, uma multa de 72 mil euros em contribuições de 300 euros para os bombeiros locais.»


Se isto não for um caso isolado, mas uma prática corrente, diria que anda a magistratura portuguesa a convidar ao crime ecológico. Também já tinha tido esta impressão, aquando da contaminação do Tejo, por uma empresa do patrão do Correio da Manhã. Curiosamente, o jornal mais dado a notícias sensacionalistas nunca se interessou por crimes ambientais. A maioria dos portugueses também lhe passa ao lado e, talvez por isso, só haja revolta quando morrem pessoas nos incêndios ou as águas das cheias dos rios desalojam aldeias inteiras.

O crime ambiental é o que mais compensa porque a população portuguesa não tem muita sensibilidade para ele. Como se a natureza tudo pudesse aguentar ou absorver. Não pode!
A população portuguesa precisa de olhar para a natureza que a rodeia como se do seu próprio corpo se tratasse. Todas as agressões feitas ao ambiente se repercutirão em cada um de nós.
Em vez de dizermos piadas obscenas sobre a Greta Thunberg ou tentarmos apoucar os seus esforços, devíamos concentrar-nos a melhorar bastante a nossa prática ambiental.
GAVB

domingo, 22 de dezembro de 2019

EM PORTUGAL, A PROTEÇÃO CIVIL É UM DIQUE PRONTO A REBENTAR




Chove há várias semanas em Portugal, mas com intensidade há apenas três /quatro dias. Foi o bastante para cidades como Amarante, Régua, Porto, Águeda ficarem inundadas. Foi o suficiente para aldeias de Montemor-o-Velho ficarem parcialmente submersas, porque o dique não aguentou a pressão das águas.

Vai ser assim sempre que chover com alguma intensidade? Parece que sim, mas não tinha que ser assim. Dizem que as barragens ajudam a regular o caudal, mas aldeias, vilas continuam a ser inundadas. Então, é porque a sua capacidade regulatória é muito diminuta ou a sua capacidade de armazenamento é reduzida e não consegue suportar uma semana de intensa chuva. Ou então a construção nas margens de alguns rios foi permitida sem atender à segurança de pessoas e bens em caso de chuvas intensas para lá de uma semana.
Qualquer que seja o lado por onde olho a resposta é sempre a mesma: incompetência, irresponsabilidade.

Não gosto de discutir culpas em altura de crise ou desgraça, mas sinto que é preciso chamar os responsáveis por determinadas decisões. Explicar às populações o quanto determinada decisão foi errada e causou danos. Quem fez o quê e quem se encolheu, deixando andar, deixando construir ou impedindo que se fizessem obras preventivas absolutamente necessárias. Que as contas dos prejuízos se façam e que chamamos à responsabilidade quem as causou.


Quando o país precisa da proteção civil, ela tem falhado. Foi assim nos incêndios, é assim nas mini cheias. Também desaparecem os pavões do costume, que usam os fins-de-semana para «trabalho político» junto das populações. O que é isso de trabalho político? Jantares e discursos ocos, com graçolas e ataques aos adversários políticos? Neste fim-de-semana, muitos portugueses precisaram do trabalho político dessa gente, mas só apareceram alguns Presidentes de Câmara, aqueles que realmente amam as suas gentes e tentam resolver os seus problemas, impotentes perante a subida das águas, sem poder nem meios para construir uma «muralha defensiva», para que a história não se repita.

A proteção civil que temos é diquezinho pronto a rebentar às primeiras enxurradas. Amesterdão e a Holanda estavam desgraçados se tivessem governantes assim.

domingo, 15 de dezembro de 2019

DEPUTADOS DA ESQUERDA RECUSAM CONDENAR AGRESSÃO A PROFESSORA GRÁVIDA, EM SALA DE AULA


Já é suficiente mau uma professora ser agredida no seu local de trabalho, por quem quer que seja, mas quando a agressora é uma mãe, que irrompe por uma sala de aula e bate numa mulher grávida, a ponto desta perder a criança que trazia dentro dela, o caso torna-se ainda grave.


Quer a direção da escola, quer a associação de pais, quer o próprio ministério da educação deviam ter repudiado desde logo o triste acontecimento, pois não souberam proteger aquela professora e o seu futuro filho, de uma agressão cobarde, indigna e ultrajante.

Como, incrivelmente, ninguém responsável fez o seu trabalho, alguns deputados acharam por bem levar o caso à Assembleia da República, pedindo o mínimo: um voto de condenação pelo sucedido.
E eis que o impensável acontece: o partido do governo, o Partido Socialista vota contra. Os outros partidos de esquerda (Livre, Bloco de Esquerda, Partido Comunista e Verdes) abstêm-se.

Não consigo compreender este ato! Não consigo aceitá-lo!

Uma professora, uma mulher grávida a exercer a sua profissão ao serviço do Estado português é agredida e a maioria dos representantes do povo português recusa-se a condenar este ato?!

Quando Jerónimo de Sousa ou Catarina Martins voltarem a dizer que defendem os professores e as suas legítimas reivindicações, devíamos exibir-lhe um papel com o resultado desta votação e virar-lhes definitivamente as costas. Quando algum membro do PS voltar a dizer que é contra a violência, seja ela doméstica ou de outro qualquer género, exercida contra uma mulher, especialmente quando está grávida, há que lhe mostrar o seu voto.
Não têm desculpa! 
Como diria Angel Merkel, há atos que nos envergonha para a vida inteira e este será um deles. Aquela gentinha que se levantou para recusar a condenação de uma agressão a uma professora grávida, em serviço, não merece respeito nem tem honra para ocupar o cargo que ocupa.
Há muita gente, entre a população portuguesa, que tem verdadeiro ódio aos professores, mas acho que mesmo a esmagadora maioria dessa gente era incapaz de um ato tão vil.
Certamente a vida há-de encarregar-se de fazer sentir a todos aqueles que participaram nesta VERGONHOSA recusa, quão mesquinho e baixo foi o seu ato.
GAVB

sábado, 14 de dezembro de 2019

GABINETE DO ÓDIO


Joice Hasselmann, deputada federal do PSL[Partido Social Liberal], a mulher mais votada para a Câmara dos deputados na história do Brasil, ex.- aliada política de Bolsonaro, foi à comissão parlamentar mista de inquérito sobre as fake news  e abriu o saco, denunciando um grupo difusor de notícias falsas com ligações ao presidente e funcionado no palácio do Planalto [residência oficial do presidente do Brasil] .
A deputado confirmou a existência de um grupo conhecido como o «Gabinete do ódio», cujos mentores seriam os dois filhos do presidente brasileiro.
O grupo terá difundido e produzido notícias falsas na internet, atuando com uma estratégia bem definida e organizada. Joice explicou método: "escolhe-se um alvo, combina-se um ataque e há, inclusive, um calendário de quem ataca e quando esse alvo está escolhido, entram as pessoas e os robots. É por isso que numa questão de minutos temos uma informação espalhada pelo Brasil inteiro."

Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades! Meia verdade que seja! Há casos em que a zanga das comadres traz ganhos evidentes à comunidade. É claro que a deputada federal, até anteontem aliada do presidente, o qual, há dias, se desfiliou do PSL, sobre qual bandeira concorrera, está envolvida em conflito político com o clã Bolsonaro, e foi ela própria vítima de ciberbullying por parte de Eduardo, filho de Jair Bolsonaro.


Qualquer deles terá dado pouca atenção ao aviso de Millôr Fernandes, de que «não devemos odiar com fins lucrativos, porque o ódio perde a sua pureza.»

«Não há nada mais tenaz que um bom ódio!», proclamava, entretanto, o grande Machado de Assis. 
Mas o primeiro presidente da Academia brasileira de Letras, neto de escravos, não participaria em qualquer Gabinete de ódio para a construção de notícias falsas. 

Do mesmo modo, Bolsonaro, se tivesse vivido cem anos antes, não teria sido acolhido na “Sociedade Petalógica”, organizada por um jornalista e tipógrafo, em cuja livraria se vendia de tudo, incluindo chás e parafusos. 
O lugar era frequentado pelo futuro autor de “Quintas Borba” e “Dom Casmurro”, que também participava na criação de patranhas.  
O método da intelectualidade do Rio de Janeiro, há época, reunida, com frequência, na livraria do tipógrafo Francisco Paula Brito, era o de no convívio de personalidades da classe letrada e não-letrada promover uma mais estreita observação da Mentira e a sua demolição. 
O objetivo dos membros da Sociedade Petalógica era o de, criando patranhas, desprestigiar os mentirosos, os produtores de fake news da época. Afinal, eles antecipavam, com outro garbo, é certo, … as comissões de inquérito.

Fernando Alves Guerra, Sinais, TSF, 5-12-2019

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

INTIMIDADE INDECENTE



Uma grande vénia aos atores, à autora do texto, ao fabuloso momento teatral vivido recentemente no Teatro de Vila Real. 

“Intimidade Indecente” foi, provavelmente, o melhor espetáculo teatro que vi nos últimos meses, o que não é de estranhar, porque o espetáculo praticamente esgotou todas as salas portugueses por onde passou neste final de outono, apesar de já estar em cena há dezoito anos. 

A peça começa com uma discussão banal entre o casal, Roberta e Mariano. Aos 50 anos de idade e 20 de vida em comum, o casal fala sobre sexo e desejo. Roberta queixa-se que o marido já não a deseja sexualmente.

A justificação de Mariano vai direta ao coração do problema de muitos casais de cinquenta anos: perdera o «tesão» pela mulher e pela vida, apesar de amar ambas. Obviamente a discussão instala-se e no meio dela, o marido acaba por confessar um caso com a melhor amiga a da filha, uma jovem de dezassete anos, o que determina o divórcio do casal, já que Roberta o expulsa de casa. 


Dez anos depois, dá-se o primeiro reencontro. Roberta está vivendo com Lea, uma mulher mais jovem que a faz redescobrir os prazeres do sexo, entretanto adormecidos, nos últimos anos de um casamento monótono. Já Mariano fora abandonado pela jovem amiga da filha e trocado por outro homem bem mais novo – como seria de esperar. 

Outra década passa, entretanto, Roberta aparece sozinha, gozando apenas a companhia do seu caniche enquanto Roberto, visivelmente, mais velho, anuncia que vive na companhia de uma secretária / enfermeira, que, de quando em vez, o contempla com pequenos favores sexuais, ainda que ele tenha absoluta consciência que o interesse desta é materialista. 


Mais dez anos volvidos e o casal volta a reencontrar-se. O andar difícil e curvado e a perda constante de memória denunciam alguém que já passou a barreira dos oitenta. Mariano lamenta ter “um dia ter-se revelado a verdade”. Melhor teria sido manter a vidinha mediana e feliz de sempre. Seria? 
O lançamento da peça junto do público promete paixão, sexo, traição, companheirismo, abandono, amor, preconceito, solidão. É muito, mas não é tudo. Quem assiste à peça vê mais do que a interpretação de um fabuloso texto de Leilah Assumpção, que nos atira à cara a aquilo que já somos ou provavelmente poderemos vir a ser quando «o tesão» de viver murcha e tentamos, por meios errados recuperá-lo, como se houvesse elixir da juventude em qualquer pele ou sexo de um(a) jovem. 

Durante todo o espetáculo o humor está presente, como algo que esvazia o dramatismo de algumas conclusões cruéis que vamos assimilando, mas o principal é mesmo a emoção e a reflexão que o texto nos proporciona. 

E depois há a fabulosa interpretação de Marcos Caruso. Há quinze anos, na primeira apresentação da peça em Portugal, ele fez-se acompanhar de Irene Ravach. Desta vez, a parceria foi com Vera Holtz e não se pode dizer Vera não estivesse à altura da exigência e da comparação. 

O que mais me impressionou, do ponto de vista cénico, foi a maneira excecional como Caruso e Vera Holtz souberam envelhecer as suas personagens sem sair de cena, sem trocar de maquilhagem, sem mudar o cenário. Os atores vão dos 50 aos 80 anos apenas por meio de um primoroso trabalho corporal e vocal. A postura, o gestual, as manias, expressões...é impressionante! Tem-se mesmo a impressão de que temos personagens de diferentes idades em cena. 
Apesar da extrema qualidade da interpretação de Vera Holtz, Caruso é um ator à parte. Numa palavra: excecional. 
Como a peça! Como a vida, também…

sábado, 7 de dezembro de 2019

A VERGONHA A QUE MERKEL SENTE É A MESMA QUE A ALEMANHA TEM?

«Lembrar estes crimes é uma responsabilidade que nunca termina. Pertence de forma inseparável ao nosso país. Estar ciente desta responsabilidade é parte da nossa identidade nacional, da consciência de nós próprios como uma sociedade livre, uma democracia. Não há palavras para descrever a nossa mágoa. Sinto profunda vergonha pelos pelos crimes bárbaros que aqui foram cometidos por alemães

Calcula-se que nos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau morreram um milhão de judeus europeus entre 1942 e 1944, assim como ciganos, polacos e prisioneiros de guerra soviéticos. 
No próximo mês de Janeiro, celebra-se 75 anos da libertação do mais famoso campo de concentração e extermínio da segunda guerra mundial, mas Angela Merkel preferiu visitar o campo agora, numa altura em que o antissemitismo volta a crescer na Alemanha fazendo soar o alarme de muitas campainhas.

A grande vantagem de Merkel para a maioria dos grande líderes mundiais é que as suas ações e palavras não visam apenas ficar bem na fotografia, mas brotam do seu sentir. As suas ações o confirmam ao longo dos vários mandatos à frente do mais rico e poderoso país da União Europeia. Ninguém como ela acolheu e defendeu os imigrantes, os refugiados vindos de África ou de zonas de conflito como a Síria, mesmo contra a opinião egocêntrica dos seus concidadãos. 

Diz Merkel: « Este local obriga-nos a manter a memória viva. Devemos lembrar os crimes que aqui foram cometidos e falar deles com clareza.»

Vinda da parte leste da Alemanha, Merkel sabe perfeitamente o que é ser olhado com desdém e desprezo, mas o cargo, a pressão social, a irrevogável arrogância alemã podiam-na ter feito esquecer o essencial, mas não. 
Vamos ter saudades de Merkel! Do seu pragmatismo, da sua saudável normalidade, da sua decência política e sobretudo da sua coragem e dignidade pessoal, política e histórica.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

VIVA A MISTURA

Um gueto é uma fábrica de crime. Fechar ou deixar que se fechem minorias étnicas em bairros monolíticos é assobiar à catástrofe. 
Imigrantes e minorias étnicas têm de beber a bica com os locais. É o que faz o governo dinamarquês. Nesses bairros, renovam e vendem apartamentos para que os dinamarqueses se misturem com os imigrantes, pondo estes em contacto com melhores oportunidades de emprego e cultura.
Cria-se uma solidariedade nacional e os miúdos têm lições para conhecer os valores dinamarqueses. 
O gueto é uma bala no coração do imigrante: segrega-o, corta-lhe as pernas no emprego, na cultura, na integração.
Viva a mistura.

Manuel S. Fonseca

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

CCA FAZ ANOS, PREMEIA OS SEUS ALUNOS E PROMETE PRESENTE À COMUNIDADE


Uma noite cheia, aquela que vivi no passado dia 3 de dezembro no Centro Cultural de Amarante. Grande parte dos meus ex-alunos recebiam o seu diploma de 9. ano (quinto grau no CCA) de alunos de Música e Dança do Centro Cultural de Amarante, na presença dos pais, professores e entidades oficiais. 
A data era também especial para o Centro Cultural de Amarante, que completava, nesse mesmo dia, 38 anos de vida ao serviço da cultura amarantina. 


Nos últimos anos, o Centro Cultural de Amarante têm-se afirmado como o escola artística de excelência a nível regional e nacional, de tal modo que atualmente já atrai centenas de alunos, do 1.º ao 12.º ano, e mereceu recentemente a distinção de Centro Unesco, o que muito honra a cidade. 


Em dia de aniversário, foi a própria escola que ofereceu os presentes. Primeiro aos seus alunos, numa singela cerimónia de entrega de diplomas, depois a toda a comunidade, quando o presidente do CCA, João Francisco Laranjeira, anunciou o novo e ambicioso projeto do CCA - um novo espaço na zona histórica da cidade de Amarante, que funcionará ao mesmo tempo como biblioteca, residência de artistas, local para tertúlias literárias e apresentação de livros ou pequenos concertos temáticos. Depois de adquirido o imóvel, o projeto encontra-se em fase de aprovação quer no IPPAR quer na Câmara Municipal de Amarante.
Como estávamos numa casa de música e dança, houve várias atuações dos alunos premiados e no final um pequeno convívio entre todos.
Para que quiser conhecer toda a atividade feita e em progmação do CCA, aconselho uma visita à sua casa virtual

   

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

SE OS ALUNOS NÃO APRENDEM NO SEU PRÓPRIO RITMO, ACUMULAM LACUNAS


 Salman Khan, engenheiro eletricista e informático formado em Harvard e pelo MIT, recentemente premiado com o Prémio Péêmio Princesa de Astúrias de Cooperação 2019, conseguiu alterar o panorama educacional. 

Desde que criou em 2009 a Academia Khan, uma plataforma online gratuita de aprendizagem e sem publicidade (sem fins lucrativos), mais de 72 milhões de pessoas de todo o mundo seguiram alguma de suas 7.000 videoaulas, 100 horas de conteúdos que abrangem da aritmética básica à Revolução Francesa. Um dos seus modelos pedagógicos são os chamados mapas de conteúdos - um software que encontra conexões entre os temas e gera exercícios de forma automática. 

O segredo é criar as conexões certas! E estas são aquelas que fazem sentido para os alunos e não aquelas que fazem sentido para os professores ou educadores. 

Para o americano, a “grande falha” da escola tradicional é que o conteúdo é distribuído de forma fragmentada, em temas autoconclusivos, com todas as conexões cortadas. 

Para ela, “é mais fácil entender uma ideia se o aluno puder relacioná-la com outra que já conhece”. 

Pensemos, por exemplo, no estudo da genética na Biologia, sem relação com o cálculo de probabilidades na Matemática, embora sejam duas questões estreitamente relacionadas. Para este informático e estudioso das questões da Educação, “São divisões que limitam a compreensão e dão uma imagem errada de como funciona o universo”. Em sua opinião, essa forma de ensinar marca a diferença entre memorizar uma fórmula para uma prova (o que acontece na escola atual) ou interiorizar a informação e ser capaz de aplicá-la uma década mais tarde. 

Salmon explica que po problema da escola tradicional é que esta não não responde ao funcionamento do cérebro - “as redes neuronais funcionam com a associação de ideias, não com temas estanques”, 

E acrescenta ainda outro problema da escola tradicional: a mentalidade de que é preciso seguir o programa, respeitar o calendário. 

A questão é que a repetição é básica para a aprendizagem, e numa sala de aula normal não se retrocede à espera de que todos os alunos entendam; logo alguns ficam pelo caminho. No entanto, cada um tem um ritmo de aprendizagem diferente e se não aprenderem no seu ritmo, acumulam lacunas. Foi o que aconteceu com sua prima até ele decidiu começar a lhe dar aulas por telefone e a retomar várias vezes os conceitos que ela não assimilava, impedindo-a de entender outras questões matemáticas. Diante do sucesso, outros parentes pediram sua ajuda. O telefone já não era tão útil, então começou a fazer vídeos que publicava na Internet e que são o germe desta escola mundial onde a lousa com os exercícios não é apagada, está sempre na nuvem disponível para o aluno.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

EU QUASE AMEI A FORMA COMO TU MENTIAS


Eu quase amei a forma como tu mentias
limpando os pés ao meu sorriso
É claro que achas que eu não presto
É claro que achas que eu não sirvo








Eu quase amei a forma como tu me vias
logo eu amo outra pessoa
Eu não me importa se eu não presto
Eu tenho planos para lá de mim


E tu és só o que eu te empresto

Foi no teu amor que algo se perdeu
Foi no teu amor não no meu


Foi no Teu Amor, Manel Cruz 

domingo, 1 de dezembro de 2019

RESTAURAR A MEMÓRIA


Basta que o feriado calhe ao fim de semana para que a última memória dele se apague. Já nem os maluquinhos das efemérides os recordam, porque a vida ganhou uma relatividade absoluta e assustadora. 
A História deixou de interessar, como deixou de interessar os ensinamentos que trouxe ou as modificações que determinou. Houve um tempo em que comemoravam os acontecimentos marcantes da História de Portugal; depois eles passaram a merecer apenas um breve sinal institucional, até que chegou o tempo em que o esquecimento os engoliu. 
Não gosto de pensar que pertenço a uma sociedade que retira a História do seu quotidiano. 
Num primeiro de Dezembro como o de hoje, alguns portugueses fizeram questão de recuperar a independência de Portugal, retirando-o definitivamente das garras castelhanas. 
Se hoje falamos portugueses, somos um povo e temos um território muito se deve a esse assomo de dignidade coletiva e histórica, corporizado em D. João IV.
Temos a obrigação de o recordar, de ensinar aos mais novos o seu feito assim como a importância do mesmo. 
Sem memória histórica caminharemos inexoravelmente para outro suicídio coletivo. 
E antes que isso acontece parece-me urgente parar as malfeitorias que estão a fazer à disciplina de História na Escola. Outrora uma disciplina nuclear no curriculum, tem hoje uma carga horária igual ou inferior a Educação Física. É impossível ensinar História de uma maneira minimalista. Precisamos de mais tempo de ensino de História para que os jovens percebam a importância de acontecimento como aquele que hoje devíamos ter assinalado.  

GAVB

sábado, 30 de novembro de 2019

JORGE JESUS: A ENTREVISTA QUE FALTAVA


Não podia deixar passar a oportunidade de entrevistar o homem do momento no Brasil e em Portugal, Jorge Jesus, que colocou a nação rubro-negra que nem pipoca, como se diz por lá.
Fui ao Brasil num pé e vim noutro (ou como diria Jorge Jesus, fui num braço e vim noutro).
Eis a conversa.

-Antes de mais, parabéns pelo sucesso aqui no Brasil, mister. Você já conhecia o Flamengo?
-Claro que sim, é o meu queijo preferido.

-Ok... Acha que se o Palmeiras e o River tivesse contratado o Rui Vitória tudo seria diferente?
-Só sei que em 16 finais (este foi a 17.ª final que tive na minha carreira) ganhei 17 e perdi 10. Portanto, é fazer as contas.

-Sim, é fácil... O que é que você acha do samba?
-É um jogador forte no ataque posicional, mas falta-lhe profundidade.


-Falo da dança e do género musical! Já agora, li que dançou funk enquanto comia uma maçã.
-Eu nunca li um livro sobre isso. Só leio sobre jardinagem e bricolage. De resto, saiu tudo da minha cabeça.

-A verdade é que a festa do Flamengo foi muito bonita e até fez lembrar  as do Benfica no Marquês. Um mar de gente e no final houve m....
-Verdade. Até então foi espectacular. Até a Cindy pediu assim uma festa ao Uribe.

-Revelou que a música O Melhor de Mim, da Mariza o inspirou muito. Os jornalista brasileiras fazem-lhe muitas perguntas sobre ela?
-Sim, sim. Até já lhes expliquei que é uma fadista portuguesa baixinha, cabelo comprido e escuro.

-Estou a ver... Há mais alguma música que o tenha acompanhado nesta aventura?
-Sim, O Povo Que Festejas no Rio, da Amália.


-Parece que lhe querem fazer uma estátua e tudo, para meter ao lado da do Zico.
-Sim, é verdade. Se não houver espaço para as duas, tira-se a do Zico. Vai para o meu gabinete para eu pendurar o colete.


-E o futuro, mister?
-Já tive oportunidade de dizer e repito: nós apaixonamo-nos e desapaixonamo-nos.

-Já pediu algum jogador à Direção do Flamengo para a próxima época?
-Gostava de ter o Sádico Mané, do Liverpool.

-Você é o Pedro Álvares Cabral do futebol?
-Não! Ele é que é o JJ do navegadores.

in, jornal «A Bola»


sexta-feira, 29 de novembro de 2019

BLACK FRIDAY: A MODA JÁ NÃO É COMPRAR, MAS UTILIZAR

A moda já não é comprar, mas sim UTILIZAR. 
Os transportes, a roupa, os livros, os sacos das compras... no entanto, há em nós um lado irracional, antigo e vaidoso que ainda nos domina e nos conduz à compra. Compulsiva, irracional, destrutiva.
 Só isso  explica esta alienação coletiva que fez/faz gastar a cada português mais de trezentos euros em compras no Black Friday. 


Comprar, comprar, comprar... e tornar a comprar como alguém que fuma cigarro atrás de cigarro, nervoso com qualquer evento da sua vida.

É verdade que o Black Friday fica na esquina mais perigosa do ano para a nossa carteira, já que se situa na confluência da Rua do Subsídio de Natal com a Avenida Compras Natalícias, havendo tentações feitas à medida dos nosso pontos fracos em cada monta, feed do facebook, ou spot publicitário que a televisão passa com arte e comoção. No entanto, do outro lado devia de estar o bom senso, a noção que algumas comprar são mesmo desnecessárias e fúteis, além de que nos farão desequilibrarão as finanças e o humor nos próximos dois meses. 

É bem possível que seja quase impossível quebrar este colossal vício consumista, pois ele alimenta-se do nosso pior defeito - a vaidade, mas não será assim tão difícil promover uma transformação libertadora em vez de uma revolução dolorosa. UTILIZAR em vez de comprar. Temos de abandonar definitivamente essa noção esclavagista de posse. 
Amontoamos roupa nos armários, acessórios, sapatos, telemóveis, relógios, coleções de livros cuja folhas nunca virão a luz do dia. Precisamos de tornar todo esse material desfrutável, dando-lhe outros donos, aprendendo a beleza das coisas usadas e, sobretudo, partilháveis. 
Saí muito mais barato e condiz bem melhor com o espírito natalício.
GAVB
  

domingo, 24 de novembro de 2019

A DESVENTURA DE SER POLÍCIA


"O que me preocupe não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons", Martin Luther King.

Para mim, já nem precisam de ser "bons", basta que sejam justos e decentes. A indiferença da sociedade portuguesa perante os problema concretos de determinados grupos profissionais choca-me. Encolhem os ombros e proclamam a célebre frase de António Guterres "É a vida!". Não, a vida coletiva não é isto! A vida de uma sociedade, de uma população ou de um povo é intervir em prol da justiça, em benefício do bem geral; e tal significa pressionar para que determinados grupos profissionais alcancem as suas reivindicações.

Dir-me-ão que não são eles que decidem, que fazem leis, que determinam aumentos de salários. Eu contraponho que são eles que votam, que escolhe quem decide e quem os pode censurar publicamente e de modo inapelável.
Como fazer isso? Através do poder intermédio: a comunicação social.

foto de Tiago Miranda, Expresso
E que faz a comunicação social neste caso como no caso dos enfermeiros, dos médicos, dos oficiais de justiça, dos professores? Entretém-se com jogos florais, escrevendo, falando e debatendo sobre tudo o que é acessório.
Que me importa que as reivindicações dos polícias sejam acompanhadas pelo deputado do "Chega" André Ventura? Nada!! O que importa é que eles têm razão. O que importa é resolver a situação indigna em que muitos trabalham. O que releva é que temos um problema para resolver e não o estamos a saber resolver.

A população portuguesa precisa de valorizar a sua polícia e não clamar pela sua proteção quando lhe convém, mas achar bem que ganhe pouco mais que o ordenado mínimo, que tenha de comprar o material de trabalho ou tenha de fazer o seu ofício com um número tão pequeno de efetivos que a sua segurança está sempre em riscos.

É preciso que essa preguiçosa maioria silenciosa diga à maioria que elegeu que é preciso dar melhores condições de trabalho e de remuneração à polícia portuguesa, porque ela o merece, porque ela é essencial à segurança e paz que queremos, porque ela já tem sofrido de mais.

Ser polícia em Portugal quase sempre foi uma desventura: quando nos protege não faz mais do que a sua obrigação; quando se excede é um criminoso que tem de ser severamente punido; quando nos multa justamente, está a "meter nojo".
Temos realmente um problema psicológico com a noção de polícia. E não são os polícias que têm de mudar no essencial, somos nós. Precisamos de os respeitar e isso implica pressionar o governo a dar-lhes o que eles merecem, o que no caso, é, praticamente, aquilo que eles reivindicam.

Gabriel Vilas Boas


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

PASSAR TODA A GENTE É TRAIR O ALUNO E DESRESPONSABILIZAR O ESTADO

Tentar dar tudo a todos é meio caminho para não dar nada a ninguém, aprofundando o fosso entre ricos e pobres. Aliás, devemos ter a noção que há coisas, como a passagem de um ano letivo para outro, que não se dão, pois destinam-se a ser conquistadas. 


Obviamente que passar toda a gente até ao 9.º ano de escolaridade resolve o problema do abandono escolar, da percentagem de "chumbos" que o país tem, e torna a Escola ainda mais barata. No entanto, é resolver um pequeno problema para criar um outro muito maior: a ignorância de sucessivas gerações de pessoas.

Foi este pensamento que durante anos o Estado teve em relação ao tabaco: se o tributarmos fortemente até encontramos uma interessante fonte de receita, esquecendo que a conta seria apresentada, mais tarde, ao Serviço Nacional de Saúde. 

"Investir num plano nacional de não retenções" é brincar com as palavras. Já há planos e mais planos que tentam recuperar os alunos com mais dificuldades, mas estes alunos não deixam de existir simplesmente porque esses planos foram criados. Temos de contar que há alunos que não conseguem mesmo ultrapassar as suas enormes dificuldades de aprendizagens como temos de considerar que também há alunos que, simplesmente, não as querem ultrapassar porque se estão a marimbar para a Escola.

Por outro lado, passar todos os alunos é desistir de ensinar. 
Que aluno estará atento, motivado, comprometido, sabendo que faça o que fizer tem sempre a passagem de ano garantida? 
E mesmo havendo alguns (cada vez menos com a passagem do tempo) interessados em aprender, facilmente o ambiente criado pelos «boicotadores» inviabilizará qualquer aprendizagem com o mínimo de qualidade. 

Em poucos anos, as famílias com alguns recursos económicos retirarão os seus educandos do ensino público, que ficará, deste modo, depauperado, desmotivado, abandalhado. 
A dicotomia social aprofundar-se-á de forma irreversível, com o Estado a ter de pagar dois sistemas de ensino: o miserável (do público) e o remediado (do privado), tal como já acontece, em parte, com o nosso sistema de saúde.

Por outro lado, mesmo que haja alguma exigência a partir do ensino secundário, os alunos das escolas públicas já terão perdido por completo o comboio em relação aos colegas que sempre investiram na sua formação e, por isso, ser-lhes-á totalmente impossível competir, em igualdade de circunstâncias, para a entrada no ensino superior.

Gabriel Vilas Boas  

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

EU DEIXAREI QUE MORRA EM MIM O DESEJO DE AMAR OS TEUS OLHOS



Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.


Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.


Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Ausência, Vinicius de Morais