Etiquetas

sábado, 30 de janeiro de 2021

O INJUSTO PRECONCEITO ITALIANO CONTRA OS PORTUGUESES

 

«Non Fare il Portoghese» é uma expressão italiana que quer dizer "Não seja português", e que para os italianos quer dizer "não queiras beneficiar de algo a que não tens direito", sugerindo que os portugueses seriam um povo dado a burlas e as esquemas manhosos.

No entanto este preconceito italiano contra os portugueses é totalmente injusto e radica numa distorção dos factos. No início século XVI (março de 1514), o rei português, D. Manuel I,  enviou a Roma uma luxuosa embaixada, para homenagear o recém-eleito papa, Leão X. Especiarias, ouro, pérolas, madeiras, pedras preciosas, animais exóticos nunca vistos na europa... Portugal queria demonstrar na capital da cristandade o seu apogeu económico. 

Como reconhecimento dessa sumptuosa oferta, o papa decretou que os portugueses tivessem entrada livre em todos os espetáculos realizados em Roma, bastando para tal invocar a sua condição de portugueses. 

Com o passar do tempo, os italianos esqueceram a origem desta distinção e passaram a olhar os portugueses depreciativamente como um povo que queria assistir a algo sem pagar. Muitas vezes associando a isso uma ideia de pobreza. No fundo, os portugueses eram pobres, pouco honrados e desonestos, quando a origem de tal privilégio fora exatamente o contrário.


Com o passar dos séculos, e sabendo desta faculdade, não só os portugueses como pessoas de outras nacionalidades (até italianos) tentavam entrar em alguns espetáculos, em Roma, invocando falsamente a condição de portugueses. Isso contribuiu muitíssimo para a má fama lusitana em Roma. Caloteiros, dissimulados, pobretanas. 

Atualmente, a expressão caiu um desuso, mas não há romano ou italiano que não a conheça, na versão... errónea e preconceituosa.

Os portugueses não são tão ricos e poderosos como o foram no século XVI, mas continuam honrados como sempre. Se entram de graça em algum lugar é porque conquistaram esse direito, por via de algo extraordinário ou generoso que fizeram. Conhecer a História dos povos é também desmistificar preconceitos, que muitas vezes estão na origem do desprestígios injusto de muitos povos.

Gabriel Vilas Boas

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

O PROBLEMA NÃO É FECHAR ESCOLAS, O PROBLEMA É PROIBIR AS AULAS

        

Quando um político não ouve a ciência e a medicina, fica com uma pnademia incontrolável; quando um político não ouve professores e diretores de escolas, arrisca-se a perder um ano letivo. 


     Atualmente a morte Covid-19 corre à média de uma morte em cada cinco minutos, como a força de um rio em dias de chuva intensa. De braços caídos, os governantes esperam que pare de chover, aceitando as inundações da cave e do primeiro andar como uma inevitabilidade, apesar de todos sabermos que fora possível fazermos descargas controláveis, mas ninguém esteve disponível para controlar o natal, nem impor o fecho das escolas em janeiro. 

    O problema das escolas/aulas só é problema porque a opinião de quem lá trabalha não conta para nada há muito tempo. Tal como alguns estrangeiros ainda pensam que somos um país rural e atrasado, muitos portugueses continuam a achar que os professores queriam que as escolas fechassem para não fazerem nada. Logo eles que já nada faziam. Para muitos, só quando o pai ou o avô morre com o vírus que a filha ou o filho trouxe da escola é que acham que "tinha sido melhor fechar as escolas". São os mesmo que acham que o problema económico de Portugal está nos malandros que recebem o Rendimento mínimo, especialmente se forem ciganos. 

   

  Agora parece óbvio a muitos pais que os alunos deviam ter ido de férias a meio de dezembro e regressado em fevereiro, mas foi preciso morrer gente à porta do hospital para muitos jornalistas deixarem de dar voz ao presidente da confederação das associações de pais (que representa menos de 10% dos pais e tem um ordenado pago pelo governo) e ouvir o que os médicos lhes diziam. 

    Ninguém, nas escolas, espereva 15 dias de férias forçadas. Atrevo-me a dizer que poucos o desejavam, mas como o governo não sabe o que fazer, impede que aqueles que querem e podem continuar a trabalhar - alunos e professores - o façam, num ambiente de contigência. 

Em duas semanas não aprecerão 200 mil computadores, nem a pandemia abrandará significativamente, nem deixará de se morrer brutalmente por causa da Covid-19, mas ter-se-ão desperdiçado mais de sessenta aulas online para alunos que em junho terão exames.

      Os alunos do ensino secundário já têm os computadores do ministério da educação, mas não podem ter aulas à distância porque o governo não sabe o que há de fazer com os alunos do 1.º ciclo e do 2.º ciclo. O governo espera que a pandemia abrande como alguém que aguarda que haja uma aberta no mau tempo para passar entre os pingos da chuva. Entretanto já vai esaiando desculpas, como o facto de não haver no mercado tantos computadores disponíveis para uma compra do pé para a mão. Obviamente que não há 200 mil computadores para entrega imediata, mas houve nove meses para proceder a essa compra e nada foi feito. 

     

As escolas - professores, diretores, alunos e pais - já não nem pensam nas culpas de quem as tem, porque o momento é de trabalhar e não de lamentar. Em casa e online. Não podem todos? É verdade, mas quem vai fazer exames  pode. Já tem os meios. Não os obriguem a ficar parados para depois terem quatro meses seguidos de aulas, porque isso, sim, destrói a sanidade de qualquer um e prejudica a aprendizagem. 

 Daqui a duas semanas, não haverá computadores. Daqui a 15 dias, a pandemia continuará fortíssima. Não é preciso chegar a meio de Fevereiro para autorizar alunos e professores e continuarem o seu trabalho, nas condições possíveis. Não vamos ter  outras.

Gabriel Vilas Boas

domingo, 17 de janeiro de 2021

GOSTAMOS DE IDIOTAS PORQUE NÃO NOS COLOCAM EM CAUSAM

 

Supostamente, um idiota tem três grandes qualidades: é previsível, faz-nos rir e realiza aquilo que queremos e não temos coragem de o admitir. Deve ser por isso que muitos dizem que há idiotas úteis e outros anotam que os elegemos cada vez mais.

De facto, um idiota é muito útil à nossa preguiça cívica, porque nos salva da culpa da estagnação. Um idiota diz o óbvio, faz o óbvio, pensa o óbvio. É fácil concordar com ele, pois ele faz-nos ruminar o tempo na ilusão de o estar a saborear. Quando um idiota nos cansa, trocamo-lo por outro.

Por que gostamos de idiotas? Por MEDO. Medo de questionar, medo do desconhecido, medo de perder a posição social, medo que alguém nos supere... Medo, medo, medo...


A inteligência é curiosa, criativa e desafiadora. É também incerta. Nunca sabemos onde nos levará ela, mas temos a certeza que vai pôr em causa tudo ou quase tudo: a maneira como nos relacionamos, a estrutura do poder, as nossas certezas, o bem-estar, até alguns dos nossos valores. 


A inteligência é dinâmica e coloca-nos em permanente dúvida e desafio. Também cria diversidade (não necessariamente discórdia) e obriga-nos a aceitar o outro na sua diferença. Impõe-nos a hipótese de não termos razão. Exige que nunca paremos de aprender. Impele-nos a encontrar soluções, incorporando saberes de diferentes gerações, e, sobretudo, força-nos a partilhar o poder. 

Ao escolhermos um idiota, ficamos a salvo disto tudo. O nosso mundinho permanece calmo, pacífico e organizado, mas profundamente ignorante e aborrecido. Um idiota é a desculpa perfeitamente idiota para não assumirmos a nossa condição de seres pensantes e atuantes.

Gostarmos de idiotas é das coisas mais idiotas e cobardes que fazemos.


Gabriel Vilas Boas

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

A CULPA FOI DOS RESTAURANTES, CAFÉS E GINÁSIOS


 Quinhentos mil portugueses já foram infetados pelo coronavírus; mais de oito mil já faleceram por causa da pandemia e Portugal registou, há dois dias (11-1-21), 633 mortos, num único dia. 

A COVID «só» foi responsável por 122, ou seja, menos de 20%.

Por que chegamos até aqui? De quem é a culpa? A culpa é de todos, mas há uns mais culpados do que outros, porque há gente que morre que não tinha de morrer. Gente que morre, porque não há médicos que cuide dela, gente que morre porque quem dirige o país acha que a pandemia se trata com a mesma leviandade com que se autorizou a festa do Avante ou o comício do PCP. Gente que acha que numa escola não há professores e funcionários, com mais de sessenta anos, pessoas de risco, que deviam ser protegidas. 

Temos dez mil novos contaminados por dia e a culpa é do pessoal que se junta nos cafés, restaurantes e ginásios? Só pode, porque as escolas com dois mil alunos vão continuar abertas, como vai continuar aberto o Pingo Doce, o Continente e o Lidl, onde se faz, todos os dias, filas à porta, pois ninguém gosta de perder ajuntamento da carne, do peixe e dos legumes.

Nos lares continuam as contaminações, já que a vacina ficou parada nos hospitais públicos. Morre gente, literalmente, à porta de um hospital, porque ao fim de oito horas um médico não conseguiu encontrar tempo, cama e espaço para o recolher. Nos últimos dias, os internados em enfermaria, por causa da COVID, subiram, à média de 150 por dia, mas não há crise. 

O importante é garantir que os velhos votem nas eleições, ainda que se quebre mais uma vez o raio da bolha dos lares, porque há uns alienados que nos governam e que acham que, mesmo com o dobro de contágios por 100 mil habitantes dos da Alemanha, temos de fazer apenas um confinamento light para «a coisa» ir ao sítio.

Um bom comandante resolve problemas, não passa culpas. Não muda de critérios de avaliação de risco por tática ou conveniência política. Não manda os seus guerrilheiros confraternizar com o inimigo a meio da luta, sem existência de cessar fogo, esperando que a sorte proteja os incautos. 

Um comandante em condições não pede aos seus generais que lhe resolvam os problemas, mas retira-lhes as armas e decide contra as suas indicações. 

A ministra da saúde queria outro tipo de confinamento, mas Costa, o génio do Natal 2020 mais liberal da europa, acha que ele é que sabe e portanto siga para bingo: escolas abertas, supermercados abertos, futebol de primeira liga na televisão, eleições na data prevista, como se a saúde dos portugueses dependesse da reeleição de Marcelo em 24 de Janeiro.

"Ah, e tal a constituição não permite alterar a data sem revisão constitucional". 

E a constituição permite que uma ministra da saúde tenha de ordenar a suspensão de cirurgias programadas de prioridade normal ou prioritária? Deve permitir!

 Desde o início da pandemia que os médicos já têm de escolher quem morre. E morrem quase todos aqueles que precisam urgentemente de um médico e dos serviços de um hospital, mas não são doentes COVID. Ainda há dois dias morreram 500, em 24 horas. 

Mas sobre isto o génio do Costa nada disse. Não se lembrou. O importante é garantir as aprendizagem dos petizes, que não podem perder as aulas presenciais. 

Morreram 500 pessoas não-Covid no dia 11 de Janeiro de 2021? Olha, azar, ou como diria Estaline, "-500 mortes, num só dia? Isso é uma estatística. Se fosse uma só morte, seria obviamente uma tragédia, porque a vida humana não tem preço!" E dizendo isto, verteu uma lágrima

Gabriel Vilas Boas

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

ESCOLAS NÃO FECHAM: OS ALUNOS SÃO DE BAIXO RISCO E OS PROFESSORES NÃO CONTAM

Quando ouço a argumentação hipócrita para não fechar as escolas, apesar de termos uma taxa de transmissibilidade altíssima, a tal ponto que há o real perigo do Sistema Nacional de Saúde colapsar brevemente, fico sempre com a ideia que, para muita gente, os professores e os auxiliares de educação não são pessoas.

A pandemia traz muitos constrangimentos e sofrimentos à vida das pessoas. Algumas delas deixaram de ter dinheiro suficiente para comprar comida, outras estão em risco que isso aconteça dentro de poucas semanas e muitas vivam da caridade de familiares e amigos. No entanto, a defesa da vida impõe-se mesmo a este estado de necessidade.

Quando há um confinamento geral do país, todos sofrem muitíssimo, mas é um preço a pagar para salvar vidas. O raciocínio parece não ser válido para as escolas, onde o facto da classe docente ser envelhecida não é tido em conta.


É verdade que os alunos são jovens e estes têm uma baixa taxa de contágio. Mas isso continua válido com a nova estirpe do vírus? O que têm a dizer os cientistas sobre isso? E sobre o risco de contágio dos adultos que trabalham nas escolas?


Quando se pensa nos lares e na perigosidade que eles representam não se pensa apenas nos idosos, mas também na restante população que lá trabalha, de tal modo que serão esses trabalhadores dos primeiros a receber a nova vacina. O mesmo não se aplica aos professores e funcionários da escola.

É certo que os jovens resistem bem melhor ao vírus que os adultos, mas não deixam de ser um veículo de transmissão privilegiado, pois todos os dias apanham autocarros, convivem, fazem atividades de grupo.

Com o confinamento das escolas, as aprendizagens perdem valor, como perde valor e rendimento o comerciante, o dono da oficina, um empresário da restauração.

Além do problema psicológico que muitos governantes têm com o facto de verem os professores em casa, mesmo que isso seja comum a grande parte da população, a verdadeira questão é económica e de falta planeamento.

O governo não manda os alunos para casa porque tem de pagar a muitos dos seus encarregados de educação para ficar com eles. Além disso, os famosos computadores com internet móvel (prometidos desde Março de 2020) continuam, na sua grande maioria, por entregar.


Dez meses sem colocar um computador, com internet nas mãos dos alunos carenciados, é muito tempo. É falta de planeamento e organização. E não devem ser as vidas dos professores que devem pagar a má preparação do ministério da educação.

Um país solidário não encolhia os ombros perante esta ideia governamental de deixar as escolas de fora do confinamento. E Portugal preciso de ser solidário, exigente consigo, assertivo e comprometido. Tudo coisas que faltam, infelizmente, ao governo de Portugal.

Gabriel Vilas Boas

domingo, 10 de janeiro de 2021

TODA A ADMIRAÇÃO É UM ATO DE AMOR

 


Muitas vezes, temos dificuldade em perceber por que razão os relacionamentos se desmoronam tão facilmente. Egoísmo, falta de respeito, rotina, aparecimento de outra pessoa. No entanto, poucas vezes, nos perguntamos o que faltou desde o início. Um sentimento muitas vezes ausente: ADMIRAÇÃO.

A admiração é o cimento invisível que estrutura e fortifica o relacionamento. A admiração é o fermento que faz crescer o relação, seja ela de que ordem for: amorosa, amizade ou meramente profissional. 

Não são raras as vezes em que o outro nos dá motivos para admirá-lo, mas estamos constantemente distraídos... connosco.

Admirar o outro é um ato de humildade e de amor. E as relações precisam de atos categóricos, de preferência.

A química, a que muitos aludem como essencial para o triunfo de uma relação, tem uma fórmula oculta que transcende a sensualidade e se entranha no quotidiano. A admiração é um dos elementos fundamentais dessa equação. 

Convém, no entanto, não esquecer o quanto a admiração é exigente. Antes de mais, tem de ser espontânea e sincera. Depois,  não devemos confundi-la com submissão, porque isso tornará a relação desequilibrada e com tendência para a toxicidade. 

Gosto da admiração que se afirma, sem exibicionismo nem vergonha. Uma admiração que percebe o papel que tem e sabe que há momentos em que tem de assumir protagonismo. Em público e em privado, pois há alturas em que o outro precisa que lhe expliquemos por que o amamos, além do porque sim.

Gabriel Vilas Boas     


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

MATRIMÓNIO: UM ALERTA


 De todas as burlas do mundo moderno, a mais perigosa é o casamento. 

O e-mail do príncipe da Nigéria engana pouca gente e a polícia avisa constantemente para as páginas falsas que pedem dados bancários para roubar o nosso dinheiro. Mas a prevenção contra o casamento é quase inexistente. E, no entanto, a conspiração é complexa e global. 

Quem casa as pessoas são os padres - que, convenientemente, não são casados e, por isso, não sabem o que o casamento é. Se fossem casados, seria muito improvável que pudessem celebrar casamento e, ao mesmo tempo, respeitar a regra de ouro: não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti. Normalmente, os padres são entusiastas do casamento. É o mesmo que ser instrutor de para-quedismos sem nunca ter postos os pés num avião. Primeiro, vá saltar, experimente o terror, a aflição, a sensação de passar a vida inteira sem poder conviver intimamente com outras para-quedistas apetitosas (talvez esta não seja a melhor metáfora), e depois venha fazer campanha a favor do para-quedismo. 

Um dos problemas do casamento é a impossibilidade de cumprir a promessa que nos pedem para fazer no altar: jurar amar esta pessoa para sempre.

A questão não é essa. Formulada assim, faz parte do logro. Até posso estar convencido de que vou amar esta pessoa para sempre. O problema é que esta pessoa não vai ser esta pessoa para sempre. A pessoa com quem nos casámos há vinte anos é muito diferente agora. Há fotografias que o documentam. E não é só a aparência, é o resto também. Mudou de gostos, de ideias, até de carácter. Já não é a mesma pessoa. Ou seja, vinte anos depois, estamos a cometer adultério (esta é a parte positiva; adultério é excitante). Mas, na verdade, com a mesma pessoa (essa é a parte negativa; o adultério é muito mais compensador se não for praticado com o cônjuge).

O que acontece é que casamos com o navio de Teseu. Conhece esse paradoxo? Para preservar o navio, vamos substituindo as partes degradadas por outras. Pomos um convés novo, mudamos os remos, trocamos os mastros. A certa altura, nenhuma das peças iniciais do navio de Teseu subsiste. Mas continuamos a chamar-lhe «o navio de Teseu». Será que podemos? Há vários perspetivas. A minha é: talvez não, porque o navio de hoje já nada tem a ver com o que conhecemos no início. A da minha mulher é: cala-te e vai lavar a loiça. E é capaz de ter razão, porque a verdade é que quando a conheci já era um bocado desagradável. 

Ricardo Araújo Pereira, in Idiotas Úteis E Inúteis

sábado, 2 de janeiro de 2021

DONA LEONOR TELES, A PRIMEIRA NÓDOA NEGRA NA HISTÓRIA DE PORTUGAL


Le
onor Teles é provavelmente a rainha mais odiosa da História de Portugal. Os portugueses quase sempre a detestaram e tiveram boas razões para isso. 

Leonor Teles fartou-se de trair o marido, de o deixar mal perante o seu povo, acabando por se mostrar uma mulher vingativa e despeitada. 
Desde começo que a amada de D. Fernando não gozava de grande reputação entre os portugueses e a maneira como se une ao rei, num casamento quase às escondidas, deixa um indício claro como o casal real tinha a perfeita noção que o enlace não era abençoado pelos súbditos. 

A má impressão que Leonor sempre causou ao povo veio a confirmar-se aquando da morte do marido, pois a rainha com muita sorte tomou, interinamente, o comando da nação e não se coibiu de assumir publicamente anos de adultério com o conde galego João Fernandes Andeiro. 

Aquela traição ao marido era uma traição à pátria e foi assim que a população a sentiu, por isso matar o amante reles da rainha era um ponto de honra. 

Foi nesse momento que todos os maus sentimentos da aleivosa transbordaram. Ela pediu ao genro, o rei de Castela, que invadisse território português e tornasse Portugal uma joia da coroa castelhana. 

A crise de 1383-85 havia de terminar, como todos o sabemos, com uma extraordinária e memorável vitória portuguesa ao quadrado, sobre Castela, em Aljubarrota, assinalando um dos momentos de maior orgulho nacional, ao longo da História de Portugal. 

Apesar de a História se escrever primordialmente de heróis, como o foram os bastardos Nuno Álvares Pereira e o Mestre de Avis (futuro D. João I), é importante vincar que esse heroísmo começou na fraqueza de um rei e na vilania de uma mulher sem escrúpulos, honra e dignidade. Uma verdadeira vilã da História de Portugal, que fez perigar, em dois anos, dois séculos de suada independência face a um vizinho incómodo. 

Leonor Teles foi a primeira nódoa negra na história da realeza portuguesa, mas não serviu de lição, porque duzentos anos mais tarde, Portugal havia de perder mesmo a independência, num longo inverno de humilhações e delapidações que nunca mais nos deixaram ser verdadeiramente grandes.