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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

DIANA - O ADEUS TRÁGICO DA PRINCESA DO POVO

As princesas não morrem! As princesas vivem contos de fadas: casam com o príncipe perfeito, são invejadas e adoradas e constituem a esperança de um povo. Personificam a beleza e o bem, a discrição e a candura.
Diana podia ter sido isto tudo, mas não foi. A princesa que o povo amava, talvez porque era de carne e osso como ele, entrou a alta velocidade no túnel da morte e de lá já não saiu com vida.
Quando a recém-divorciada princesa de Gales morreu em Paris, num acidente de viação às primeiras horas do dia 31 de agosto de 1997, o primeiro-ministro britânico Tony Blair foi o primeiro a resumir os sentimentos de uma nação em choque com a perda da «sua» princesa. Eles iriam revelar-se nos dias seguintes com um força descomunal, em diversas manifestações de pesar pela morte de Diana. Ao contrário da rainha, o povo mostrava que a pureza do coração vence qualquer convenção e protocolo.

Na morte como tantas vezes durante a vida, Diana parecia personificar a relação mal resolvida de uma realeza tradicional, perdida no seu labirinto de regras absurdas.
O discurso de Tony Blair deu o tom ao sentimento popular de uma nação que amava a princesa que com ela mais se personificava.


«Hoje sinto-me como toda a gente neste país. Estou complemente devastado. Os nossos pensamentos e orações estão com a família da princesa Diana, sobretudo com os seus dois filhos. A nossa ternura vai para eles.
Somos hoje um país em estado de choque, de luto, por um desgosto que é tão profundamente doloroso para nós. Ela era um ser humano maravilhoso e terno, apesar de a sua própria vida ter sido frequentemente afetada pela tragédia. Ela influenciou a vida de tantos outros na Grã-Bretanha e no mundo com alegria e conforto.

Quantas vezes a recordaremos de muitas maneiras diferentes – com os doentes, os moribundos, com as crianças, com os necessitados? Com um simples olhar ou gesto que dizia muito mais que as palavras, ela revelava a todos nós a profundidade da sua compaixão e humanidade.
Tenho a certeza de que mal imaginamos como as coisas foram difíceis para ela de vez em quando. Mas as pessoas em toda a parte, não só aqui na Grã-Bretanha, confiavam na princesa Diana. Gostavam dela, amavam-na, consideravam que fazia parte do povo.
Ela foi a Princesa do Povo e assim será, assim ficará no nosso coração e na nossa memória para sempre.»
Tony Blair

  

domingo, 30 de agosto de 2015

O PÁTIO DAS CANTIGAS - REMAKE 2015


Estava decidido a não ver o filme. Resisti durante um mês, na esperança que fossem com a cantiga para outro lado, mas semana após semana as salas enchiam-se e o remake do mais famosa comédia do cinema português ia atingindo números assombrosos na bilheteira. Ao final de 24 dias já era o filme mais visto de sempre com 392 000 espectadores. Um autêntico Crime Amar(g)o. Por esta altura deve ter ultrapassado a barreira do meio milhão. Acho que nem nos seus melhores sonhos, realizador e atores desta versão moderna do Pátio das Cantigas pensaram em tal êxito.

Já livre de ter contribuído para tão inesperado recorde de bilheteira, fui ver o filme, para perceber o fenómeno. A crítica tinha razão, o filme é fraco, mas quem o vê percebe o porquê de ter apanhado o ponto fraco dos portugueses.
Trata-se de uma comédia, feita com alguns bons atores e outras figuras televisivas, que nos fazem rir e sorrir com as piadas que estamos habituados a dizer e a ouvir no nosso dia-a-dia. Não há grande arte, mas uma clara identificação com um certo estilo de comédia televisiva, estilo sitcom, a que nos habituámos na última década. A isto junta-se o facto de não estarmos habituados a ver cinema falado em português e agosto ser um mês morno quanto a grandes filmes nas salas portuguesas.

Mas isso não chega para assumir que estamos perante um filme com qualidade. Miguel Guilherme tem um desempenho razoável, mas tentar fazer de António Silva é demasiada ousadia para a sua qualidade. Só por piada é que podemos querer fazer qualquer comparação entre César Mourão e Vasco Santana.
Este “Pátio das Cantigas” vive de graçolas menores, situações apalhaçadas, um humor de segunda, que esquece os melhores atores que tem ao seu dispor (Manuel Cavaco é um ausente presente) e não tem uma cena, uma piada que nos fique na memória, como aconteceu na versão original de 1942.
O final é de todo surpreendente, mas não me parece uma solução feliz. Numa espécie de “dessincronização” com o resto do filme, Leonel Vieira opta por um remate com um número de musical de Bollywood que não tem nada que ver com a cultura portuguesa de que o Pátio das Cantigas era um límpido símbolo.
Talvez Lisboa já seja mais o multiculturalismo que aquela aldeia grande que transparecia no filme de Ribeirinho, mas, se o realizador queria mostrar essa capital das lojas gourmet e das “Tuk Tuk” para turista, escusava de golpear assim a memória de um dos melhores filmes da história do cinema português. E ao que parece vai continuar, pois já está anunciado um remake de “Leão da Estrela” pelo mesmo realizador… Ainda estou para ver quem serão os cinco violinos do Sporting!
Uma vez, uma pessoa ainda vai na cantiga, mas duas…
Gabriel Vilas Boas


sábado, 29 de agosto de 2015

MUSEU DO BACALHAU

“É verdade que existem tesouros no fundo do mar, mas é mais provável encontrá-los no fundo de uma pessoa.” Afonso Cruz
Além do farol da praia da Barra, o concelho de Ílhavo possui outro ponto turístico e cultural muito interessante: O Museu Marítimo.
Com quase 80 anos de história, o Museu Marítimo de Ílhavo, é uma homenagem às suas gentes e à atividade a que muitos ilhavenses consagraram a sua vida: a pesca do bacalhau.

O moderno museu é um local bem desenhado, amplo e adaptado às pessoas com mobilidade reduzida. É um espaço que combina corretamente informação inscrita, audiovisual e falada (é possível marcar uma visita guiada sem que isso altere o custo) com a exposição de objetos, embarcações de grande porte, materiais de navegação e orientação, miniaturas de embarcações, conchas, num crescendo de interesse para o visitante, que culmina no muito apreciado aquário dos bacalhaus.
Estes parecem colaborar com os desejos dos visitantes, nadando com estilo para a fotografia e assomando à superfície para um “olá” surpreendente e fofo.
O elemento central do museu é o bacalhau. Como diria Alexandre Dumas, ele é “o peixe dos peixes. Símbolo de fortuna e prosperidade, de abundância e escassez. Ecologia e negócio. Alimento e cultura. Realidade e lenda.”

Antes de o vermos ao vivo temos de aprender a chamar por ele em diversas línguas (Bacalao, Morue, Tpecka, , Kabejaw, Codfish, Bakalaós,Treska obecná), conhecer as zonas onde vivem, saber os tipos de bacalhau que existem, desfazer dúvidas e mitos sobre o fiel amigo.
O peixe que os portugueses mais gostam de ver no prato  começou por ser pescado à linha, com dóris de um só homem. São essas pequenas e frágeis embarcações que começamos por encontrar no veleiro “faina Maior”, para percebermos a dureza e o perigo que os primeiros pescadores de bacalhau passaram para sustentar as suas famílias.
Aqueles que ficavam por cá tentavam o sustento na ria. São as embarcações usadas nesse espaço que encontrei na segunda sala. Imponentes moliceiros, com altos mastros, eram usados para a recolha do sal, nas famosas salinas da ria.
Apesar de centrado nas suas gentes e na pesca do bacalhau, o Museu Marítimo de Ílhavo não esquece de “explicar” os outros barcos de pesca existentes em Portugal ao mesmo tempo que revela a enorme beleza da fauna e flora marítimas quando entramos, por exemplo, na sala das conchas.
Visitar o Museu Marítimo, em Ílhavo, é um prazer multissensorial e faz mergulhar a nossa imaginação na incomensurável beleza, riqueza e mistério do mar.
Gabriel Vilas Boas


sexta-feira, 28 de agosto de 2015

CASAS TUDOR


Em Inglaterra, no final do século XV e início do século XVI, os Tudor mudaram a forma como se construíam as casas até então.
As casas Tudor eram construídas em madeira, que ficava parcialmente à vista. Mas antes de se montar a estrutura em madeira, eram construídos os alicerces em pedra, ladeados por um estribo sobrelevado no qual havia de encaixar as estruturas de madeira.

A estrutura original era içada e depois usada como plataforma de elevação para puxar a estrutura seguinte com cordas.
A madeira usada nas casas Tudor era o carvalho, uma madeira muito comum em Inglaterra nos séculos XV e XVI, resistente e fácil de cortar. Cortadas pelas mãos dos carpinteiros, as traves eram bastante irregulares e conduziam a um acabamento assimétrico.
Seguidamente era montada a chaminé, o que para a época foi algo de revolucionário. Substituindo o sistema de salão medieval para dispersar o fumo, as casas Tudor introduziram  chaminés e lareiras fechadas para canalizar o fumo para fora do edifício, permitindo que as divisões para pequenas fossem aquecidas.

Ainda nesta fase de construção, o primeiro piso era assoalhado e as escadas montadas, ainda e sempre em madeira.
Colocados a estrutura, o soalho e a chaminé, havia que preencher os espaços entre as estruturas de madeira. Os ingleses usaram gradeados de vime, que preenchiam com um revestimento à base de terra para proteger as suas casas contra a água e o vento. O revestimento (uma forma primitiva do estuque) era uma mistura de terra molhada, areia, argila, palha e excremento. 
Feitas as paredes, passava-se ao telhado. O edifício era coberto com telhado em colmo ou em telhas toscos. Ao mesmo tempo eram postas as janelas. A criação do vidro no tempo dos Tudor era ainda primitiva. Os artífices não conseguiam criar grandes painéis e por isso as janelas destas casas eram compostas por painéis pequenos, unidos e fixados por um gradeado de ferro num caixilho alto e fino. Devido ao peso combinado do vidro espesso e da grade de ferro era necessário uma viga de madeira dedicada que os suportasse.
Por fim, fazia-se as ornamentações externas, o que devido à influência do período renascentista que estalava por toda a europa conduzia a grandes alterações em decorações, entalhes, portas e caixilhos de janelas. Um exemplo destas alterações pode ser visto nas janelas oriel (janelas multilaterais projetadas do primeiro ou do segundo piso do edifício).
Outro dado curioso destas casas Tudor é que o revestimento das paredes tendia a ser coberto com um pigmento ocre, enquanto as vigas de madeira permaneciam expostas.
As características traves negras e argamassa caiada não eram propriamente comuns durante o período Tudor, mas consequência da romantização vitoriana da era Tudor no final do século XIX, com muitas casas tradicionais a serem repintadas para lhes dar o efeito que hoje costumamos ver.
Na Grã-Bretanha, a maioria das grandes casas Tudor originais pertencem à National Trust, uma entidade dedicada à manutenção da qualidade das estruturas.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

UMA AVENTURA NO FAROL




Há anos que tinha o objetivo de visitar um farol, mas as várias tentativas que fiz foram-se frustrando, pois os faroleiros só abrem as portas da sua fortaleza durante umas horas por mês. Durante o verão, uma vez por semana…

Quando cheguei à praia da Barra, em Ílhavo, deparei-me com uma fila com mais de uma centena de pessoas e a incerteza quanto à realização da visita. Decidi esperar e ao fim de uma hora estava pronto para iniciar a subida dos 271 degraus (depois ainda havia mais duas pequenas mas íngremes escadas de ferro) até ao topo do segundo maior farol da península ibérica e um dos vinte e cinco mais altos do mundo.
Quando foi inaugurado (15-10-1893), o farol da Barra estava entre os seis mais altos faróis do planeta construídos em alvenaria, no entanto só meio século mais tarde passou a ser eletrificado.


Um dado curioso que aprendi, ontem, com o faroleiro é que todos os faróis são diferentes entre si. Quem avista do alto mar um farol sabe perfeitamente de que farol se trata pela pintura exterior e, sobretudo, pelo número de fachos luminosos brancos que emite, conjugado com o intervalo de tempo em que a sequência se efetua. O farol da Barra emite quatro fachos luminosos brancos consecutivos a que se segue um período de ausência de luminosidade. Este processo demora treze segundos e repete-se ininterruptamente desde que a luz do farol se acende até que se apaga, ou seja, desde que o sol se põe até à alvorada.
Quando cheguei ao topo, pude confirmar toda a beleza e imponência da vista sobre a luminosa ria de Aveiro, sobre a cidade dos ovos-moles, ao longe, e, especialmente, sobre o longínquo horizonte atlântico, donde chegava um navio de carga e para onde outro partia.

Em condições ótimas de visibilidade, o farol pode ser avistado a cerca de 23 milhas náuticas, ou seja, 42,5 quilómetros! Impressionante.
Demorei alguns minutos a saborear a vento que penetrava no meu corpo, misturado com o calor saboroso dum sol com sono. Por momentos, imaginei a solidão e a lonjura do grande oceano, que em noites escuras e tempestuosas se transformam em terrível medo, que só a luz angelical dum farol consegue sossegar.
Gabriel Vilas Boas



quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O MUSEU DOS COCHES


O Museu dos Coches é a imagem viva de todo o glamour da realeza portuguesa dos séculos XVII, XVIII e XIX.
Há mais de um século, a última rainha portuguesa teve a feliz ideia de juntar e mostrar toda a coleção de coches, berlindas, seges, carros de gala, carros de passeio, liteiras e cadeirinhas que simbolizavam o chique, o luxo e a ostentação, em que viviam reis, rainhas, príncipes e princesas.
Inaugurado há três meses, o novo Museu dos Coches é um espaço amplo e moderno, onde os quadros dos reis e rainhas da última dinastia portuguesa foram substituídos por paredes brancas, rasgadas por janelas retangulares, que iluminam o espaço com a magnífica luz de Lisboa. Apesar de toda a arte pictórica do antigo edifício, que emoldurava a extensão coleção, o atual Museu dos Coches é, indubitavelmente, mais atrativo pela luz que o Tejo traz, porque o branco em redor foca a nossa atenção nos coches e, sobretudo, porque tem ótimos guias, que durante 40/50 minutos fazem uma excelente abordagem histórica, social e artística de toda a coleção, doseando corretamente as informações generalistas, relevantes, técnicas ou simples curiosidades deliciosas.
A coleção começa com um dos coches mais antigos do mundo, ou seja, aquela que trouxe Filipe II de Madrid até Lisboa, em 1619; prossegue com as belíssimas berlindas do reinado de D. João V, onde a beleza, luxo, riqueza e ostentação estavam presentes desde o mais ínfimo pormenor até à imagem de conjunto. Entre os vários exemplares do museu destacam-se o coche que trouxe a princesa Maria Ana da Áustria (dote/presente de casamento) para o seu casamento com D. João V, onde não pude deixar de reparar no pormenor dos cupidos tentando atingir o leão, revelador da intenção da linda princesa em conquistar o coração do marido; os três coches (dos cinco) que D. João V fez rolar nas ruas de Roma, em 1716, na famosa embaixada ao papa Clemente XI, que brilham pela sua sumptuosidade e riqueza (só o restauro do menos valioso custou 300 mil euros).
Há ainda o famoso coche da mesa ou da troca das princesas, que levou a princesa Maria Bárbara de Bragança (filha de D. João V) até à ponte do rio Caia, em janeiro de 1729 para casar com o rei Fernando VI de Espanha e trouxe a princesa castelhana Mariana Vitória, já casada com o futuro rei D. José.
E já no fim da exposição, é impossível não reparar no landau onde o penúltimo rei de Portugal foi assassinado em 1 de fevereiro de 1908 e a monarquia ficou ferida de morte.
O Museu dos Coches é um excelente local onde podemos beber um pouco da História de Portugal e sentir o paladar da arte e do bom gosto.

Gabriel Vilas Boas













terça-feira, 25 de agosto de 2015

QUINTA DA BACALHÔA







Depois de duas semanas de férias ao sol, uma paragem nas margens do sábado desafia-me a subir a bela serra da Arrábida e a atravessá-la de devagar, usufruindo de recortes de natureza únicos.
Entretanto o carro seguiu viagem e só parou em Azeitão, diante da majestática, nobre e monumental Quinta da Bacalhôa, onde agora habita o senhor comendador Joe Berardo.
Não tinha planeado visitar este monumento nacional, que outrora pertenceu à Casa Real Portuguesa. Desde do século XV, o famoso Palácio da Bacalhôa teve proprietários ilustres como o filho de D. João I ou o primogénito de D. Afonso de Albuquerque. É da época dourada da História de Portugal que datam os lindíssimos azulejos que me deixaram de boca aberta assim como as janelas de estilo renascentista.

Todavia, antes da visita ao Palácio, comecei a visita (guiada) pelo Museu da Bacalhôa, onde Joe Berardo já deixou o seu cunho pessoal. Foi lá que pude ver uma excecional exposição sobre África, onde Berardo deixa perceber a sua ligação a África, lado a lado com outro sobre Art déco, que revela o lado de colecionar do comendador. No meio fica a imponente adega, cheia de centenas de barricas de alguns dos melhores vinhos portugueses: o excelente vinho da Bacalhôa estagia em barricas de carvalho francês lado a lado com o memorável moscatel de região. Estava aberto o apetite para uma prova de três vinhos, antes de seguir viagem até ao Palácio da Bacalhôa, onde os caseiros nos esperavam para uma visita guiada especial, pois já estávamos fora de horas.

A simpatia da senhora surpreendeu-me bastante. Com paciência e sapiência guiou-nos sala após sala do piso inferior do Palácio, onde as abóbadas ogivais nos lembram os cinco séculos do edifício e os azulejos recordam que o outrora Palácio dos Albuquerques tinha o justo estatuto de tesouro artístico de Portugal. Durante mais de uma hora percorri salas magníficas, um jardim trabalhado e decorado com o rigor de um geómetra, onde o nome da antiga proprietária Orlena Scoville estava inscrito e caminhei por entre as vinhas, onde Berardo e família fazem anualmente a sua vindima privada, numa festa imensa que celebra a vida, a amizade e o vinho. Ao que parece, no final, acabam todos na deslumbrante piscina do lago.

Eu, por mim, ficava ainda mais uns minutos sentado numa daquelas poltronas da casa da Justiça, que fica sobranceira sobre o lago, admirando a extensa vinha madura. Se lá tivesse um copo do saboroso tinto da Bacalhôa seria excecional…

Gabriel Vilas Boas  

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A ERUPÇÃO DO VESÚVIO


24 de agosto, 79 d.C.
A devastadora erupção do vulcão Vesúvio, que destruiu Pompeia, Herculano e outras cidades próximas, foi observada de perto pelo naturalista e comandante naval, Plínio, o Velho, que, quando ajudava os amigos a fugir, se tornou a vítima mais memorável da catástrofe natural. Quase trinta anos depois, o seu sobrinho e secretário, Plínio, o Moço, escreveu este relato numa carta ao historiador Tácito.

«Por volta da uma da tarde, a minha mãe quis que ele (Plínio, o Velho) observasse uma nuvem de tamanho e formato invulgar. Subia a uma grande altura, assemelhando-se a um pinheiro com um tronco muito alto e com ramos dispersos no cimo. Isto era ocasionado, imagino, pela súbita corrente de ar que o impelia, cuja força diminuía à medida que ele subia, ou porque a nuvem se expandia e subia com o seu próprio peso. Tinha pontos de luz e de sombra, consoante a quantidade de terras e cinzas.
Este fenómeno pareceu tão extraordinário a um homem de tal saber que ele ordenou que se aprontasse um navio leve. Mas recebeu uma mensagem de Rectina, mulher de Bassus; porque da villa dela no sopé do monte Vesúvio só era possível fugir para o mar.

Ele mudou de planos; ordenou que as galés fossem lançadas ao mar para acudir não só Reclina, como a outras pequenas cidades ao longo daquela bela costa. Enquanto outros fugiam, ele dirigiu-se para o perigo, com tal presença de espírito que conseguiu ditar o que observava sobre todos os fenómenos daquela cena assustadora. (…) Eles corriam o risco de serem sepultados pelo súbito recuo do mar e também por uma massa informe que rolava pela montanha e obstruía a costa. O timoneiro aconselhou-o a voltar mas Plínio respondeu: “A sorte protege os audazes; ruma a Stabiae, onde está Pomponianus.”»  


Nesse dia a bela Pompeia, cidade italiana situada perto de Nápoles, desapareceu assim como milhares de pessoas, entre as quais Plínio, o Velho. Quase dezassete séculos depois, um extraordinário arqueológico permitiu achar novamente Pompeia no exato estado em que o Vulcão a tapou. Depois de numerosas escavações foi possível devolver aos olhos humanas uma cidade do período dourado do Império Romano e que hoje é Património da Humanidade.

domingo, 23 de agosto de 2015

O QUE QUERES SER QUANDO FORES GRANDE?



Normalmente, isto queria dizer Que profissão gostarias de ter quando fores adulto? Cada um falaria dos seus gostos profissionais, tendo em conta as suas aptidões, o prazer que determinada tarefa lhe suscitaria e… o retorno financeiro dessa profissão. Nas últimas décadas secámos tanto e tão cedo os nossos sonhos que a maioria das respostas seria: “Aquela que me der mais dinheiro e fama!”.
No entanto, a famosa pergunta encerra outra questão, mais subtil, mas que também vale a pena discutir: O meu projeto de vida é a minha profissão?
“O que queres SER…?” tem que ser muito mais que uma profissão, porque somos Pessoa e o trabalho é só um instrumento e não um fim. Todavia, desde crianças somos condicionados a construir uma identidade através do trabalho. De uma maneira sub-reptícia ou declaradamente, procuram engavetar a nossa vida no espartilho de uma profissão, especialmente no caso de termos algumas qualidades profissionais que nos aconselham determinada opção.

O problema é que não estamos preparados para contrariar este paradigma na altura devida, porque, raramente ou só muito tarde, pensamos no que somos e no que queremos de nós, como um todo.
Quando a mecanização da ditadura do trabalho nos desumanizou, quase por completo, de tal maneira que deixou de haver amigos, percebemos, claramente, que não queríamos ser nada daquilo em que nos tornámos.
E então sofremos! Sofremos muitíssimo, porque nos dirão que a escolha foi nossa. E, na verdade, foi… e não foi, porque, neste mundo tão diverso e tão democrático, só havia uma escolha. Desde as primeiras conversas em família às opções escolares.

Ninguém pergunta na escola ou em casa: “Olha lá rapaz, que tipo de pessoa queres tu ser?” Se esta pergunta fosse feita a uma criança ou a um adolescente ou até a um jovem adulto, em 90% dos casos, o interlocutor gaguejaria, surpreendido.  
E há tanto para ser além do tradicional e esperado “Quero ser boa pessoa! Quero ser feliz!”
Quero ser tolerante, decidido, audaz, fraterno, simpático, paciente, trabalhador… E cada um poderia ir construindo a sua personalidade a partir dos seus valores de base. Seria uma escolha sua e consciente, onde a profissão se haveria de enquadrar, mas nunca impor.
Provavelmente evitaríamos interrogações angustiadas do género “Quem sou eu fora do trabalho?”, por volta dos quarenta. Saberíamos que somos o projeto de vida que quisemos ser, que não nos conhecem apenas pela profissão, porque o trabalho que exercemos é só o trabalho que exercemos.
Então as pessoas que cruzarem a nossa vida apreciarão as nossas qualidades profissionais, intelectuais e físicas do mesmo modo que valorizarão as nossas qualidades pessoais. Nessa altura seremos grandes, como estava destinado a ser, e seremos a Pessoa que quisemos ser.
Gabriel Vilas Boas



   

sábado, 22 de agosto de 2015

AMOR E SEXO, Rita Lee


Esta é a canção da cantora brasileira Rita Lee que mais gosto. O motivo é a extraordinária letra da composição. De uma maneira descontraída, simples e ao mesmo tempo bem certeira, a canção tenta definir amor e sexo.

Uma ideia que ressalta da letra (e não só…) é que sexo e amor são dois elementos fundamentais da felicidade humana, pois uma grande parte da humanidade elege o Amor (espiritual e físico) como fator decisivo da sua felicidade.
A ideia mais forte que a música desta compositora brasileira me transmite é a que amor e sexo não são antagónicos nem adversários, antes complementares. Em certos momentos, precisam desesperadamente um do outro. Sexo e amor podem viver separados, mas a verdade é que parecem que foram feitos um para o outro.
Um dos segredos da sincronia perfeita está em não desvalorizar um em detrimento do outro, como muitas vezes acontece em relação ao sexo.
Representantes superiores do espírito e do corpo, ambos são “coisas boas”. Amor e Sexo afirmam o ser humano enquanto relacional, e que faz da relação pedra angular da sua existência.
Numa letra cheia de metáforas incisivas, explicativas e iconográficas, gostaria de destacar esta quadra:
“Sexo vem dos outros
E vai embora
Amor vem de nós
E demora”  

Pois sugere que o amor começa sempre em nós, mas precisámos sempre do outro para o concretizar… fisicamente. Talvez o sexo seja rápido e fugaz, mas onde há amor ele demora-se.

Como a própria canção admite no final há uma eternidade de definições para este para romântico, por isso talvez não fosse má ideia ficarmos pelos sugestivos “Ah!...” e “Hum….”, porque, como anuncia Rita Lee na abertura da canção, por muita vontade que tenhamos em ler a lição do amor, ele pode ser uma questão de… sorte! 

Gabriel Vilas Boas

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

ESTÁTUA DA LIBERDADE


Um dos monumentos que mais admiro é a Estátua da Liberdade. Pelo que ela representa, pela importância que um povo como o americano dá à liberdade, pela imponência do edifício, pela ligação que a sua construção permitiu entre França e EUA, dois bastiões da Liberdade.
A Estátua da Liberdade, oficialmente intitulada “A Liberdade Iluminando o Mundo”, foi construída para comemorar o centenário da declaração de Independência dos EUA.
A sua construção ficou a cargo dos franceses que conceberam uma colossal escultura em bronze. Foi pedido a Gustave Eiffel, autor da célebre Torre Eiffel, que criasse um enorme pilone de ferro e um esqueleto de suporte. Embora permanecesse fixa à sua armação em aço, a estrutura poderia mover-se ao vento. E foi o que aconteceu: desde a sua criação já foram registados ventos na ordem do 80km/hora e sabe-se que a estátua consegue oscilar até 7,6 cm sob pressão.
O pedestal, em que assenta a Estátua, de arenito escocês, foi esculpido nos Estados Unidos. O pedestal é suportado por dois conjuntos de traves de ferro ligados a vigas de ferro que se prolongam até à própria estátua, criando uma ligação forte desde o solo.
Após este ter sido erigido, a estátua foi montada meticulosamente durante quatro meses, peça a peça, como se de uma construção da lego se tratasse. Foram enviadas de França 350 peças individuais, embaladas em 24 caixotes, que formariam a mais célebre monumento à Liberdade do universo.
Com uma altura de 46 metros e um peso de 204 toneladas, a Estátua da Liberdade atrai todos os anos milhões de turistas de todo o mundo que procuram conhecer as entranhas, a história e o simbolismo deste magnífico monumento.
Subindo os seus 354 degraus, chegamos à plataforma de observação, que se situa no topo da estátua e tem espaço para trinta pessoas. Este local fornece uma magnífica vista sobre a lha Liberty, através das 25 janelas da coroa.
Na sua mão direita a Liberdade exibe um facho. Não se trata já do facho original (que se encontra em exposição na entrada), pois em 1986 substituiu-se o antigo facho por um facho iluminado por grandes holofotes que projetam um reflexo assombroso no seu revestimento dourado. Na mão esquerda, a deusa da Liberdade tem a Placa da Lei, na qual está gravada o dia da Independência dos EUA (4-7-1776), em numeração romana.
A Estátua da Liberdade é um dos grandes símbolos dos Estados Unidos e do mundo ocidental, na medida em que elege a Liberdade como um bem essencial e não negociável, que todos devemos respeitar e defender.
Gabriel Vilas Boas