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domingo, 30 de agosto de 2015

O PÁTIO DAS CANTIGAS - REMAKE 2015


Estava decidido a não ver o filme. Resisti durante um mês, na esperança que fossem com a cantiga para outro lado, mas semana após semana as salas enchiam-se e o remake do mais famosa comédia do cinema português ia atingindo números assombrosos na bilheteira. Ao final de 24 dias já era o filme mais visto de sempre com 392 000 espectadores. Um autêntico Crime Amar(g)o. Por esta altura deve ter ultrapassado a barreira do meio milhão. Acho que nem nos seus melhores sonhos, realizador e atores desta versão moderna do Pátio das Cantigas pensaram em tal êxito.

Já livre de ter contribuído para tão inesperado recorde de bilheteira, fui ver o filme, para perceber o fenómeno. A crítica tinha razão, o filme é fraco, mas quem o vê percebe o porquê de ter apanhado o ponto fraco dos portugueses.
Trata-se de uma comédia, feita com alguns bons atores e outras figuras televisivas, que nos fazem rir e sorrir com as piadas que estamos habituados a dizer e a ouvir no nosso dia-a-dia. Não há grande arte, mas uma clara identificação com um certo estilo de comédia televisiva, estilo sitcom, a que nos habituámos na última década. A isto junta-se o facto de não estarmos habituados a ver cinema falado em português e agosto ser um mês morno quanto a grandes filmes nas salas portuguesas.

Mas isso não chega para assumir que estamos perante um filme com qualidade. Miguel Guilherme tem um desempenho razoável, mas tentar fazer de António Silva é demasiada ousadia para a sua qualidade. Só por piada é que podemos querer fazer qualquer comparação entre César Mourão e Vasco Santana.
Este “Pátio das Cantigas” vive de graçolas menores, situações apalhaçadas, um humor de segunda, que esquece os melhores atores que tem ao seu dispor (Manuel Cavaco é um ausente presente) e não tem uma cena, uma piada que nos fique na memória, como aconteceu na versão original de 1942.
O final é de todo surpreendente, mas não me parece uma solução feliz. Numa espécie de “dessincronização” com o resto do filme, Leonel Vieira opta por um remate com um número de musical de Bollywood que não tem nada que ver com a cultura portuguesa de que o Pátio das Cantigas era um límpido símbolo.
Talvez Lisboa já seja mais o multiculturalismo que aquela aldeia grande que transparecia no filme de Ribeirinho, mas, se o realizador queria mostrar essa capital das lojas gourmet e das “Tuk Tuk” para turista, escusava de golpear assim a memória de um dos melhores filmes da história do cinema português. E ao que parece vai continuar, pois já está anunciado um remake de “Leão da Estrela” pelo mesmo realizador… Ainda estou para ver quem serão os cinco violinos do Sporting!
Uma vez, uma pessoa ainda vai na cantiga, mas duas…
Gabriel Vilas Boas


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