Ontem, no auditório do IET de Amarante, os amarantinos tiveram o grato prazer de homenagear António Vitorino de Almeida. Maestro, compositor e pianista de excelência, Vitorino de Almeida é uma personalidade relevante na sociedade portuguesa, devido à maneira extraordinária como marcou a música erudita em Portugal nos últimos cinquenta anos.
Em boa hora a “Camerata das Artes” decidiu promover esta homenagem ao mais conhecido maestro português, inserida numa homenagem de excelentes concertos de piano, interpretados por jovens músicos, nos claustros da Câmara Municipal.
Depois de uma primeira parte repleta de discursos elogiosos dirigidos ao homenageado e de uma magnífica interpretação de três peças, pelo jovem pianista amarantino Delfim Carvalho, o maestro tomou conta do concerto. E foi muito bom ouvi-lo, porque António Vitorino de Almeida não é só um pianista fora de série como também um extraordinário conversador e um bom contador de histórias, que sabe manter qualquer plateia interessada. As suas conversas raramente sabem a monólogo e têm o condão de nos aproximar da música que tão bem toca, mesmo que até então tenhamos mantido com ela uma relação de indiferença.
Outra das virtudes do maestro Vitorino de Almeida é oxigenar o cérebro das suas plateias, promovendo a reflexão dos seus ouvintes, não apenas sobre a música clássica mas também sobre a cultura em geral. Ontem, a propósito dos múltiplos espaço culturais existentes no país, referiu: “saber o porquê? É fácil; agora, urge encontrar resposta ao para quê?”
Ao rebobinar as memórias do encontro com o maestro, aplico as mesmas questões levantadas por Vitorino de Almeida à homenagem de Amarante ao insigne compositor e pianista. Verifico, então, que o maestro tinha razão: é bem para fácil perceber o porquê da homenagem do que definir o para quê.
Mais problemático será encontrar a porta de saída para o para quê?, porque ele é o futuro. Curioso é ter sido um velho de 75 anos a alertar-nos para isso.
Uma homenagem não se pode extinguir no elogio e agradecimento do passado; ela tem o dever do provocar o futuro, abrindo o apetite aos mais novos para fazer igual ou melhor. A mais relevante homenagem que podemos fazer ao maestro é tornar a sua carreira ímpar fonte de inspiração para jovens músicos. E podemos fazer muito por eles: trazendo professores de eleição às suas vidas, promovendo os seus espetáculos, patrocinando os seus instrumentos, amparando as naturais dificuldades no desenvolvimentos das suas personalidades.
Nessa altura, saberemos não só o porquê mas também o para quê daqueles que fazem cultura.
Gabriel Vilas Boas
Sem comentários:
Enviar um comentário