Há cerca de 2400 anos,
Aristófanes, um comediógrafo grego, escreveu esta divertida comédia – Mulheres
no Parlamento – que pretendia parodiar a mais brilhante instituição da
democracia ateniense: a assembleia dos cidadãos.
As mulheres, por
instigação de uma entre elas (Praxágora), decidem disfarçar-se de homens e
assim comparecem na assembleia, onde convencem os homens a entregar-lhes o
governo da cidade. Os meios que usaram para assumir um aspeto masculino foram:
barbas postiças, vestirem roupas de homem; exercitarem e prepararem o corpo de
maneira a darem-se ares de… homens.
Tomado o poder, havia
que pôr o novo plano de governação em prática, que prometiam ser “mil vezes
melhor”. Praxágora assume-se como líder natural e dá ordens para que todos os
bens sejam depositados num fundo comum, de modo a que cada um se servisse em
partes iguais. Às mulheres competia a total reformulação das leis. As linhas
mestras da filosofia política defendida por Praxágora apontavam para uma teoria
comunitária de bens e mulheres! Não eram só os bens que eram comunitários, as
mulheres também.
E partiu esta ideia de uma mulher! Não deixa de ser curioso…
Só que a proposta tinha algo de sui generis: as mulheres mais velhas tinham
prioridade absoluta sobre as mais jovens quanto ao “usufruto” dos homens,
especialmente os mais jovens. Os homens não tinham voto na matéria, eram meros
objetos sexuais.
Aristófanes explora
muito esta vertente (até em demasia), o que acentua muito a vertente de comédia
da peça em detrimento do aspeto político.
A proposta política é
pouco sustentada e a ação centra-se bastante na astúcia feminina em garantir o
melhor sexo, mesmo na velhice.
Não deixa de ser
interessante verificar como os gregos há 2400 anos eram bem mais despidos de
preconceitos que a sociedade atual, o que nos remete para o papel essencial que
a Igreja Católica teve na definição da moralidade da sociedade ocidental.
Um aspeto intemporal
desta peça de Aristófanes é a inoperância dos homens para resolver os problemas
práticos do dia-a-dia. A isto acresce a ideia de que a política é mais retórica
que pragmática, o que a tornou desinteressante para a população feminina.
Elas estão mais
interessadas em resolver a sua vidinha, isto é, em garantir a sua dose de amor
gourmet até ao fim. E conseguem os seus intentos… com o beneplácito dos homens.
Ontem, como hoje, lá
vão governando o mundo e, sobretudo, governando-se.
Gabriel
Vilas Boas
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