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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

AS MULHERES NO PARLAMENTO, de Aristófanes


Há cerca de 2400 anos, Aristófanes, um comediógrafo grego, escreveu esta divertida comédia – Mulheres no Parlamento – que pretendia parodiar a mais brilhante instituição da democracia ateniense: a assembleia dos cidadãos.
As mulheres, por instigação de uma entre elas (Praxágora), decidem disfarçar-se de homens e assim comparecem na assembleia, onde convencem os homens a entregar-lhes o governo da cidade. Os meios que usaram para assumir um aspeto masculino foram: barbas postiças, vestirem roupas de homem; exercitarem e prepararem o corpo de maneira a darem-se ares de… homens.

Tomado o poder, havia que pôr o novo plano de governação em prática, que prometiam ser “mil vezes melhor”. Praxágora assume-se como líder natural e dá ordens para que todos os bens sejam depositados num fundo comum, de modo a que cada um se servisse em partes iguais. Às mulheres competia a total reformulação das leis. As linhas mestras da filosofia política defendida por Praxágora apontavam para uma teoria comunitária de bens e mulheres! Não eram só os bens que eram comunitários, as mulheres também. 
E partiu esta ideia de uma mulher! Não deixa de ser curioso… Só que a proposta tinha algo de sui generis: as mulheres mais velhas tinham prioridade absoluta sobre as mais jovens quanto ao “usufruto” dos homens, especialmente os mais jovens. Os homens não tinham voto na matéria, eram meros objetos sexuais.

Aristófanes explora muito esta vertente (até em demasia), o que acentua muito a vertente de comédia da peça em detrimento do aspeto político.
A proposta política é pouco sustentada e a ação centra-se bastante na astúcia feminina em garantir o melhor sexo, mesmo na velhice.

Não deixa de ser interessante verificar como os gregos há 2400 anos eram bem mais despidos de preconceitos que a sociedade atual, o que nos remete para o papel essencial que a Igreja Católica teve na definição da moralidade da sociedade ocidental.

Um aspeto intemporal desta peça de Aristófanes é a inoperância dos homens para resolver os problemas práticos do dia-a-dia. A isto acresce a ideia de que a política é mais retórica que pragmática, o que a tornou desinteressante para a população feminina.
Elas estão mais interessadas em resolver a sua vidinha, isto é, em garantir a sua dose de amor gourmet até ao fim. E conseguem os seus intentos… com o beneplácito dos homens.
Ontem, como hoje, lá vão governando o mundo e, sobretudo, governando-se.

Gabriel Vilas Boas

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