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sábado, 31 de julho de 2021

O ESTILO E O GLAMOUR DE UNS COMEÇA NA ESCRAVATURA E INDIGNIDADE DE OUTROS

 


O premiado cartoon de Vasco Gargalo é um murro certeiro na nossa noção de dignidade coletiva. Nele, o cartoonista português desenha uma mulher elegantemente vestido e ao seu lado uma pessoa de joelhos a costurar esse vestido extraordinariamente glamouroso,  debaixo de uma máquina de costurar com o mapa do mundo.

Mais importante que o prémio da OIT e da ONG "Recursos Humanos Sem Fronteiras" é todos refletirmos no mensagem do desenho. O trabalho é fundamental, mas a escravatura é desprezível. E nenhuma circunstância justifica que nos aproveitemos das condições precárias de um povo, de um género ou de uma classe social para obtermos a um custo estupidamente baixo da mão de obra de um produto refinado e caro.

No negócio há espaço para o lucro e para a dignidade do trabalho. Essa dignidade repercute-se essencialmente no modo como é pago e nas condições de trabalho de quem o executa. Não há estilo nenhum numa joia ou num vestido ou nuns sapatos feitos por mãos escravas, ainda que essa escravatura não seja oficial. 

O  trabalho é feito por pessoas e para as pessoas. Se no processo, alguém vê a sua dignidade pessoal e profissional comprometidas, então o consumidor final não pode lavar daí as mãos como Pilatos. É ele que têm o poder de não pactuar com a degradação do ser humano. Não é uma questão de preço nem de "não tenho a nada a ver com isso". Temos  todos a "ver com isso", porque a defesa da nossa dignidade começa na defesa e dignidade daqueles que são extramente pobres e muitas vezes precisam de trocar um pouco da sua dignidade por um prato de sopa.

Gabriel Vilas Boas

quinta-feira, 29 de julho de 2021

PERCEBI QUE SOU MAIS DO QUE AS MINHAS CONQUISTAS

 Simone Biles, um nome, uma
mulher, uma personalidade a memorizar. Provavelmente, a História apenas anotará os seus feitos enquanto tetra campeã olímpica de ginástica e, numa pequena nota de rodapé, fará referência ao modo inusitado com decidiu abandonar o palco. É isso que hoje é notícia, mas não será isso que ficará nos livros de recordes. Pouco importa. Todavia importa refletir nas palavras e nos atos de Simone Bailes na hora  do adeus.

Depois de tantas e tantas conquistas, feitas de modo categórico, Biles chegou aos jogos olímpicos de Tóquio 2020 (2021) e decidiu desistir da final de All-around (final individual) e da prova por equipas, por não se sentir bem mentalmente.

Não é de todo normal uma atleta de alta competição tomar uma atitude desta magnitude, o que não quer dizer que não haja vários atletas a enfrentar graves psicológicos e físicos, enquanto disputam grandes competições, mas que decidem esconder, por vergonha, pressão exterior, por sentir que  a hipótese de uma medalha, um diploma, uma participação honrosa valem todos os sacrifícios, por mito dolorosos que sejam.

N verdade não valem. E Simone Biles aproveitou os seus últimos momentos de fama mediática para chamar atenção para o problema, fazendo-se, também aqui, um exemplo a seguir.


Diz Biles:

«Assim que piso o praticável, sou e e a minha cabeça a lidarmos com demónios. (...) Tenho  de fazer o que é melhor para mim e focar-me na minha sanidade mental e não comprometer a minha saúde e o meu bem-estar.»  

A clareza de Simone Biles é uma lição que devemos aprender. Treinadores, dirigentes desportivos, apreciadores de desporto ou meros cidadãos que admiram orgulhosamente os melhores atletas de cada modalidade. Por muito talento e capacidade física, desportiva e psicológica que eles possam ter, são antes de mais pessoas. Há limites que nunca devem ser ultrapassados, ainda que tal seja possível. Admiramos as suas performances porque elas são feitas por PESSOAS, não por máquinas. Cada pessoa tem direito a definir os seus limites e ninguém tem o direito a pedir-lhe que os ultrapasse por causa de uma medalha, um título, um honra, pois esta será sempre efémera e sobretudo de muito menor valor que a saúde e a dignidade pessoal do atleta.

 No seu Twitter, Biles resumiu o essencial.

«A onda de amor e o apoio que recebi fizeram-me perceber que sou mais do que as minhas conquistas e de que a ginástica, o que nunca verdadeiramente acreditei antes.» 

segunda-feira, 26 de julho de 2021

A INVENÇÃO DA PÍLULA

 

Desde os seus primórdios que a humanidade procurou controlar todos os aspetos da sua vida, e a sexualidade nunca foi exceção. Embora houvesse métodos contracetivos, utilizando curvas, por exemplo, só no século XX irá surgir o método contracetivo por excelência, tão eficaz que a sua comercialização levou a uma revolução: pela primeira vez  as mulheres passavam a ter o controlo da sua sexualidade e, por inerência, da sua vida.

Pode-se traçar a origem da pílula no ano de 1951, quando Margaret Sanger e Gregory Pincus se encontraram, e Margaret convence Pincus a  criar um medicamento contracetivo. Margaret Sanger era uma defensora dos direitos das mulheres, uma percursora dos planos de «controlo da natalidade», já Gregory Pincus era uma endocrinologista com créditos firmados.



John Rock - Margaret Sanger - KhaterineMcCormick

No mesmo ano, Carl Djarassi, químico a exercer na cidade do México, sintetiza e cria a contraceção química, mas não tem meios para a produzir e comercializar. Quanto a Pincus, no ano seguinte, 1952, conjuga esforços com John Rock, ginecologista, para começar a testar a pilula em seres humanos. Os testes começaram em 1954, financiados por Khaterine McCormick,  milionária, bióloga e ativista, e o resultado é definitivo: a pílula funciona. Dois anos depois, são conduzidos testes em larga escala em Porto Rico, onde as leis anticontracetivas eram mais frouxas. Apesar dos muitos efeitos secundários registados a pílula continuava a funcionar. 


Inventada que estava a pílula, havia então que a aprovar para comercialização, o que se revelaria moroso, pois trata-se de um medicamento revolucionário. A primeira aprovação  dá-se em 1957, mas apenas para tratamento de dores menstruais; o seu uso para fins contracetivos teve de esperar por 1960. O Enovid foi aprovado nos EUA pela Food and Drug Administration (FDA), e, a partir daí, o êxito foi estrondoso: ao fim de dois anos já 1,2 milões de americanas tomavam a pílula; um ano depois já eram 2,3 milhões. Em 1965, eram 6,5 milhões. No entanto, a par do êxito, veio também a polémica: em vários estados norte-americanos, a pílula foi ilegalizada, o papa condenou-a. Contudo, e apesar das vozes contrárias, a pílula instalara-se, e o seu uso generalizou-se com os anos. 

Na minha opinião, a pílula constituiu-se como um elementos fundamental da emancipação das mulheres, permitindo o seu acesso ao emprego em igualdade de circunstância com o homem. A pílula contribui de maneira decisiva para a criação de uma sociedade mais justa.

domingo, 25 de julho de 2021

MENTIROSOS E HIPÓCRITAS SOMOS TODOS NÓS

 

Quem é que não se tem divertido com a revelação de algumas conversas íntimas do presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, que estão a ser divulgadas pelo jornal espanhol El Confidencial? Descontando o caso em que ele dá a entender que Pinto da Costa desviou para contas particulares na Suíça parte do dinheiro da transferência de Pepe para o Real Madrid, o que já foi prontamente esclarecido pelo próprio FC Porto e desmentido pelo próprio Pérez, e que terá sido só uma mau exemplo do que normalmente acontece, foi tudo cómico, acendendo sorrisos por todo o lado. Afinal, é sempre um prazer ver reacender os resquícios de sinceridade tremeluzindo no meio de tanta conveniente hipocrisia.


Diz Florentino Pérez que as suas declarações foram retiradas  do contexto. E em que contexto é que serão aceitáveis frases como «Figo é um filho da p...»? Melhoria seria que apelasse á nossa benevolência, pois, em última análise, todos somos Florentino Pérez, ou não vivêssemos num mundo que baniu a sinceridade da esfera pública, por só servir para gerar conflitos. Só na sua intimidade as pessoas podem entregar-se ao luxo da honestidade e da transparência e dizer o que realmente pensam dos outros. Em público estão obrigadas a colocar a máscara da hipocrisia e a debitarem mentiras convenientes. Verdades privadas, públicas mentiras. O que Florentino Pérez diz naquelas gravações de Figo, Mourinho e Ronaldo, por exemplo, é muito parecido com o que Figo, Mourinho e Ronaldo diziam dele quando chegavam a casa. Só que estes tiveram a sorte de não serem escutados por uma parede com ouvidos, e com um gravador incorporado. 


Quer dizer, não vale a pena esconder que mentirosos e hipócritas somos todos nós. Ou já não estaríamos vivos. Daí que, neste caso, a figura mais antipática acabe por ser o denunciante, que não respeitou esse supremo direito que nos assiste. Qual? O de sermos um bocadinho sinceros quando ninguém nos está a ouvir. Não é pedir muito, pois não?

Temos a sinceridade e a verdade em muito boa conta, mas no nosso trato quotidiano e público, elas presidem a uma ausência. Ou seria impossível a convivência (mais ou menos) pacífica. A mentira e a hipocrisia têm pior fama, mas são mais úteis no meio social, onde funcionam como amortecedores de conflitos e tensões. Graças a essa prática constante, a esse padrão, a capacidade de fingir do ser humano teve um desenvolvimento extraordinário. Ao ponto de a «máscara» (a palavra «hipocrisia» foi originalmente usada para qualificar atores que ocultavam a realidade por trás da máscara) se confundir com o rosto e já não ser possível separá-los. A nossa máscara é o nosso rosto, o nosso rosto é a nossa máscara. Já repararam nisto? E também que é cada vez mais difícil fazer certas distinções?


Cristiano Ronaldo é um imbecil e Mourinho é um anormal. Ambos têm um ego monstruoso e estão sempre com aquele ar de desafio que os torna insuportáveis. 

Isto é mentira, quer dizer, verdade. 

Cristiano Ronaldo é culto, inteligente, e Mourinho é uma simpatia. São ambos muito humildes e cultivam uma simplicidade que os torna cativantes.

Isto é verdade, quer dizer, mentira.

Álvaro Magalhães, escritor.

sábado, 24 de julho de 2021

DONA CARLOTA JOAQUINA, A RATAZANA


Tanto a Corte como o povo odiavam esta feiíssima, ninfomaníaca e intriguista princesa espanhola, mulher do pobre e fraco rei D. João VI. 
Razões não faltavam: Carlota Joaquina (1775-1830) traía o marido colecionando amantes, defendia os interesses do seu país natal em detrimento dos daquele de que era rainha, defendeu a causa do absolutismo contra o constitucionalismo, apoiando as revoltas “caceteiras” do seu filho D. Miguel, suspeita-se mesmo de que tenha envenenado o marido, que acusava de ser incapaz de governar. Não há dúvida de que Carlota Joaquina sonhava vir a tornar-se regente do nosso país, ao mesmo tempo que ambicionava a Coroa de Espanha.

No tempo em que a Corte portuguesa esteve sediada no Rio de Janeiro para evitar a abdicação face a Napoleão, a “Megera de Queluz” manobrou para vir a constituir para si própria um reino nas províncias espanholas da parte mais meridional da América do Sul. Aliás, no Brasil, “a Ratazana” é ainda mais odiada do que em Portugal: é voz corrente que detestava aquele país, e a cultura popular de além-Atlântico faz eco dessa convicção. Vejamos o que diz...

O ano de 1816 é o da morte, no Brasil, da rainha D. Maria I. Afastada dos negócios do Estado, vários anos antes, por loucura, fora, entretanto, substituída, no governo do reino, pelo seu filho, o regente D. João, agora el-Rei D. João VI. Foi nessa data que me tornei, em terras brasileiras, rainha consorte de Portugal. Para celebrar, encarreguei a baronesa Ardisson de me fazer, em Paris, umas compritas. (…). Joias, roupas, lingerie, sapatos, luvas, meias, cosméticos e acessórios (mais de 500 lenços de mão, por exemplo), calçado em seda bordada, meias da melhor seda transparente e leques de várias qualidades de marfim estão entre os artigos adquiridos junto dos melhores estilistas, joalheiros e retalhistas da moda parisiense. Posso ter ficado para a História como uma das grandes vilãs de Portugal, mas tinha bom gosto. (…)


Nunca pude adivinhar que a tenacidade de D. Pedro o levasse ao ponto de abandonar a sua terra adotiva, agora transformada em império, para regatear a sórdida porção europeia que teimava em reivindicar para a filha. Nunca pude adivinhar que Maria da Glória, numa digressão pela Europa, se tivesse tornado amiga de brincadeiras de bonecas da pré–adolescente da sua idade, e sua prima, Vitória, futura rainha Vitória, da Inglaterra. E nunca pude adivinhar – nem a isso assisti viva – que Pedro haveria de abdicar de duas Coroas, a de Portugal, a favor da filha, e a do Brasil, a favor do seu filho homónimo, para embarcar rumo à Europa, tornando-se um mero e errante duque de Bragança, sem terra nem trono, só para dirigir as tropas que haveriam, contra Miguel, de conduzir Maria da Glória ao trono. Maldito seja nos infernos! (…)
Os vencedores da História esquecem-se de contar que a grande maioria do povo, ferida no seu orgulho pela perda da grande colónia das Américas, estava com D. Miguel. Hoje, os seus detratores chamar-lhe-iam, sem dúvida nenhuma, um populista de extrema-direita…»

terça-feira, 20 de julho de 2021

OS PORTUGUESES FORAM ENSINANDO OS INGLESES A TER MANEIRAS E BOM GOSTO


 De tempos e a tempos, os portugueses gostam  de lembrar aos ingleses que o chá foi introduzidos em terras britânicas pela infanta dona Catarina de Bragança, filha do rei D. João IV, e esposa de Carlos II de Inglaterra. No entanto, a presença de Catarina deixou outras marcas de bom gosto e boas maneiras na corte inglesa, que os altivos ingleses teimam em ignorar.

Quando Catarina foi para Inglaterra, os portugueses já conheciam o chá, que haviam trazido da China, e foram os primeiros a comercializá-lo na europa. Assim, por ter o hábito de o tomar regularmente, a rainha D. Catarina inventou o "five o'clock tea", tal como introduziu o consumo da "marmelade"  (geleia de laranja amarga). Pela mão dos portugueses introduziu-se, igualmente, em Inglaterra o uso do tabaco e dos talheres, dois elementos fundamentais  de civilidade, boas maneiras e bom gosto, que os ingleses tanto gostam de exibir, sonegando, todavia, com quem os adquiriram.

A relação privilegiada entre Portugal e a Grã-Bretanha levou ainda a que uma importante classe mercantil inglesa se estabelecesse no Porto, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento da cidade. Um belo símbolo dessa relação é o edifício da Feitoria inglesa, contruído em 1790. O comércio na cidade portuense  beneficiou bastante com este entendimento entre os dois povos de tal modo que na primeira metade do século XVIII, cerca de 75% dos navios que ancoravam na cidade invicta eram ingleses e amiúde enchiam-se de cevada, arroz, centeio,  laticínios, carnes secas, bacalhau, além do famoso vinho do Porto, que depois eram levados para consumo dos britânicos.

Nem só de vinho e chá se fez a relação comercial entre Portugal e Inglaterra, embora tenha sempre faltado um pouco de chá, aos ingleses, para reconhecerem os factos.

Gabriel Vilas Boas  

segunda-feira, 19 de julho de 2021

ALVES DOS REIS, O PRIMEIRO GRANDE BURLÃO DA HISTÓRIA DE PORTUGAL



Agora a televisão está cheia de burlões de tantos milhões que até sorrimos com bonomia, quando nos lembram o primeiro de todos: ALVES DOS REIS.
No entanto, de quando em quando, a RTP encarrega-se de nos refrescar a memória acerca deste figurão inteligente e bem-falante, com uma série inspirada na sua vida e nas suas façanhas à margem da lei. 
A fama de Artur Virgílio Alves Reis (1898-1955) extravasa das fronteiras portuguesas, pois mais ninguém, que conste, conseguiu falsificar dinheiro verdadeiro…

Filho de um cangalheiro, embarcou jovem para Angola, onde se fez passar por engenheiro, falsificando um diploma de Oxford. Ali, enriqueceu comprando, com um cheque sem cobertura, a maioria das ações de uma companhia ferroviária. De regresso a Lisboa, adquiriu uma empresa de revenda de automóveis norte-americanos passando um cheque sem provisão que, depois, cobriu com os fundos da própria firma. Com o dinheiro restante, tentou adquirir uma empresa mineira de Angola, mas descobriu-se a fraude e ele lá foi fazer uma visita à cadeia. 
Defendendo-se bem, conseguiu ser libertado, após o que concebeu o plano de encomendar uma grande quantidade de notas de 500 escudos à própria casa impressora britânica que costumava imprimir o dinheiro português por encomenda do Banco de Portugal. Desta avalanche de dinheiro falso, que era “verdadeiro”, meteu ao bolso 25%, quantia com a qual fundou o Banco Angola e Metrópole, jogou fortemente na Bolsa, comprou um palácio e três quintas, tornou-se proprietário de uma empresa de táxis, encheu a mulher de joias e tentou apoderar-se do Diário de Notícias. O seu objetivo último era comprar o número de ações do Banco de Portugal (que, na altura, era semiprivado) necessário para poder abafar o escândalo das notas, na eventualidade de a maquinação ser descoberta.

Foi mesmo descoberta, e Alves dos Reis condenado a uma pesada pena de prisão. Seria libertado em 1945, com 47 anos, e morreria de ataque cardíaco, uma década mais tarde. Vamos dar-lhe a palavra.

«Meus senhores! Eu sou um honestíssimo empreendedor, cujos meios de fortuna nada ficam a dever aos grandes financeiros do vosso século. Parafraseando um posterior colega meu, que vós deveis conhecer bem, tudo o que fiz foi “para ajudar a banca nacional”. (…) Fiquei conhecido, sobretudo, pelo golpe das notas de 500 escudos, com a efígie de Vasco da Gama. De forma difamatória, fui acusado de falsificação. Mais do que um equívoco, tal acusação é uma fraude – e em fraudes, farão a justiça de reconhecer, serei eu uma autoridade. (…) 


Se eu alguma vez falsifiquei alguma coisa, essa coisa não foram notas de banco. Talvez umas assinaturas. Se calhar um ou outro documento oficial. E claro, com a tenra idade de 18 anos, um magnífico diploma de engenheiro, da própria Universidade de Oxford, uma das mecas do Ensino Universitário mundial, certificado pela prestigiadíssima Polytechnic School of Engineering – instituição, aliás, inexistente. Ora, mas quem nunca?…
(…) Se adquirisse as ações da empresa, mediante o pagamento com um cheque careca (…), poderia vendê-las a tempo de dotar a conta de provisão, ainda antes de ele ser descontado. (…) Se fosse no vosso século, teria pedido emprestado ao banco para comprar as ações, dando por garantia os próprios títulos. (…) É um esquema genial, reconheço, e tiro o meu chapéu aos que, depois de mim, inventaram este tipo de estratagemas…»

domingo, 18 de julho de 2021

NÃO QUEREMOS MIGALHAS

 Não há ideologia que resista à fome e à doença. Os cubanos estão sem medicamentos e sem alimentos e não apenas por causa do embargo dos ianques ou dos constrangimentos da Covid 19. Falta o essencial porque o governo comunista não permite (não permitia, pois agora permite mas em pequenas e isuficientes quantidades) que os cubanos trouxessem comida e medicamentos para dentro de Cuba.

Os cubanos perderam a paciência com um regime caduco, autista e egoísta; vieram para a rua, protestando contra a morte lenta de um povo que tem sede e fome de tudo,  a começar pela liberdade. 

Sente-se que, mais ano menos ano, o regime, corporizado pelos Castro cairá, pois é uma árvore seca, sem vida nem futuro, apenas atrapalhando o futuro de gerações de cubanos que têm de fugir da sua amada pátria para sobreviver. 

É dilacerante ver inúmeros cubanos chegarem a outros países, inclusive a Portugal, e pedirem a nacionalidade desses países,  como se estivessem zangados e desiludidos a sua pátria. Penso, por exemplo, no caso do atleta do triplo salto português, Pedro Pablo Pichardo, ou no tristemente malogrado andebolista Alfredo Quintana.

Não acho que tenham deixado de amar a terra onde nasceram, mas estavam fartos de mentiras, de vãs ilusões; tinham fome de liberdade e necessidade de comida. Precisavam de resgatar as suas vidas às mãos de uma ideologia que há muito deixou de fazer sentido. Cuba  é um velho general trôpego, perdido no seu labirinto de contradições tontarias. 

Ser revolucionário, hoje, em Cuba, é permitir que os cubanos escolham Cuba para viver e não sejam obrigado a permanecer em Cuba para morrer. 

Ironicamente, os cubanos cumprirão o desejo de Che Guevara - "HASTA  LA VITORIA, SIEMPRE!", derrotando aqueles que lhes prometeram a liberdade e a justiça e hoje os aprisionam num mundo que já não existe.

Como fazem sentido  nos dias de hoje as palavras de Diego El Cigala

"Y aunque tú
Me deseabas en el abandono
Y aunque tú
Han muerto mis ilusiones
En vez
De maldecirte con justo encono
En mis sueños te colmo
Y en mis sueños te colmo de bendiciones
Sufro la inmensa pena de tu extravío
Siento el dolor profundo de tu partida
Y lloro, sin que tú sepas que el llanto mío
Tiene lágrimas negras
Tiene lágrimas negras como mi vida"


sábado, 10 de julho de 2021

PRISÃO É PARA POBRE, RICO PAGA CAUÇÃO

Finalmente chegou a vez de Vieira. Ao contrário do que muitos pensavam, já nem o Benfica lhe valeu, exatamente porque o lesado era o Benfica. 


Vieira andou anos a enganar o novo Banco e, por consequência o erário público; 

Joe Berardo já nem se lembrava do tempo em que, com o beneplácito dos governos socialistas de Sócrates e Costa, pedira dinheiro à Caixa para tentar comprar o BCP, a mando dos amigos socialistas; 

Ricardo Salgado anda tão cansado que nem ao próprio julgamento se digna ir. Passaram longos anos sem que esta gente fosse sequer incomodada. 

Hoje têm todos mais de setenta anos. Prendê-los pareceria desumano e eles, obviamente, sabem disso, como sabiam todos aqueles que andaram anos a empastelar os processos, para que chegássemos a esta situação: só restar ,ao todo poderoso Carlos Alexandre, obrigá-los a pagar umas cauções de poucos milhões (uma espécie de trocos tendo em conta tudo aquilo de que são acusados de desviar ou roubar) e mandá-los para casa, onde aguardarão. pacientemente. que passem mais uns cinco a dez anos até que um outro juiz diga que têm de ir a tribunal por um quarto dos crimes que agora lhes são imputados.

 Provavelmente, quando esse julgamento pífio começar, alguns deles terão já perdido a convenientemente a memória dos factos e parecer-nos-ão velhos senis, prontos para morrer dali a pouco tempo.

Nenhum dos muitos milhões que desviaram para contas amigas será recuperado. No fundo, no fundo este dez milhões que Carlos Alexandre impôs a Vieira, José António dos Santos e Joe Berardo são uma espécie de esmola que os arguidos deixam aos contribuintes e nos fazem parecer ainda mais tolos.

Daqui a alguns meses, quando Vieira tiver mesmo saído de cena, não serão apenas os benfiquistas o alvo da chacota popular, mas todos os contribuintes portugueses,  a quem Vieira, Berardo, e Salgado tiveram a lata de sugar e gozar.

Esta justiça  mediática é o novo pão e circo, com que os tolos são enganados, roubados e, no fim, batem palmas. 

Precisamos de muito mais do que cauções ou prisões domiciliárias. Precisamos de impedir o crime, criando regras preventivas muito mais rígidas.  

Gabriel Vilas Boas