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sábado, 24 de julho de 2021

DONA CARLOTA JOAQUINA, A RATAZANA


Tanto a Corte como o povo odiavam esta feiíssima, ninfomaníaca e intriguista princesa espanhola, mulher do pobre e fraco rei D. João VI. 
Razões não faltavam: Carlota Joaquina (1775-1830) traía o marido colecionando amantes, defendia os interesses do seu país natal em detrimento dos daquele de que era rainha, defendeu a causa do absolutismo contra o constitucionalismo, apoiando as revoltas “caceteiras” do seu filho D. Miguel, suspeita-se mesmo de que tenha envenenado o marido, que acusava de ser incapaz de governar. Não há dúvida de que Carlota Joaquina sonhava vir a tornar-se regente do nosso país, ao mesmo tempo que ambicionava a Coroa de Espanha.

No tempo em que a Corte portuguesa esteve sediada no Rio de Janeiro para evitar a abdicação face a Napoleão, a “Megera de Queluz” manobrou para vir a constituir para si própria um reino nas províncias espanholas da parte mais meridional da América do Sul. Aliás, no Brasil, “a Ratazana” é ainda mais odiada do que em Portugal: é voz corrente que detestava aquele país, e a cultura popular de além-Atlântico faz eco dessa convicção. Vejamos o que diz...

O ano de 1816 é o da morte, no Brasil, da rainha D. Maria I. Afastada dos negócios do Estado, vários anos antes, por loucura, fora, entretanto, substituída, no governo do reino, pelo seu filho, o regente D. João, agora el-Rei D. João VI. Foi nessa data que me tornei, em terras brasileiras, rainha consorte de Portugal. Para celebrar, encarreguei a baronesa Ardisson de me fazer, em Paris, umas compritas. (…). Joias, roupas, lingerie, sapatos, luvas, meias, cosméticos e acessórios (mais de 500 lenços de mão, por exemplo), calçado em seda bordada, meias da melhor seda transparente e leques de várias qualidades de marfim estão entre os artigos adquiridos junto dos melhores estilistas, joalheiros e retalhistas da moda parisiense. Posso ter ficado para a História como uma das grandes vilãs de Portugal, mas tinha bom gosto. (…)


Nunca pude adivinhar que a tenacidade de D. Pedro o levasse ao ponto de abandonar a sua terra adotiva, agora transformada em império, para regatear a sórdida porção europeia que teimava em reivindicar para a filha. Nunca pude adivinhar que Maria da Glória, numa digressão pela Europa, se tivesse tornado amiga de brincadeiras de bonecas da pré–adolescente da sua idade, e sua prima, Vitória, futura rainha Vitória, da Inglaterra. E nunca pude adivinhar – nem a isso assisti viva – que Pedro haveria de abdicar de duas Coroas, a de Portugal, a favor da filha, e a do Brasil, a favor do seu filho homónimo, para embarcar rumo à Europa, tornando-se um mero e errante duque de Bragança, sem terra nem trono, só para dirigir as tropas que haveriam, contra Miguel, de conduzir Maria da Glória ao trono. Maldito seja nos infernos! (…)
Os vencedores da História esquecem-se de contar que a grande maioria do povo, ferida no seu orgulho pela perda da grande colónia das Américas, estava com D. Miguel. Hoje, os seus detratores chamar-lhe-iam, sem dúvida nenhuma, um populista de extrema-direita…»

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