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quinta-feira, 31 de maio de 2018

VIVER É ESCOLHER



Por que razão temos tanta dificuldade em escolher? 
Uma das grandes razões é dispormos de muitas opções de escolha.
À primeira vista, termos várias possibilidades de escolha é algo que nos devia deixar contentes e ser uma garantia de uma escolha acertada, mas, frequentemente tal não acontece. 
O primeiro entrave é compreender todas as opções que se nos deparam. Depois há que verificar se elas são uma real solução para o nosso problema de base ou apenas abrem outros apetites. Por fim, há que hierarquizá-las segundo critérios objetivos, o que nem sempre é fácil.
    Tomemos, por exemplo, um caso prático do quotidiano: a escolha de uma refeição num restaurante. Se tivermos que escolher entre três/quatro pratos, a nossa escolha é mais célere, convicta e objetiva. Se a escolha poder ser feita a partir de uma carta de vinte pratos, as dúvidas adensam-se, a convicção esmorece, os propósitos iniciais mudam.
   
Se em vez de um adulto, em hora de almoço, pensarmos numa criança, ainda em fase de construção de sua capacidade de decisão, os efeitos negativos do excesso de oferta podem ser maiores.
   Se demos tudo a uma criança, o mais certo é transformá-la em pessoas sem iniciativa e com muita dificuldade em decidir. O excesso de oferta cria a ilusão que o melhor é ter tudo, fazer tudo, para não perder nada, mas o que muitas vezes acontece é que se perde o mais importante – a capacidade de selecionar o que nos interessa em cada momento.
 Se tivermos, por exemplo, uma regra geral de nos permitirmos apenas três opções, é muito mais fácil ativar o mecanismo da decisão – ação. 
Quando escolhemos, agimos e estimulamos a vontade de fazer. Fortalecer a nossa capacidade de selecionar significa reforçar, a longo prazo, a nossa iniciativa, mesmo que as circunstâncias ou as situações mudem.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

COSTA QUER QUE OS JOVENS EMIGRANTES REGRESSEM. E ELES QUEREM REGRESSAR?



No final do último congresso do Partido Socialista, o líder do governo português e do PS anunciou que em breve surgirá um programa com “condições únicas e extraordinárias” para repatriar os jovens portugueses que há uns anos um primeiro-ministro português aconselhou a desenrascarem-se lá fora.
Costa devia abster-se de tiradas deste género, porque corre o risco de esgotar a paciência dos portugueses. Na verdade, Costa nada tem a oferecer aos jovens portugueses que acabaram por emigrar e, passado o difícil período de adaptação, começam a ver algum fruto dos sacrifícios passados.

Que condições únicas e extraordinárias tem António Costa para propor aos jovens portugueses que emigraram?
A gasolina ao preço mais alto dos últimos anos? O preço de um T2, em Lisboa e Porto, a 600 mil euros? As rendas de casa a um preço nunca visto? A inexistência de aumentos salariais? O IVA a 23% há oito anos, apesar da troika já ter saído há quatro anos? A ausência de progressão na carreira há uma década? O aumento de casos de corrupção de altos dirigentes do Estado?
Realmente são condições únicas e extraordinárias… para evitar o regresso a Portugal, onde um jovem licenciado tem à sua espera um salário que raramente excede os 40% daquilo que lhe oferecem em Londres, Paris, Berlim ou Bruxelas.

Na verdade, o que António Costa devia ter dito é que os jovens emigrantes portugueses têm condições únicas e extraordinárias que interessam ao governo português: amam o país, têm know how, ideias inovadoras e até algumas economias para investir. O governo português quer aproveitar-se da dinâmica do jovem português que emigrou e triunfou para alavancar alguma da economia portuguesa e não perder de vez uma mão-de-obra tão qualificada. 
Vai tarde e vai às compras com um saco de caramelos. O mais certo é ficar com eles e talvez lhe dê proveito, daqui a alguns meses, por altura das eleições. Há sempre gente à espera do rebuçadinho eleitoral e faz dele um manjar.
GAVB

terça-feira, 29 de maio de 2018

FICAR PARA MORRER




«O problema da eutanásia no nosso país não é a eutanásia, é o nosso país. Em teoria, é boa ideia. Em Portugal, é que é mal feito. Se passar, é inevitável que um dia ouçamos isto no telejornal:
Um escândalo! Estou há onze meses na lista de espera para uma eutanásia. Marcaram para hoje, vim de Beja ainda de madrugada, ia tendo um acidente, podia ter morrido, e agora dizem-me que há greve?
Não duvida da competência do SNS para matar. Duvido é que o consiga fazer quando é suposto. Por isso, aprove-se a lei. Satisfaz os partidários do ‘Sim’, que veem a eutanásia legalizada, e os do ‘Não’, que, se o SNS continuar a ser o SNS, nunca a verão em Portugal.»
José Diogo Quintela

Tal como o humorista José Diogo Quintela também eu sou a favor que cada um de nós seja livre de terminar a vida com dignidade, que muitas doenças não permitem. Bem sei que uns são mais fracos que outros, que há muitas pessoas que não têm qualquer resistência à dor e, sobretudo, há o perigo, da fragilidade psicológica de um dado momento acabar por generalizar a morte. Apesar de todos estes medos, tenho tendência a pensar como Séneca “viver não é uma coisa boa em si mesmo, mas viver bem sim!”, por isso talvez seja melhor viver até onde devo e não até onde a natureza mo permita, mas sob condições indignas, degradantes e inalteráveis.
GAVB

segunda-feira, 28 de maio de 2018

UMA GRAVE ÀS AVALIAÇÕES... QUE PODEM ESPERAR



«Agarrem-me, se não vou-me a ele!»

Uma greve às avaliações que excluí as reuniões do 9.º e o 12.º anos, ou seja, o fim do 3.º ciclo ou secundário, é das melhores greves para qualquer Ministério da Educação – ninguém dá por elas, a não ser os próprios professores, no ordenado no final do mês. Não impede a realização dos exames finais de 12.ª ano nem das provas finais de Português e Matemática, de 9.ºano.

Vai transtornar a vida a quem? Aos próprios professores, que marcarão presença em reunião, após reunião, durante duas a três semanas, até que uma promessa qualquer de mais uma ronda negocial com o ME, o cansaço natural dos professores em final de ano letivo e o desejo de férias acabem por terminar com o martírio.

Devem ter sorrido imenso Tiago Brandão Rodrigues e Alexandre Leitão, com mais esta «posição de força» dos sindicatos de professores. Até já estou a ver o discurso: “Respeitamos a posição dos professores e confiamos que até lá se possa chegar a uma plataforma de entendimento que mitigue os efeitos desta greve!”. 

Só não rirão de contentamento, porque seria demasiado constrangedor.
Greve às avaliações, excluindo as reuniões de 9.º e 12.º ano? Quem foi o génio que teve tão peregrina ideia? A greve só faz sentido quando faz estragos certeiros no «adversário» e não nos próprios!  
Em quê que o governo sai prejudicado com esta greve? Quem é lesado pelo adiamento das reuniões a não ser os próprios professores, já que são eles que irão ter que concluir o mesmo trabalho com uma ou duas semanas de atraso?
Os professores têm em curso uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos, que já atingiu 68% precisas, quando ainda falta mês e meio para o final do prazo. Concentremo-nos nisso! Que bom seria que a Fenprof incentivasse os seus associados a assinar esta ILC.
GAVB   

domingo, 27 de maio de 2018

IMAGINARIUS




O Imaginarius é um Festival de Teatro de Rua e já vai na 18.ª edição. Realiza-se em Santa Maria da Feira, em Maio, e de ano para ano atrai cada vez mais público e tem aumentado exponencialmente a sua qualidade. Só para edição de este ano houve 295 candidaturas, provenientes de 48 países. Claro que com tantos interessados é possível criar um cartaz de grande qualidade.

Além do vencedor do ano passado, os suiços Ici’bas, com o seu Lonely Are The Lonely Roads, os cabeças-de-cartaz eram os holandeses Theatre Gajes com a sua Odyssee e os portugueses Teatro do Mar com o multidisciplinar Insomnio.
Já há alguns anos que não marcava presença neste evento e por isso foi uma agradável surpresa a qualidade dos espetáculos que ontem tive a oportunidade de assistir.

Teatro, circo, dança, mímica, acrobacias, músicas. De tudo um pouco se pôde ver neste Festival Internacional de Teatro de Rua, que decorreu em vários espaços da cidade. Saia-se de um local e logo estava a começar outro espetáculo noutra praça, noutra rua, noutro recanto. Do que vi na tarde do último dia, impressionou-me os franceses do Cirk Biz’Art, três jovens marselheses que me encheram as medidas com a sua performance, uma espécie de cabaret-circo irreverente, onde o tradicional se misturava com o bizarro e interagia de forma intensa com o público, durante setenta minutos.

Também fiquei agradavelmente surpreendido com os espanhóis Collectiu La Persiana que apresentaram a sua “Violeta”. Um espetáculo familiar, onde sete acrobatas disputavam a atenção do público ao som da música latina, testando os limites e as emoções, desafiando sentimentos.




O final de cada um dos três dias do certame ficou marcado por um fabuloso espetáculo de pirotecnia e música, dos franceses Les Commandos Percu, denominado Silence. Aquilo que podia ser apenas uma banal mistura de técnicas de percussão e pirotecnia transformou-se numa tempestade imponente e ousada de som e fogo capaz de nos tocar em diversos domínios.



O Imaginarius é um festival para a família, descontraído, bem organizado e com um baixo investimento, que devia e podia ser replicado noutras cidades portuguesas. A arte, o improviso, a ousadia, o convívio entre culturas e povos, o teatro, a música, o circo, a dança e acrobacia – tudo parece ser um excelente motivo para visitar Santa Maria da Feira no final de Maio, numa espécie de ensaio geral para a Viagem Medieval, o evento mais emblemático do concelho.
GAVB

sexta-feira, 25 de maio de 2018

MIL PASOS



Um passo e eu me vou 
para sempre
Um passo forte
Um passo para a frente




Dois passos, eu vou sem olhar

Tão longe eu pisei
Dois passos e já te esqueci


Eu já estou três passos para leste
A sul, oeste
Três passos que eu acho que um monte, eu acho


E quando Tu voltarás?
Eu não vou entrar

Quando Tu voltarás?
Eu já estou tão longe


E quando Tu voltarás?
Um dia ou nunca


E quando voltarás?
Já dei o primeiro passo...


Quando tu voltares
Por favor, não me esperes

E quando voltarás?
Um dia ou nunca




Quatro passos... quero lembrar
Quatro passos... eu sei
Tu me quiseste, eu te quis

Cinco passos e sem perder
Tanto eu me distanciei
Cinco passos e te perdoei





Seis etapas já são quase sete

Não sei mais contar.
Mil passos e mais, eu fico de pé




E quando voltarás?
Eu não vou entrar
Quando voltarás?
Eu já estou tão longe
E quando voltarás?
Um dia ou nunca


Um passo, dois passos, três passos, quatro passos, cinco passos
Mil passos
Soha

quarta-feira, 23 de maio de 2018

MAIS DISCIPLINAS COM A MESMA CARGA HORÁRIA SEMANAL – A PROPOSTA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO



Por enquanto é só uma proposta, mas o Ministério da Educação quer um modelo de currículo para o 2.º ciclo onde cabem catorze (!!!) disciplinas e outro para o 3.º ciclo onde existem quinze. 

É, de facto, um número exagerado de disciplinas, como muito bem nota o Conselho das Escolas, que desaprova o prévio desenho curricular do ME, para o novo ano letivo.
Imaginar uma criança de dez anos a conhecer 14 professores diferentes todas as semanas não me parece uma muito boa ideia. Se a isto acrescentarmos a adesão que muitas escolas farão à flexibilidade curricular, então é caso para temermos uma grande confusão, durante os primeiros meses do próximo ano letivo.

O Ministério da Educação refere que a carga horária semanal não pode aumentar, mas acrescenta mais três disciplinas, o que obrigará a reduzir os minutos de aula em diversas disciplinas, de maneira permanente, durante todo o 2.º e 3.º ciclos.

Cidadania e Desenvolvimento, TIC e Complemento à Educação Artística são as novas disciplinas. 
Acho o regresso de TIC fundamental, mas as outras duas podiam, efetivamente, como diz o Conselho de Escolas, ser cobertas pela Oferta de Escola ou pela Oferta Complementar.

São disciplinas a mais, que dispersarão ainda mais atenção dos alunos e obrigarão a uma ginástica enorme na elaboração de horários. E além disto cria problemas suplementares e desnecessários a quem entra na flexibilidade curricular, pois é preciso compatibilizar mais professores, num momento em que muitos ainda procuram assimilar as novas coordenadas curriculares e de gestão das suas aulas.
Na minha opinião seria melhor esperar que a flexibilidade curricular criasse raízes, entre professores e alunos, que algumas disciplinas se habituassem ao modelo semestral
(Geografia, História, TIC) e se incorporasse apenas uma nova disciplina – TIC.
GAVB

OS CUS DE JUDAS


O romance de António Lobo Antunes foca o tema da guerra colonial portuguesa e os traumas que ela deixou nos combatentes portugueses.
         Ao longo de todo o romance ressalta o sentimento de revolta perante uma guerra sem sentido, em defesa dum patriotismo balofo e dum regime que a maioria odiava de tão despótico que era.
         A voz do narrador é a voz do autor pois percebe-se que o protagonista é um soldado que foi mobilizado para Angola, exercendo também a função de médico, tal como o autor do romance.
         A narrativa demonstra também o absurdo da guerra colonial, pois percebe-se que os soldados não lutavam por uma causa, não entendiam porque estavam naquele fim do mundo (Os cus de Judas), não partilhavam a ideia de pátria serôdia do Dr. Salazar e seus apaniguados, não sentiam aquele território como seu, não sentiam nos africanos os seus inimigos … em suma, não percebiam por que tinham de matar e morrer por um ideal que não era o seu.
       
  Por outro lado, Os Cus de Judas retratam a dolorosa experiência da guerra colonial a partir da visão de um soldado português que alguns anos depois da guerra ter terminado, retoma as suas memórias sobre a guerra, relembrando factos, histórias, impressões, locais, pessoas e sobretudo sentimentos, aparentemente desconexos (como lhe vinham à memória). Essa recordação é notoriamente dolorosa e parece sempre tão real e tão próxima que ilustra de uma maneira fiel, os traumas que a guerra em África em cerca de um milhão de portugueses que combateram nas ex-colónias portuguesas.

O livro propõe uma reflexão sobre um tempo e uma guerra de guerrilha que marcou uma geração de portugueses, de uma forma indelével. E como o autor muito bem faz notar, a raiva que transparece no livro é também pelo não reconhecimento desses traumas por parte daquele Portugal que ficou a gozar a paz. António Lobo Antunes acentua muito essa ingratidão, esse olhar de lado, como se os combatentes em África fossem doentes mentais, a quem se tivesse de dar um desconto por algumas atitudes mais agressivas. 


O livro é a voz de muitos ex. combatentes que não entendem esse tratamento ingrato, de desprezo , por vezes humilhante a são votados pelos seus compatriotas quando estiveram a dar a vida por eles, numa guerra que nunca quiseram, e que os transtornou de modo irreversível.
         Por outro lado, o romance marca de forma categórica a revolta e muitas vezes o ódio do autor a Salazar e ao regime do Estado Novo, por lhes terem destruído muito mais que a juventude, a confiança de viver.
Gabriel Araújo

domingo, 20 de maio de 2018

OS PROFESSORES PERDERAM PESO POLÍTICO E IMPORTÂNCIA MEDIÁTICA





Alguns professores ficaram muito admirados pelo facto da comunicação social falada e escrita ter dado pouquíssima relevância à sua manifestação de protesto, de ontem, no centro de Lisboa. Foram cinquenta mil pessoas e ficaram reduzidos a dois minutos, no meio de um qualquer noticiário, como uma notícia banal entre a crise psiquiátrica do Sporting, o casamento de um príncipe inglês ou o rali de Portugal.

Há muitos que os professores tinham deixado de ser respeitados pelo poder político (ontem, só apareceu o comunista Jerónimo de Sousa, o que não deixa de ser elucidativo, e dos restantes partidos nem um referência) e agora são desprezado pelos media.
Percebo perfeitamente o desalento de quem fez uma viagem de 800 quilómetros e teve de gastar oito horas do seu fim-de-semana em viagens, para ouvir o discurso dos líderes sindicais, engrossar as fileiras dos manifestantes e perceber pouco depois o desprezo a que votam a sua luta, os seus direitos, as suas reivindicações.

Há uma clara sensação de impotência na luta dos professores (como de outras classes profissionais), porque as lógicas mediáticas destroem qualquer tentativa de pressão política. A comunicação social gosta de dizer que afronta o poder, que dá voz a quem não a tem, mas a verdade é que a maneira vampírica com que consome acontecimentos, lutas, denúncias acaba por fazer o jogo daqueles que acusa.
O mundo está em mudança. As velhas fórmulas de lutas sindicais, de pressão mediática ou de denúncia de crimes estão ultrapassadas, mas os problemas não.

         Os professores não devem desanimar, mas «apenas» reinventar outra forma de reivindicar, de fazer passar a mensagem, de conseguir os seus objetivos. Nos últimos tempos, vejo com agrado os professores a procurarem outras formas de luta. Foi assim a ILC (Iniciativa Legislativa de Cidadãos), com a luta dos professores contratados, com o concurso extraordinário de professores, já neste ano letivo. Procurando no sistema, maneiras de apanhar o rato na sua própria ratoeira.
       
  Provavelmente não teremos todo o sucesso pretendido, mas alguma coisa havemos de conseguir. O que precisamos é de não perder a coerência, nem a dignidade.
Nota: na manifestação de professores de ontem, vimos muita gente da velha guarda, de fora de Lisboa, a lutar pelos direitos de professores que parecem já ter desistido. É uma lição, mas impõe também uma reflexão. 
Trazer os professores mais novos para a luta não obrigará a uma mudança de modus operandi? Não estará na altura de renovar os quadros dirigentes dos sindicatos de professores, dando lugar aos mais novos? Fica mal acusar os políticos e fazer o mesmo.
GAVB

sexta-feira, 18 de maio de 2018

FOI CHATO, MAS O CRIME FAZ PARTE DO DIA-A-DIA



A frase é do inenarrável Bruno de Carvalho e só não sofreu a indignação geral, porque do ainda presidente do Sporting toda a indignidade e mediocridade é, infelizmente, expectável. No entanto, aquilo que Bruno de Carvalho teve a coragem de dizer foi aquilo que muitos tiveram a indecência, a canalhice de fazer, durante anos, ao povo português.
Vejamos então…


É «chato», é criminoso que os portugueses em geral, e os funcionários públicos em particular, tivessem de pagar com os seus salários, impostos e empregos a corrupção e os roubos nos BPN, BES, CGD, na EDP, na PT, mas o crime faz parte do dia-a-dia da política portuguesa, desde que vivemos em democracia.

É «chato», criminoso até que o governo tenha congelado as progressões na função pública e além disso se recuse a recolocar os seus trabalhadores no escalão remuneratório devido, invocando a falta de recursos financeiros, quando todas as semanas descobrimos que esta gente nos desfalcou durante os últimos vinte anos em negócios ruinosos, corruptos, criminosos. É chato, mas temos de aceitar que a o crime faz parte do dia-a-dia.

É «chato», criminoso igualmente que tantos hooligans do desporto ou do comentário desportivo, político ou económico se passeiem impunemente pelas televisões, jornais e rádios, insultando a nossa inteligência e dignidade enquanto sociedade, mas temos de aceitar que o crime faz parte do dia-a-dia.

Temos de aceitar a impotência do governo perante os incêndios e os criminosos que os ateiam; temos de aceitar que Salgado continue em casa e um jornalista tenha de lhe fazer todas as vénias entes de lhe fazer uma pergunta pouco incómoda; temos de aceitar a boçalidade de muitos programas de televisão; temos de aceitar uma carga fiscal brutal apesar de já não termos troika nem austeridade; temos de aceitar que… e nós aceitamos.

Na verdade, Bruno de Carvalho é só uma caricatura rasca do que andamos a aceitar há muitos anos. Felizmente para todos os outros, houve um maluco que resolveu vestir a pele de bode expiatório.  Quando daqui a uns dias ele for demitido ou se demitir, haverá um suspiro entre os tontos da nação e um riso pérfido entre os nossos carcereiros. 

Nenhum de nós vai rescindir este contrato de servo de gleba; aliás, renovaremos esta aceitação do crime por mais dez anos, porque, embora, «chato», o crime faz parte do dia-a-dia.
GAVB

quarta-feira, 16 de maio de 2018

BRASILEIROS EM FUGA PARA PORTUGAL



«Eu não sei onde Portugal vai colocar tanto brasileiro, porque é impressionante. Todos querem vir para cá.» Ângelo Horta, conselheiro permanente das comunidades portuguesas.
Não se trata apenas de jovens à procura do eldorado europeu através da porta portuguesa, mas igualmente gente de quarenta e cinquenta anos, completamente desencantada com um país «sem futuro», onde todos os presidenciáveis têm problemas graves com a justiça e o sentimento de insegurança é tão latente que parece que se tornou numa segunda pele.
Querem Portugal, em primeiro lugar, por causa da língua, mas também porque pensam que a vida no nosso país será mais fácil que noutro qualquer país europeu.
Portugal tem ainda lugar para todos aqueles que o procuram, embora seja hoje um país um pouco diferente da ideia clássica que o brasileiro faz do velho colonizador.

É um país seguro e talvez seja este um dos seus maiores trunfos, mas é já um país caro (sobretudo Lisboa, Porto e Algarve) para grande parte da classe média brasileira. O turismo colocou Portugal na moda e hoje comprar ou arrendar casa em Lisboa, Porto, Coimbra ou Aveiro é algo que não está ao alcance da esmagadora maioria dos portugueses e até de muitos europeus.
É preciso que quem pretende viver em Portugal perceba que o seu leque de escolha diminuiu, no que diz respeito à habitação, e ainda não é muito vasto no que diz respeito ao mercado de emprego.


Estamos a sair de uma traumática crise financeira e a recuperação de postos de trabalho ainda não foi totalmente alcançada. Por outro lado, ainda somos um país que procura defender a todo o transe os direitos mais elementares dos trabalhadores e por isso não é muito bem vista uma empregabilidade sem direitos.
Apesar destes óbices, Portugal é uma ótima escolha para os brasileiros, porque é uma excelente montra para outros voos, no continente europeu, e oferece uma excelente base de apoio para uma adaptação a uma nova cultura e estilo de vida, além de ser sempre um prazer ter entre nós um povo tão alegre, amigável e simpático como é o povo brasileiro.
GAVB  

terça-feira, 15 de maio de 2018

MAIS FUNÇÃO PÚBLICA OU MELHOR FUNÇÃO PÚBLICA? QUE QUER ANTÓNIO COSTA?




         Tentando jogar por antecipação, António Costa desculpa-se com a contratação de novos funcionários públicos (não será antes incorporação dos precários de décadas?) para conseguir esquivar-se à justa atualização salarial dos funcionários públicos, que perdem poder de compra há mais de uma década.
         “Vamos contratar, por isso não podemos aumentar!” é um velho e estafado truque do empresário português da velha guarda que acha que a economia se constrói com baixos salários. 

Era agora que António Costa devia ir buscar o modelo económico francês, alemão, belga, holandês, finlandês, suíço ou até espanhol e explicar ao povo a sua teoria económica para o desenvolvimento da nação. Mas Costa é só um «Xico-esperto» da política caseira, sem uma ponta de rasgo ou sentido de justiça.
         A função pública vai aumentar «poucochinho», para estagnar muitíssimo. Contratará mais médicos e enfermeiros e alguns auxiliares na educação e saúde ou polícias, porque «tem mesmo que ser», mas falhará na justiça salarial aos restantes funcionários.

E depois quer trabalhadores motivados! Terá apenas uma administração desalentada, sem ambição, cumprindo o ponto, porque há décadas que lhes faltam ao prometido. Quando há crise são os primeiros a pagar pelas más opções políticas dos governos, pelo dinheiro esbanjado em PPP e bancos falidos; quando a economia cresce, têm de esperar… até à próxima crise.
A quem interessa uma administração desmotivada, a ganhar mal, onde só estarão aqueles que não querem ir além de um salário mediozinho? Interessa a quem governa para clientelas e não tem rasgo para pagar o que é justo para exigir o máximo.
GAVB

segunda-feira, 14 de maio de 2018

ISRAEL TRANSFORMOU UM DIA GLORIOSO NUM DIA VERGONHOSO



Trump não teve coragem de ir a Israel, para as comemorações dos setenta anos do Estado Israel, apesar de ter sido dele a prenda que os ortodoxos israelitas mais desejavam: a deslocação da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, dando deste modo um fortíssimo sinal do que a administração Trump pensa do problema israelo-palestiniano.
E Netanyahu recebeu a filha do presidente dos EUA com aquilo que sabe fazer melhor: a chacina de mais de meia centena de palestinianos na Faixa de Gaza. 
Para o primeiro-ministro israelita, umas pedras provocatórias do lado palestiniano devem ter como respostas uma saraivada de balas, disparadas pelos seus melhores snipers, revelando mais uma vez o que pensa dos acordos anteriormente assinados pelos seus antecessores bem como as suas intenções de paz.

As pedras dos palestinianos, justamente indignados com a concretização da decisão de Donald Trump, não eram ameaça nenhuma à integridade do estado de Israel como Netanyahu teve lata de justificar.  

Israel sempre teve um comportamento de elefante na diplomacia internacional, mas as suas últimas atitudes e em especial a de ontem, estão muito para além da típica inflexibilidade dos conservadores israelitas; elas roçam a falta de respeito pelos apoiantes de Israel, pelos milhares de judeus que construíram a história de um povo milenar e atenta contra o próprio sentido de humanidade que um Estado de direito deve/tem possuir.
Um Estado não pode matar pessoas que atacam polícias com umas pedras, não pode atirar conscientemente sobre civis como quem atira num alvo por pura diversão. 
E fazer isso no dia nacional do Estado de Israel foi sujar a alma do povo israelita, que deve refletir naquilo em que se está a tornar.
GAVB

sábado, 12 de maio de 2018

E POR VEZES



E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos   E por vezes


encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes


ao tomarmos os gosto aos oceanos
só o sarro das noites   não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos



E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes 
num segundo se evolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira



quarta-feira, 9 de maio de 2018

UM BATOM PERIGOSO NO MEIO DE TÃO PATRÍCIO FOGO-DE-ARTIFÍCIO



Há mais de vinte anos que assisto a jogos de futebol, ao vivo. Normalmente vejo apenas os grandes jogos, que envolvem o meu clube contra outro clube grande ou contra grandes clubes estrangeiros. Tanto vejo jogos no estádio do meu clube como no do clube adversário. E se há coisa que sempre me revoltou foi as proibições que os clubes organizadores dos jogos fazem em relação aos adereços (camisolas, cachecóis) que os adeptos do clube adversário podem levar para dentro do estádio.

Então eu não pago bilhete? Então eu não posso manifestar, como qualquer outro espectador, o agrado pelo meu clube, usando uma cor, uma camisola, ou cachecol? Como é isto possível num estado de direito democrático? Como é que autoridades policiais compactuam com estas ilegais proibições ditadas pelo fanatismo e falta de fair-play dos dirigentes dos clubes?

Nos jogos internacionais é proibido invetivar um jogador negro de um clube adversário com cânticos ou tarjas racistas. Já houve clubes severamente punidos por causa destas práticas xenófobas dos seus adeptos, mas em Portugal acha-se bem proibir a entrada de alguém que traga uma camisola interior azul, verde ou vermelha, porque pode ferir a suscetibilidade dos grunhos dos adeptos dos clubes da casa. Revolta-me imenso este tipo de prática e gostava mesmo que esses dirigentes tivessem a coragem de as implementar em jogos da UEFA. Ia ser muito divertido e esclarecedor.

Hoje, o sensato Bagão Félix, que já foi ministro das Finanças de Portugal, na sua crónica semanal no jornal «’A Bola» tem um excerto de deliciosa ironia sobre isto, contando uma história tão verdadeira quanto surreal.
Transcrevo o respetivo excerto.

«Uma das minhas netas, quinze anos de idade, benfiquista de alma e coração, foi a Alvalade com uma das suas melhores amigas, sportinguista de coração e alma. À entrada, embora sem qualquer sinal exterior de adepta encarnada, revistaram-na e encontraram uma perigosíssima arma de destruição maciça: um batom para o cieiro. Com um demoníaco pormenor, o invólucro era vermelho. Vai daí, um zelota dos bons costumes tirou-lho repentinamente e atirou-o para o lixo, garantindo assim a ordem pública e impedindo uma jovem tranquila e educada de provocar desacatos com tão contundente objeto.
Uns minutos depois, antes do jogo se iniciar, elas assistiram já sentadas ao fogo-de-artifício com que as claques leoninas deram as boas-vindas. O tal zelota ainda deve estar a pensar como tendo ele evitado uma catástrofe com o batom da minha neta foi impotente (ele e os colegas) para impedir os adultos de levar bombinhas Entrudo. Um perigoso batom é um batom perigoso, mesmo que seja do cieiro. Assim vai o nosso futebol. Apanha-se uma mosquinha para fingir que se controlam os elefantes.» 

segunda-feira, 7 de maio de 2018

SEXO, SANGUE E PODER: OS TÁVORA CAÍRAM NO POMBAL DO MARQUÊS



Talvez não seja um exagero dizer que o poder no reinado de Dom José estava também nas mãos do Marquês do Pombal, mas a verdade é que ele era muito mais poderoso que seria suposto.
O ambicioso ministro Sebastião José de Carvalho e Melo era um déspota iluminado, que percebeu rapidamente que a forma como lidou com a tragédia do Terramoto de 1755 lhe haveria de render dividendos políticos, quer junto do rei quer junto do povo.
O único obstáculo aos seus grandiosos projetos de governo do país, por interposta pessoa, era a velha aristocracia, comandada pelos influentes Távoras e pelo duque de Aveiro.
Astuciosamente, Sebastião José de Carvalho e Melo soube esperar a oportunidade para desferir o golpe fatal numa das famílias mais poderosas do reino: os Távoras.

Aproveitando magistralmente um suposto (ou real) mal-estar entre o 3.º marquês de Távora, D. Francisco de Assis, e o rei Dom José, por causa do caso extraconjugal entre o rei e a belíssima Dona Teresa de Távora e Lorena (irmã e nora de D. Francisco), o poderoso ministro de Dom José acusou os Távora e o duque de Aveiro de estarem por trás da tentativa de assassínio do rei, ocorrida em Setembro de 1758.


Nas últimas semanas de 1758 decorreu um apressado julgamento da família Távora, em que o juiz condenou à morte todos os Távoras homens e algumas mulheres, por «crime de lesa-majestade, alta traição, rebelião e parricídio».

A sentença foi conhecida a 12 de Janeiro de 1759 e no dia seguinte deram-se as execuções. O massacre ocorreu durante todo o dia e dele foi dado conhecimento à população em folhetos impressos, com gravuras dos tormentos. 
Pernas e braços partidos, decapitações, estrangulamentos. O cardápio autorizado pelo Marquês do Pombal era um verdadeiro compêndio da tortura. 
Apenas escapou José Policarpo de Azevedo que conseguiu fugir e algumas mulheres (entre elas a amante do rei), encerradas em conventos. Os brasões dos Távoras e do duque de Aveiro foram banidos.

Durante quase duas décadas o Marquês do Pombal exerceu um poder absolutista e iluminado, onde não havia lugar a oposição. Todos perceberam, claramente, o sinal deixado com o extermínio dos Távoras e ninguém ousou fazer-lhe frente.
Foi preciso esperar a morte do rei Dom José (1777), para que o Marquês caísse do seu pedestal. Dona Maria havia de reabrir o processo dos Távoras e os juízes chegaram à conclusão que aqueles que morreram às mãos do ambicioso projeto de poder do Marquês do Pombal, afinal, estavam inocentes.
Ainda hoje os historiadores se dividem sobre a culpa ou o cumprimento do dever por parte do Marquês do Pombal, no processo da condenação a morte dos Távora. O que pouco se discute é o papel do rei Dom José. Os Távoras morreram porque ele consentiu, mais do que um projeto de poder absoluto de Sebastião José de Carvalho e Melo.
GAVB