A frase é do inenarrável Bruno de Carvalho e só não sofreu a
indignação geral, porque do ainda presidente do Sporting toda a indignidade e mediocridade
é, infelizmente, expectável. No entanto, aquilo que Bruno de Carvalho teve a
coragem de dizer foi aquilo que muitos tiveram a indecência, a canalhice de
fazer, durante anos, ao povo português.
Vejamos então…
É «chato», é criminoso que os portugueses em geral, e os
funcionários públicos em particular, tivessem de pagar com os seus salários, impostos e empregos a corrupção e os roubos nos BPN, BES, CGD, na EDP, na PT, mas o crime
faz parte do dia-a-dia da política portuguesa, desde que vivemos em democracia.
É «chato», criminoso até que o governo tenha congelado as
progressões na função pública e além disso se recuse a recolocar os seus
trabalhadores no escalão remuneratório devido, invocando a falta de recursos financeiros,
quando todas as semanas descobrimos que esta gente nos desfalcou durante os
últimos vinte anos em negócios ruinosos, corruptos, criminosos. É chato, mas
temos de aceitar que a o crime faz parte do dia-a-dia.
É «chato», criminoso igualmente que tantos hooligans do
desporto ou do comentário desportivo, político ou económico se passeiem
impunemente pelas televisões, jornais e rádios, insultando a nossa inteligência e
dignidade enquanto sociedade, mas temos de aceitar que o crime faz parte do
dia-a-dia.
Temos de aceitar a impotência do governo perante os
incêndios e os criminosos que os ateiam; temos de aceitar que Salgado continue
em casa e um jornalista tenha de lhe fazer todas as vénias entes de lhe fazer uma
pergunta pouco incómoda; temos de aceitar a boçalidade de muitos programas de televisão;
temos de aceitar uma carga fiscal brutal apesar de já não termos troika nem
austeridade; temos de aceitar que… e nós aceitamos.
Na verdade, Bruno de Carvalho é só uma caricatura rasca do
que andamos a aceitar há muitos anos. Felizmente para todos os outros, houve um
maluco que resolveu vestir a pele de bode expiatório. Quando daqui a uns dias ele for demitido ou se
demitir, haverá um suspiro entre os tontos da nação e um riso pérfido entre os
nossos carcereiros.
Nenhum de nós vai rescindir este contrato de servo de
gleba; aliás, renovaremos esta aceitação do crime por mais dez anos, porque,
embora, «chato», o crime faz parte do dia-a-dia.
GAVB
Sem comentários:
Enviar um comentário