Talvez não seja um exagero dizer que o poder no reinado de Dom José estava também nas mãos do Marquês do Pombal, mas a verdade é que ele era muito mais poderoso que seria suposto.
O ambicioso ministro Sebastião José de Carvalho e Melo era um déspota iluminado, que percebeu rapidamente que a forma como lidou com a tragédia do Terramoto de 1755 lhe haveria de render dividendos políticos, quer junto do rei quer junto do povo.
O único obstáculo aos seus grandiosos projetos de governo do país, por interposta pessoa, era a velha aristocracia, comandada pelos influentes Távoras e pelo duque de Aveiro.
Astuciosamente, Sebastião José de Carvalho e Melo soube esperar a oportunidade para desferir o golpe fatal numa das famílias mais poderosas do reino: os Távoras.
Aproveitando magistralmente um suposto (ou real) mal-estar entre o 3.º marquês de Távora, D. Francisco de Assis, e o rei Dom José, por causa do caso extraconjugal entre o rei e a belíssima Dona Teresa de Távora e Lorena (irmã e nora de D. Francisco), o poderoso ministro de Dom José acusou os Távora e o duque de Aveiro de estarem por trás da tentativa de assassínio do rei, ocorrida em Setembro de 1758.
Nas últimas semanas de 1758 decorreu um apressado julgamento da família Távora, em que o juiz condenou à morte todos os Távoras homens e algumas mulheres, por «crime de lesa-majestade, alta traição, rebelião e parricídio».
A sentença foi conhecida a 12 de Janeiro de 1759 e no dia seguinte deram-se as execuções. O massacre ocorreu durante todo o dia e dele foi dado conhecimento à população em folhetos impressos, com gravuras dos tormentos.
Pernas e braços partidos, decapitações, estrangulamentos. O cardápio autorizado pelo Marquês do Pombal era um verdadeiro compêndio da tortura.
Apenas escapou José Policarpo de Azevedo que conseguiu fugir e algumas mulheres (entre elas a amante do rei), encerradas em conventos. Os brasões dos Távoras e do duque de Aveiro foram banidos.
Durante quase duas décadas o Marquês do Pombal exerceu um poder absolutista e iluminado, onde não havia lugar a oposição. Todos perceberam, claramente, o sinal deixado com o extermínio dos Távoras e ninguém ousou fazer-lhe frente.
Foi preciso esperar a morte do rei Dom José (1777), para que o Marquês caísse do seu pedestal. Dona Maria havia de reabrir o processo dos Távoras e os juízes chegaram à conclusão que aqueles que morreram às mãos do ambicioso projeto de poder do Marquês do Pombal, afinal, estavam inocentes.
Ainda hoje os historiadores se dividem sobre a culpa ou o cumprimento do dever por parte do Marquês do Pombal, no processo da condenação a morte dos Távora. O que pouco se discute é o papel do rei Dom José. Os Távoras morreram porque ele consentiu, mais do que um projeto de poder absoluto de Sebastião José de Carvalho e Melo.
GAVB
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