Há noventa anos, o governo
português vergava-se a um ministro das Finanças chamado António Oliveira
Salazar. O homem ainda não tinha quarenta anos e a sua experiência nas Finanças
não ia além de duas dezenas de meses, no entanto conseguiu impor aos seus pares
do conselho de ministros o seu direito de veto sobre qualquer medida que
implicasse despesa pública. Na prática, ele exigiu governar sem contraditório,
abdicando do título.
Mário Centeno faz algo de parecido,
no governo de António Costa. Nenhum ministro está autorizado a gastar mais do
que a magro quinhão que Centeno, o cativador, decretou nos primórdios deste
minoria absoluta, onde António Costa faz o papel de anunciador das boas notícias que Centeno
deixa dar.
Ser ministro do atual governo
português tem tanto de fácil como de frustrante. É fácil porque não é
necessário dinamizar o setor, já que o dinheiro atribuído por Centeno, o senhor Presidente do Conselho,
serve apenas para pagar despesas fixas; é frustrante, porque todas as ideias,
projetos, tentativas de satisfazer as reivindicações de médicos, professores,
polícias, enfermeiros, juízes, funcionários judiciais, enfermeiros, técnicos da
segurança social, artistas, …esbarram na defesa intransigente que Mário Centeno
faz do seu porquinho mealheiro.
Imagino uma reunião do Conselho
de Ministro.
Adalberto Campos Fernandes explica que os médicos estão
exaustos, os enfermeiros desesperados, que não há camas nos hospitais, contas
por pagar às farmacêuticas, alas pediátricas por construir. António Costa
interrompe-o, pede-lhe que se acalme, pois o dinheiro vai ser desbloqueado nas
semanas seguintes, faltando apenas a assinatura de Mário Centeno. Centeno
sorri, os outros ministros fazem silêncio à espera de uma palavra do senhor
Presidente do Conselho e Centeno, enfadado, responde:
- Já sabem que só assino essas
coisas como a minha caneta parker da sorte. Está em Bruxelas. Deixei-a no meu
gabinete do Eurogrupo. Quando lá voltar, para o mês que vem, prometo que não me
esqueço de a meter na mala.
Neste momento o jovem ministro
que prometeu lutar radicalmente pelos direitos dos professores pede a palavra.
Centeno interrompe-o, com um sorriso cheio de bonomia e chalaça:
- Já sei, já sei… os professores
querem a reposição salarial, não há funcionários nas escolas,… olha, diz-lhes
que sim, mas que tu não decides nada, que a culpa é do Centeno. Ou então, ‘tá
calado, que ainda é o que fazes melhor.
Tiago amua, baixa a cabeça, o conselho
de ministros ri a bom rir e Centeno aproveita para advertir Luís Filipe Castro
Mendes que aquele não é lugar para escrever poemas. Vieira da Silva e Santos
Silva não contém uma gargalhada, mas Francisca Van Dunem não acha piada nenhuma
e aproveita para se dirigir a António Costa, que estava a enviar uns sms a jornalistas amigos. Percebendo a
atrapalhação do chefe de orquestra, Centeno toma a dianteira:
- Francisca, larga essa pose rígida.
Fala aqui com o Ronaldo das Finanças, o homem da massa, aquele que decide. Diz
lá, rapariga, o que queres.
Irritada com o tom e com o
desplante de Centeno, a ministra da Justiça, apenas consegue balbuciar um
tímido
- Não é nada de importante.
Falamos depois…
- Bem me parecia. Ainda bem.
Sendo assim dou por encerrada a reunião.
Costa levanta-se, faz questão de
cumprimentar todos os seus ex-ministros e convida-os para um churrasco em São
Bento. Quase todos aceitam, até que Mário Centeno se aproxima e interroga
Costa:
- Mas já pediste autorização para
essa despesa extraordinária, ó Costa? Acho que o teu ministro das finanças não
vai autorizar…
GAVB
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