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sábado, 30 de abril de 2016

A ESCOLA É A IDENTIDADE DE UM POVO



A Europa é o mais lindo tesouro multicultural do planeta. Nela habitam línguas, culturas, costumes e climas tão diversificados quanto complementares que atraem continuamente gente dos quatro cantos do mundo. É certo que na Europa há paz, há democracia, há riqueza e as mais variadas formas de expressar as mil e uma facetas da alma humana, mas também há uma grande importância atribuída à Escola como fator primordial de afirmação pessoal e coletiva.
Apesar de toda a multiculturalidade, cada país mantém a sua pegada genética e a escola é o local onde tal se começa a notar. Recentemente li um trabalho patrocinado pela Unicef sobre o dia-a-dia das crianças em várias escolas espalhadas pelo mundo. Trago hoje três exemplos europeus: uma rapariga belga, outra italiana, um rapaz polaco.


A belga tinha oito anos e frequentava uma escola internacional, onde os colegas provinham um pouco de todo o mundo. Era-lhe familiar ouvir falar italiano, espanhol, alemão, mas tal não impedia a realização de trabalhos em conjunto nem as brincadeiras sem fronteiras. Claro que falamos de Bruxelas, centro administrativo da União Europeia, uma das capitais mais poliglotas da Europa. Aí, mais do que uma obrigação, é uma necessidade ser versado em línguas. Talvez por isso essa destreza linguística seja um traço fundamental da escola belga.





Em Itália o foco é outro. Recordo Chiara, uma adolescente de onze anos que vive perto de Milão. O centro da sua educação estava nas artes: aprender música, visitar museus ou observar in loco obras de arte faziam parte do menu educacional dessa adolescente transalpina. A cultura e a mentalidade italianas tinham sido transportadas para a Escola de uma maneira mais vincada do que acontecia em Bruxelas, com a jovem Flora.
Já na Polónia, o menino Marek, natural de Cracóvia, passa os seus dias na escola, onde tem aulas regulares, atividades extracurriculares (dança) e faz todas as refeições importantes do dia. A escola proporciona-lhe o contacto com a natureza, a religião, a arte e o desporto. Não notei nenhuma preocupação em internacionalizar o ensino nem um forte pendor da cultura polaca nos conteúdos ou métodos de ensino, mas “apenas” a vontade de relacionar as crianças com a natureza, de oferecer um ensino diversificado, de equilibrar atividade física e motora com a parte intelectual.

Decidi então viajar no tempo e procurar Marek, Chiara e Flora vinte anos depois. Não encontrei um, encontrei milhares. Os traços que a escola começara a esboçar estavam agora bem definidos e transformaram-se em peças únicas com dois encaixes que formam o puzzle europeu. A identidade de cada povo estava neles e havia começado na escola.
Quando um país leva a sério a «sua» Escola, a sua identidade mantém-se uma identidade inconfundível e necessária para que o puzzle esteja completo; quando despreza a educação, qualquer multinacional compra a patente e transforma-a em produto descartável de marca branca.

Gabriel Vilas Boas

sexta-feira, 29 de abril de 2016

DANÇA



A par do Teatro e da Música, a Dança é uma das três artes cénicas da antiguidade e comemora hoje o seu Dia Mundial.
Já no Antigo Egipto ou na Grécia, encontramos diversas formas de utilização do corpo quer através de movimentos previamente definidos (coreografias), quer através de movimentos improvisados na própria altura (dança livre), integradas nos mais diversos espetáculos.
No entanto, já na Pré-história o Homem apresentava manifestações que se poderiam considerar como Dança, uma vez que efetuava batimentos com os pés no chão. Com o passar dos tempos descobriu que poderia passar a utilizar outro tipo de percussões corporais, tais como as palmas. A Dança que por esta altura servia como uma forma de comunicar com uma Divindade que o Homem não entendia muito bem, mas que estava bem presente na sua vida, rapidamente deixou de ter apenas esse papel de “meio de comunicação”, para ter também uma componente lúdica.

Ballet, é o nome dado a um estilo de dança que nasceu nas cortes da Itália renascentista durante o século XV e que se desenvolveu ainda mais na Inglaterra, Rússia e França, como uma forma de dança de concerto. As primeiras apresentações diante da plateia eram feitas com o público sentado em camadas ou galerias, disposto em três lados da pista de dança. Eram realizadas, principalmente, com o acompanhamento de música clássica.
O Ballet é um tipo de dança que possui uma forma altamente técnica e um vocabulário próprio. É um género de dança muito difícil de dominar e que requer muita prática. Ele é ensinado em escolas próprias em todo o mundo, servindo a sua técnica como a base fundamental para todos os tipos de dança.

Conforme foi anteriormente referido, o Ballet surgiu no século XV (durante a Renascença) nas cortes italianas, embora o seu desenvolvimento tenha sido maior nas cortes francesas, no século XVII, durante o reinado de Luís XIV, facto que se refletiu diretamente no vocabulário que ainda hoje é utilizado no Ballet – os nomes dos passos são em francês. Apesar das grandes reformas de Noverre no século XVIII, o Ballet entrou em declínio na França depois de 1830, continuando no entanto a ser aperfeiçoado na Dinamarca, Itália e Rússia.
Às vésperas da Primeira Guerra Mundial este gênero de dança foi reintroduzido na Europa Ocidental por uma companhia russa – os Ballets Russes de Sergei Diaghilev, que veio a ser influente em todo o mundo. A companhia de Diaghilev rapidamente se tornou no destino de muitos dos bailarinos russos treinados que fugiam da fome e da agitação que se seguiu à revolução bolchevique. Estes bailarinos trouxeram muitas das inovações coreográficas e estilísticas que tinha florescido com os czares, de volta ao seu lugar de origem.

No século XX, o Ballet continuou a desenvolver-se e teve uma forte influência sobre a chamada dança de concerto. Por exemplo, nos Estados Unidos, o coreógrafo George Balanchine desenvolveu o que hoje é conhecido como Ballet Neoclássico. Os desenvolvimentos posteriores mais conhecidos incluem o chamado Ballet Contemporâneo (entre outros), visto no trabalho de coreógrafos como William Forsythe ou Pina Bausch, apenas para citar alguns.
O Ballet Clássico é o mais metódico dentre todos os estilos de dança e também é o que mais adere às técnicas de dança tradicionais. Existem algumas variações em relação à área de origem deste género, entre elas, o Ballet russo, francês, italiano e dinamarquês.

Os estilos mais conhecidos de Ballet são o método russo, o método italiano, o método dinamarquês, o método Balanchine ou método New York City Ballet e os métodos Royal Academy of Dance e Royal Ballet School, derivados do método Cecchetti.
As primeiras sapatilhas de Ballet tinham as pontas terrivelmente pesadas para permitir que a bailarina ficasse na ponta dos pés facilmente e aparentasse leveza. Mais tarde ela foi convertida na atual constituição, onde uma “caixa” abriga a ponta dos pés da bailarina e lhe dá suporte para manter o equilíbrio.
O Ballet Contemporâneo é uma forma de dança influenciada pelo Ballet Clássico e pela dança moderna. Utiliza a técnica e o trabalho nas pontas dos pés vindos do Ballet Clássico, muito embora se permita uma maior amplitude de movimentos que não são comuns nas escolas tradicionais de Ballet. Muitos de seus conceitos vêm de ideias e inovações ocorridas na dança moderna do século XX.
Seja como for, dançar seja qual for o estilo – e hoje em dia há-os para todos os gostos – é algo que faz bem ao corpo e à mente. De forma profissional, de forma lúdica, seja rigoroso naquilo que faz e exigente consigo próprio. Procure profissionais devidamente habilitados para o efeito porque, como em muitas áreas da sociedade atual, o que mais não falta são “artistas habilidosos” que se fazem passar por professores altamente competentes e que mais não fazem do que vender “gato por lebre”.

Por isso, aceite novamente o meu conselho, e hoje em particular – dance!!!
Paulo Santos Silva

quinta-feira, 28 de abril de 2016

O PEDITÓRIO CULTURAL



Um jornal titulava «Já é nosso», outro agradecia com um sentido «Obrigado» - no mundo da cultura portuguesa vai uma alegria pueril e incontida pelo sucesso do peditório nacional para a compra, por parte do Museu Nacional de Arte Antiga, do quadro de Domingos Sequeira “A Adoração dos Magos”.
É, de facto, uma boa notícia, mas a satisfação generalizada que perpassa nos jornais e nas redes sociais é cruelmente esclarecedora quanto à realidade da cultura portuguesa.
O sucesso desta operação pública de mecenato popular mostra que a sensibilidade artística dos portugueses tem uma base social mais alargada, que a sociedade se consegue mobilizar economicamente para aquisição de uma obra de arte de autor português. E não há nada de melhor quando o público “constrói” o espólio dos seus museus porque isso revela interesse, amor à arte, capacidade de decisão quanto aquilo que é importante para o bem comum.

No entanto, a “salvação” do quadro de Domingos Sequeira expõe também toda a fragilidade económica do mais importante museu português assim como a inexistência de uma política cultural, por parte do governo, que evitasse este espetáculo deprimente de um peditório nacional para comprar um quadro de pouco mais de meio milhão de euros. Pode até ser enternecedor, mas certamente também é caricato e humilhante.
Estamos a falar de 600 mil euros! Como é possível um ministério da cultura não ter um plano de investimentos que permita aos museus nacionais adquirir obras de arte com algum valor de mercado, de molde a enriquecer o seu acervo e assim atrair mais visitantes? O valor em causa era tão baixo que que o MNAA nem deveria precisar de qualquer ajuda estatal ou privada para fazer esta aquisição, mas a nossa realidade económica, quando falamos de cultura, é esta.

Quando comparo este heroísmo popular na aquisição da tela de Domingos Sequeira com os “azares” dos nossos bancos privados (que fomos obrigados a resgatar), não deixo de sentir uma enorme revolta, porque Portugal só não tem dinheiro para investimentos necessários e úteis, já que para acorrer a trafulhices que correram mal há sempre verba.

Hoje passam 151 anos que nasceu o grande pintor naturalista José Malhoa. A sua obra-prima, Fado, datada de 1910 ilustra bem o seu génio e essa mentalidade pequenina e submissa dos portugueses, que os impede de avançar.
Mantemos aquele fatalismo e saudade que Malhoa pintou há cem anos e por muito cosmopolitas que sejam os nossos banqueiros não deixamos de ser uns pobres magos enganados que continuam a adorar o menino errado.

Gabriel Vilas Boas

quarta-feira, 27 de abril de 2016

FERNÃO DE MAGALHÃES DESCOBRE A GLÓRIA E A MORTE, “PACIFICAMENTE”


Fernão Magalhães é um daqueles heróis que Portugal não mereceu. Morreu cedo, mas alcançou bastante, em pouco tempo. A História fez-lhe a justiça que os seus lhe negaram, obrigando-o a oferecer os seus préstimos de navegador experimentado ao inimigo castelhano.
A par de Cristóvão Colombo, Fernão Magalhães é a glória de Portugal esbanjada e dada gratuitamente ao «inimigo». Felizmente para Portugal, Fernão Magalhães não renegou a pátria que não o apoiou e mesmo trabalhando para Carlos V foi como português que descobriu o mais calmo dos oceanos, depois de atravessar o estreito que hoje tem o seu nome. A sua navegação em busca das Molucas por ocidente, permitiu-lhe cometer o feito de ser o primeiro homem a fazer a primeira viagem de circum-navegação ao globo, inscrevendo o seu nome na História e na Geografia mundiais.

Infelizmente, o infortúnio que o perseguiu durante toda a vida também esteve presente na sua morte. A 27 de abril de 1521 foi morto quando tentava converter ao cristianismo um chefe tribal na pequena ilha de Mactan, nas Filipinas atuais. Só um navio da sua expedição regressou a Sevilha, com apenas dezoito dos 234 homens que partiram e por isso foi outro (Sebastian del Cano) a receber os louros devidos ao transmontano que fez História contra a corrente da época.
Vale a pena voltar a olhar para a História de Fernão Magalhães e aprender algo com ela. As oportunidades estão muitas vezes onde menos se espera assim como os heróis, os grandes feitos, as descobertas mais assombrosas. Talvez por isso seja sempre benéfico apostar em quem se propõe rasgar horizontes, sejam eles de que tipo forem.
Os Magalhães de hoje estão nas universidades e nas empresas. Não repitamos a infeliz decisão do rei Dom Manuel I, que ofereceu ao adversário a glória que deveria ser portuguesa.

Gabriel Vilas Boas 

terça-feira, 26 de abril de 2016

ARQUITETURA, LUXO E EXCENTRICIDADE




O estilo do arquiteto italiano Gianfranco Brignone caracteriza a Costa Careyes, parte litoral do Jalisco, na fachada ocidental do México, onde estão espalhadas dezenas de casas de luxo deste tipo. A sua conceção moderna presta homenagem às tradicionais fachadas de cores garridas e materiais rústicos.
Ecológicos e sofisticados, os telhados de palma e os muros de adobe substituem vantajosamente o ar condicionado. Agarradas à falésia, a Villa cor-de-rosa Sol do Ocidente, rodeada pela sua piscina e a sua irmã Sol do Oriente, vestida de amarelo, agem como sentinelas nos dois lados de uma baía.
Esta costa escarpada, suspensa entre o Oceano Pacífico e a floresta tropical, tornou-se uma nova terra prometida para um grupo muito restrito de gente riquíssima.
A fortuna das três pessoas mais ricas do mundo ultrapassa o PIB total dos 48 países mais pobres do mundo.
Apenas 4% da soma da riqueza das 225 maiores fortunas (1000 mil milhares de milhões de dólares) seriam suficientes para assegurar o acesso à educação, uma alimentação correta e cuidados básicos a toda a população do planeta.

Experimentar fazer isso alguma vez é que seria verdadeiramente excêntrico, luxuoso e uma obra-de-arte de Humanidade.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

«AO ESTADO A QUE ISTO CHEGOU»


A frase pertence a Salgueiro Maia, um dos mais puros heróis da revolução portuguesa de 1974 e foi proferida na madrugada desse lindo dia de 25 de abril de 1974, quando o capitão Salgueiro Maia se dirigiu aos soldados da Escola Prática de Cavalaria, na parada do Quartel, e lhes disse:
«Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas; os estados corporativos e o estado a que isto chegou! Ora nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos. De maneira que quem quiser vem comigo para Lisboa e acabamos com isto. Quem é voluntário sai e forma. Quem não quiser vir não é obrigado e fica aqui.»


Salgueiro Maia chegou a Lisboa com 240 homens, numa coluna de blindados que saiu de Santarém às três da madrugada para mudar o rumo da História de Portugal.
Ao contrário do que o Movimento das Forças Armadas pediu, raros foram os lisboetas que se recolheram em sua casa, talvez pressentindo que o regime estava morto e não haveria luta.
Na manhã do dia 25 de abril de 1974, o Largo do Carmo estava cheio, com gente em cima dos tanques, das árvores e dos postes. E alguém engalanou os canos das G-3 com cravos vermelhos, com se no coração da população só houvesse lugar para a festa e o derramamento de sangue fosse de todo improvável.
No quartel da GNR fronteiro ao Largo do Carmo, Marcelo Caetano recebia a extrema-unção do regime salazarista e entregava o poder sem dar luta, apenas fazendo uma exigência decorativa: entregaria o poder desde que fosse o general Spínola a recebê-lo, porque, segundo Marcelo Caetano, “o poder não podia cair na rua”. Claro que não, ele já estava completamente na rua.



A revolução portuguesa foi provavelmente a revolução mais pacífica da História, porque a ditadura estava totalmente podre, cansada da sua existência e apenas esperava que alguém pegasse o país no colo. Portugal era aquela frase bem-disposta e certeira de Salgueiro Maia. 

Quarenta anos depois, ela parece novamente certeira, só que não falta a liberdade de expressão e a democracia por que todos suspiravam em 1974, mas sim autonomia económica para tomar as decisões que nos parecem mais justas. Não temos nenhum Salgueiro Maia para nos guiar até junto de quem detém o poder sobre Portugal, nem o poder está podre ou cansado. Todavia é bem possível que não existam 240 portugueses capazes de marchar sobre esse poder cego e desumano que aprisiona estados e condiciona gerações. Por vezes chamamos-lhe neoliberalismo, outras vezes interesses económicos, muitas vezes materialismo ou egoísmo. Prefiro chamar-lhe falta de amor a Portugal, que, quer queiramos quer não é o nosso país.
Gabriel Vilas Boas

domingo, 24 de abril de 2016

DA ARTE, DA PINTURA, DE AMADEO DE SOUZA-CARDOSO


Lisboa, 4 de Setembro de 1916

“Meu querido Côrtes-Rodrigues
(…) Vai sair Orpheu 3.É aí que, no fim do número, publico dois poemas ingleses meus, muito indecentes, e, portanto, impublicáveis em Inglaterra. (…)
Orpheu 3 trará, também, quatro hors-textes do mais célebre pintor avançado português-Amadeu de Sousa Cardoso.
A revista deve sair por fins do mês presente. Para a mala que vem já lhe poderei dar notícias mais detalhadas.”
Fernando Pessoa
Carta de Fernando Pessoa para Armando Côrtes-Rodrigues (excerto)





Foram tempos de abertura e liberdade que permitiram dois grandes acontecimentos artísticos, de qualidade muito distinta, bem como uma grande aproximação a Paris, onde tudo mexe.
Esses acontecimentos de que falo, A Exposição Livre (1911) e a I.ª Exposição dos Humoristas (1912) fazem adivinhar uma rutura emergente com o passado tradicional e burguês de um país que, em 1910,corta as amarras a um liberalismo monárquico e traz para a ribalta uma república quase jacobina, goste-se ou não.

Os pintores da Exposição Livre anunciavam, quase em Manifesto: ”Queremos ser livres! Fugimos aos dogmas do ensino, às imposições dos mestres e, quanto possível, às influências das escolas…”.No entanto, esta exposição mais não foi do que uma nova afirmação do Naturalismo, onde Amadeo recusou estar presente, como se comprova neste excerto de uma carta enviada a seu tio: ”Estou em absoluto desacordo com os meus amigos compatriotas que marcham numa rotina atrasada.” .

A I.ª Exposição dos Humoristas foi um grande sucesso. Dela também Amadeo se distanciou e não se fez representar com nenhuma obra. Mas Almada Negreiros, Cristiano Cruz e Jorge Barradas marcaram a diferença, com laivos claros de modernidade presentes nas cores contrastantes e na suavidade da perspetiva, quase esfumada.
Era este o panorama nacional, onde apenas um pintor se destacava, Amadeo, e uma revista, Orpheu, anunciava a modernidade.
 Por estes anos, os seus trabalhos eram visíveis noutras paragens, como verdadeiro “estrangeirado” que era. As ilustrações para La Légende de Saint-Julien l’Hospitalier (1912),o seu álbum  XX Déssins, obras notáveis que qualquer amarantino que se preze conserva com amor na sua biblioteca particular, por mais simples que seja…como a minha, que se agiganta aos olhos de quem a vê, apenas por Amadeo ali ter lugar cativo. De Saint- Julien, diz Amadeo “Meu Pai está satisfeitíssimo comigo, o livro de Saint Julien tem-no maravilhado.” Começa bem decerto aqui uma admiração incondicional do Pai de Amadeo pela talento do seu filho.
Em 1912 ainda, a Galeria Der Sturm, em Berlim, seleciona os seus trabalhos, que expõe, e o Armory Show de Nova Iorque, Boston e Chicago recebe as suas obras impactantes o suficiente para o público americano, de tal ordem que a maioria dos seus quadros é adquirida ali, chegando a Amadeo novas encomendas.

Amadeo de Souza-Cardoso,  Galgos, óleo sobre tela, c.1911

Considero Amadeo um revolucionário que caminhou sempre em busca da perfeição, caminhadas perfeitas entre o traço elegante, o grafismo expressivo da sua linha coerente, até chegar à explosão das perspectivas e dos planos pluri e multifacetados, em reflexão geométrica pura, numa lógica cubista que ele tão bem abraçou, assim como abraçou certas liberdades dadaístas. Almada Negreiros, entusiasmado com esta revelação na arte portuguesa, promove a única exposição que Amadeo realizou em Portugal, Abstraccionismo. Primeiro no Porto, depois em Lisboa,na Liga Naval,1916.

Em 1969, Almada Negreiros, numa entrevista à Capital, lembrava:
“Em 1915,em Lisboa, o correio trouxe-me um postal. O postal dizia assim:
Almada: Viva. Substantivo. Ímpar. Um. Assinado: Amadeo de Souza-Cardoso.
Eu não sabia ainda que no mundo havia uma pessoa chamada Amadeo de Souza-Cardoso! (…). Aquando da preparação da Exposição de 1916 (quando o conheci) eu perguntei-lhe: o seu postal foi por causa do Manifesto anti-Dantas?... Ele respondeu-me: claro. O grito estava dado….”
 
Amadeo de Souza-Cardoso, A Menina dos Cravos, óleo sobre madeira, coleção particular


Hoje, mais um grito está a ser dado em Paris, no Grand Palais. Por isso, sobre ele escrevo, mais uma vez. Ali se desvendam segredos, guardados por Lucie, na sua casa de Paris, num ato de amor puro e compreensível. Lucie não conseguiu separar-se das obras de Amadeo, que lhe eram tão caras e que lhe recordavam momentos ímpares da sua execução, trabalho que ela sempre acompanhou com desvelos de enamorada. Visitar o Grand Palais é urgente. Mesmo para um amarantino, que sabe de cor quase todas as suas obras, mas sobretudo para um amarantino.

Se por lá andarem este fim-de-semana de abril, sugiro uma observação mais detalhada da obra A menina dos Cravos. É tempo de lembrar ventos de liberdade e de mudança. Goste-se ou não. Amadeo também viveu esses ventos, numa outra época, com outros protagonistas.
Rosa Maria Alves da Fonseca

sábado, 23 de abril de 2016

CERVANTES E SHAKESPEARE - DOIS GÉNIOS DA LITERATURA


Entre 22 e 23 de abril de 1616, há precisamente 400 anos, o mundo despedia-se de dois enormíssimos escritores: o espanhol Miguel Cervantes e o inglês William Shakespeare. Nunca mais Espanha e Inglaterra tiveram escritores tão extraordinários.
Miguel Cervantes deixou-nos Dom Quixote De La Mancha, que alguns críticos literários consideraram a melhor obra de ficção de todos os tempos, enquanto Shakespeare legou-nos textos dramáticos imortais como Romeu e Julieta, Macbeth, Sonho de Uma Noite de Verão, O Mercador de Veneza, Rei Lear, Hamlet. As salas de teatro e de cinema tornaram a obra do inglês mais imortal e universal, porque o dramaturgo cria diamantes em bruto que os encenadores e os atores lapidam até à perfeição.

No entanto, a história de Dom Quixote e do seu fiel escudeiro Sancho Pança é muito mais do que o lado B de um romance de cavalaria, onde Cervantes satiriza os preceitos que regiam as histórias fantasiosas daqueles heróis de pacotilha vigentes na época. O mais icónico romance de Cervantes ensina-nos que a utopia e a loucura fazem tão parte da vida quanto a mais concreta realidade, havendo sempre protagonistas para qualquer uma delas. Quatro séculos depois, por cada dez Sanchos encontraremos pelo menos um Dom Quixote que verá gigantes onde os outros vêem apenas moinhos. E como cada um precisa do outro para viver.
O teatro também precisou de Sir William Shakespeare para se reinventar. Desde os enormes Sófocles, Eurípides, Ésquilo que a humanidade não conhecia alguém tão dotado para pôr o Mundo no palco. Felizmente que logo depois apareceu Molière, mas a Felicidade não é dada a generosidades excessivas. 

Quatrocentos anos depois ainda não saímos de cena porque há sempre um Hamlet, um Lear, um Romeu ou uma Julieta que nos habitam de uma maneira tão intensa e profunda que se torna impossível não amar as peças daquele bardo que fazia sonetos e peças de teatros com a mesma sublime categoria. Acresce ainda que o mais conhecido cidadão de Stratford-upon-Avon encantava o seu público com uma linguagem barroca, virtuosamente trabalhada, tão espirituosa quanto sábia. As suas personagens de alta estirpe social eram modelos de linguagem, encantando quer pela forma quer pelo conteúdo.
Cervantes e Shakespeare não podem ficar fechados nas páginas dos livros, evocados numa qualquer nota biográfica de calendário nem apreendidos à pressa em frases célebres postadas nas redes sociais. Precisamos que se entranhem em nós através de espetáculos memoráveis, atuações sublimes e encenações/produções inovadoras.
Precisamos tanto que nos inquietem a vida… outra vez!

Gabriel Vilas Boas 

sexta-feira, 22 de abril de 2016

MUNICIPALIZAR A EDUCAÇÃO: DELEGAR COMPETÊNCIAS OU ALIJAR PROBLEMAS?


A medo, por entreposta pessoa (presidente da Associação Nacional de Municípios – Manuel Machado), o Ministério da Educação lá vai anunciando a sua agenda política para o setor da Educação – colocar toda a escolaridade obrigatória (ensino básico e secundário) sob alçada dos municípios.
A ideia é boa? A ideia é má? Por que ninguém assume e forma clara e inequívoca o conceito?
Será um bom ou um mau caminho consoante o modo como for concretizado. Para já, todos estão de pé atrás, pois ninguém assume se forma evidente o que quer, de que tem medo, o que não quer. Governo e municípios querem a Municipalização da Educação, mas…; os Professores não querem, mas são incapaz de afirmaram claramente a razão principal da sua rejeição.

O governo quer entregar algumas competências sobre a Educação aos municípios, porque é uma grande “chatice” andar a gerir as contratações do pessoal não docente, gerir os concursos para aquisição de serviços das cantinas e papelarias e, sobretudo, fazer obras de fundo nas inúmeras escolas do 1.º e 2.º/3º ciclos. Para ele, era excelente que as câmaras fizessem o serviço. O que não lhes diz é que não transferirá o dinheiro suficiente para isso ou que apenas chegará verbas em dose suficiente para as Câmaras “amigas”. Ora é precisamente este o ponto que as Câmaras mais temem: ter responsabilidades perante as populações e não ter dinheiro para as cumprir.

Não é que lhes desagrade mandar no exército de pessoal auxiliar nem nos concurso públicos para as obras escolares, pois há uma longa lista de clientes habituais à espera de mais uma obra pública perto de casa para executar. No entanto sem dinheiro dos contribuintes ninguém faz flores… Não estou a ver o governo a cumprir integral o que promete aos autarcas, mas estou a ver muitos presidentes de câmara a morderem o isco, até porque a gestão desse dinheiro (pouco ou muito, sempre chegará algum) será deles!

Os professores não querem a Municipalização da Educação. Primeiro óbice: não querem descer de estatuto, passando de funcionários do Estado para funcionários de uma qualquer Câmara Municipal. Perdem força reivindicativa, perdem capacidade de mobilidade no trabalho, ficam mais desprotegidos quanto a um futuro despedimento. Temem (e com razão) que a sua posição nas escolas a que pertencem fique dependente dos humores de quem manda no município lá da terra, onde todos se conhecem demasiado bem, onde há ódios de estimação, onde o nepotismo e o compadrio não são conceitos puramente académicos. Enquanto o concurso for nacional, sempre podem concorrer para outra cidade, porque a vida às vezes dá voltas inesperadas, sem perderem o emprego. Por outro lado, um empregador longe e que desconhece o rosto do pessoal a quem paga sempre é mais aconselhável.
Obviamente que os sindicatos nunca afirmarão isto com tanta crueza, porque, de facto, há razões mais nobres, e porque também eles estão muito interessados, por uma questão de sobrevivência, em que a municipalização não vingue.
O Governo também não quer largar totalmente o comando. Primeiro, por uma questão de honra e poder. A Educação é um pilar fundamental de qualquer sociedade e abdicar dela seria perder poder e desse modo já não haverá justificação para ficar com qualquer parte do orçamento dedicado à área. Além do mais, quem negociaria os grandes contratos ligados à Educação, como o dos manuais escolares? 

Além disso, a Municipalização da Educação completa implicaria a substituição de um curriculum nacional por um curriculum regional, o que poria em causa algumas provas/exames nacionais que “verificam” a avaliação das escolas ao mesmo tempo que selecionam candidatos para as universidades. Não estou a ver a população a aceitar isso pacificamente.
A tutela sobre os professores o governo manterá por enquanto, mas gostava de não manter. Os “profes” só causam aborrecimentos: reivindicativos, números, não têm vergonha para sair à rua e fazer manifestações que “entalam” governantes… por isso o melhor é não agitar as águas e preparar o cerco lentamente. Como se cozessem um pato vivo em água tépida de piscina.
O mais triste na Municipalização da Educação em Portugal é que ninguém parece estar de boa- fé e queira apenas dar o seu singelo contributo para que um setor tão importante da vida nacional funcione melhor. A isto acresce um secretismo comprometedor e de mau agoiro. Por que não se ausculta a opinião de municípios, professores, encarregados de educação, pessoal não docente sobre este importante e estruturante projeto, através de um inquérito, onde todas as propostas seriam apresentadas e assumidas pelas partes? Não gosto de gatos escondidos com rabos de fora!
Gabriel Vilas Boas


quinta-feira, 21 de abril de 2016

ENTREVISTA A PAULO GUINOTE (SEGUNDA PARTE)

    

   Há uma década, criou o blogue Educação do Meu Umbigo, o qual decidiu encerrar há um ano. Este projeto pessoal mudou a sua perceção dos seus colegas e da Educação em Portugal? O que mais o surpreendeu durante esses dez anos de troca de ideias, na blogosfera, com outros agentes educativos?
O nível de confiança que se estabeleceu entre pessoas que raramente se conheciam pessoalmente, algo que permitiu uma partilha de informações e conspirações sem paralelo no passado da profissão docente.

Vários professores de História consideram que cumprir o programa da disciplina, no terceiro ciclo, na carga horária programada é como tentar “meter o Rossio na Betesga”. O que fazer: exigir mais horas para a disciplina ou alterar o programa?
Tentar fazer uma adequação mais correcta entre o que se pretende que os alunos aprendam e o tempo disponível. Pessoalmente, defendo uma unificação dos 2.º e 3.º ciclos num ciclo único de 5 anos, o que permitiria, no caso específico da escola, uma abordagem diferente do programa, com menos repetições, leccionando-se da Pré-História à queda do Império Romano do Ocidente no 5º e 6º ano e da Idade Média à Contemporânea do 7º ao 9º ano.

Acha que os Diretores dos Agrupamentos de escolas deviam ter limitação de mandatos?
Sim, sem qualquer dúvida. Três mandatos, sem subterfúgios.

Tem crescido o número de alunos com necessidades educativas especiais, em Portugal, assim como as queixas dos seus encarregados de educação relativamente ao pouco acompanhamento das escolas. Como fazer mais e melhor?
Despiste precoce das situações e acompanhamento por equipas multidisciplinares a sério e não apenas por professores “com jeito” para a coisa ou com formações apressadas.

   

   Um dos aspetos fundamentais da política educativa da última década foi a concentração de escolas em Agrupamentos ou Mega Agrupamentos. Agora que o processo está consolidado, pode dizer-se que foi uma estratégia adequada do ponto de vista educativo?
     Não. Acho que foi um dos maiores erros da política educativa dos últimos 15 anos, apesar de todos os ministros considerarem adequada essa medida por produzir economias de escala e baixar o custo médio por aluno. Esta estratégia conduz a uma desumanização das relações nos mega-agrupamentos, a uma macrocefalia da gestão e a a um cada vez maior distanciamento entre os decisores e os corredores e salas de aula das escolas. Sendo as principais vítimas as escolas do 1.º ciclo.
Já consegue fazer um balanço sobre o atual Ministro da Educação?
Não. Embora a evolução mais recente comece a deixar-me muito receoso quanto à possibilidade de se tornar mais um elo num processo de esvaziamento da Educação numa lógica de low cost.

A título mais pessoal, porquê um “Quintal” depois de um “Umbigo” tão bem sucedido?
Porque era necessário encerrar um ciclo, muito intenso. Ter uma pausa para respirar, pensar e arrancar com um projecto – que até apareceu antes do previsto – mais pessoal.
 Sobre o livro 08/03/08 - Memórias da Grande Marcha dos Professores, o que o levou a escrevê-lo?
A necessidade que senti de preservar desde já a memória de um acontecimento singular da nossa História recente, principalmente a partir dos seus participantes de base. Evitar que essa memória seja amputada ou manipulada pelos “vencedores”, como acontece muitas vezes com a escrita da História.

      
Será professor até ao final da carreira ou caminhará para outras paragens no futuro? Alguma vez foi convidado para ocupar outros cargos?
Não sei o que farei daqui a 5 anos, em virtude do desânimo que mais cedo ou mais tarde nos atinge a todos. Mas sei que não tenho qualquer tentação por uma alternativa de tipo “político”. A ter uma aspiração seria a de poder ler e escrever a tempo inteiro e ensinar por prazer, sem cronometragem ao minuto.


Se voltasse atrás no tempo, seria novamente professor?
          Não sei. O “efeito borboleta” torna muito aleatório esse tipo de previsão retroactiva. Sei       apenas que continuaria a gostar imenso de História e de escrever (e ler).
Por fim sobre o seu Sporting, qual gosta mais: do presidente, do treinador e/ou do futebol praticado pela equipa?
No momento corrente, não gosto muito de nenhum, mesmo se o futebol praticado é o que me desgosta menos. O treinador diverte-me, até pelo facto de ter começado com um discurso que já teve de meter no saco, pois nada ganhará (é o meu prognóstico neste momento). Quanto ao presidente, enfim, no mundo do futebol acontece um pouco de tudo e este tipo de “cromos” nem é dos piores. Acredito que se considera, ele mesmo, uma “muralha d’aço”. Resta saber se o é e se não fragilizou o clube com tantas frentes de batalha.

Nesta entrevista, Paulo Guinote esteve igual a si próprio: claro, assertivo, não a dar opiniões sobre temas polémicos mas não buscando polémicas gratuitas e estéreis. Opinião livre e absolutamente independente, o professor Paulo Guinote procura contribuir com o seu pensamento para que a Escola portuguesa seja cada vez melhor e que os professores tenham consciência do seu papel preponderante nessa ação de renovação e inovação

 GABRIEL VILAS BOAS

quarta-feira, 20 de abril de 2016

TRUTH - Conspiração e Poder


No último fim-de-semana assisti a um filme recentemente estreado em Portugal: Truth – Conspiração e Poder, muito bem protagonizado por Cate Blanchett e Robert Redford. É um filme sobre jornalismo (e como ele me atrai!), sobre o poder, sobre a hipocrisia, sobre o conceito de Verdade.
Ninguém melhor do que um jornalista sabe que a “verdade é aquilo que se consegue provar que existiu”, por isso um jornalista tem de apresentar evidências da história que apresenta ao seu público. Quem trabalha em jornalismo político sabe, como ninguém, que verdades inconvenientes contadas na altura errada destroem carreira políticas e desfazem o poder laboriosamente construído em teias de cumplicidades, favores e intrigas.

TRUTH baseia-se num caso real acontecido em 2004, aquando da reeleição do ex-presidente norte-americano George Bush. Nessa altura, à cadeia de televisão CBS e à produção do prestigiado programa 60’ Minutes chega a bombástica informação de que o presidente Bush teria escapado a cumprir serviço militar no Vietnam, fruto dos altos “contactos”, vulgo cunhas, do seu pai, que tratou de o colocar como piloto da Guarda Nacional, de modo a evitar a mais traumática guerra da história dos EUA.
A produtora Mary Mapes (Cate Blanchett) forma uma equipa de investigação jornalística que reúne provas documentais e testemunhos, aparentemente sólidos, que comprometem a credibilidade do presidente americano. Dan Rather (Robert Redford) dá a cara pela reportagem que é emitida, causando grande sensação no meio político americano. No entanto, durou pouco a satisfação da dupla Mary Mapes/Dan Rather, pois rapidamente a máquina política de Bush tratou de desacreditar a reportagem, apontando para a falsidade de um dos documentos. Mapes reparou que fora enganada por um das suas fontes e que esse documento não era, de facto, verdadeiro, mas o essencial da história sim. O problema é que as restantes fontes recuaram nos seus testemunhos e não confirmaram a história da CBS, que, por estratégia comercial, decidiu pedir desculpas públicas pela reportagem, parar toda a investigação sobre o serviço militar de Bush, despedir toda a equipa de Mapes, com exceção de Dan Rather que percebeu que era chegada a altura de se reformar.
Como muito bem assinala Cate Blanchett, num discurso final fortíssimo,o jornalismo tem o direito de questionar, de procurar respostas para questões nubulosas de quem exerce o poder. E esse direito à “Verdade” é muitas vezes negado pela trituradora máquina partidária.
TRUTH vem lembrar que, muitas vezes, quando não gostamos da mensagem (notícia) matamos o mensageiro (jornalista), procurando desacreditar determinada investigação/notícia incómoda sobre o nosso herói de pés de barro, antes de nos interrogarmos sobre o que há de verdade naquela história.
TRUTH não é um filme excecional, até porque é a primeira vez que James Vanderbilt dirige um filme e talvez por isso não tenha conseguido estripar-lhe algumas cenas melodramáticas dispensáveis nem fugir a uma montagem muito esquemática, mas TRUTH tem uma interpretação fabulosa de uma enorme atriz - Cate Blanchett – no papel de Mary Mapes. Cate mostra-nos um jornalista corajosa, sensível, vulnerável e corajosa que nos cativa, que nos comove, que nos convence. 
Blanchett fez mais por TRUTH do que o filme fez por ela!

Gabriel Vilas Boas