Etiquetas

domingo, 10 de abril de 2016

SER DE ALGUÉM


Há umas semanas a “Notícias Magazine” publicava um interessante trabalho sobre as crianças abandonadas que ninguém quer adotar nem sequer acolher. Nessa reportagem referia-se que as famílias portuguesas estão menos disponíveis para acolher crianças em risco. E perde-se por quê – estas crianças vêm cheias de “defeitos”: umas consomem drogas, outras têm um passado ligado ao roubo, quase todas têm a escola da rua, nenhuma cresceu numa família minimamente estruturada.

O trabalho é muito mais profundo e difícil do que educar - é preciso reeducá-las! Trabalho hercúleo e muitas vezes inglório, pois não é nada certo que estas crianças/adolescentes adiram ao “programa” nem que o “programa reeducacional” seja o mais adequado às suas necessidades.
Quando reflito em alguns casos, cuja realidade conheço, há duas/três ideias que se repetem: estas crianças precisam de Amor incondicional; estas crianças precisam de limpar as dolorosas mágoas deixadas pela família que as abandonou; estas crianças precisam de pertencer a alguém. É mais do que ser amadas por alguém, é ser de alguém! Uma espécie de casa afetiva de onde nunca terão de partir; um refúgio onde encontrem aconchego emocional após mais uma recaída.

Estas crianças / adolescentes almejam contar para a vida de alguém, fazer parte dela e tornarem-se vitais. A maioria de nós só experimenta este estado de orfandade na velhice, quando a morte levou todos aqueles que amávamos e nos impôs a solidão. É horrível crescermos conscientes da nossa total e absoluta irrelevância afetiva. Ninguém nos espera para jantar; ninguém sofre por causa dos nossos insucessos; ninguém se preocupa connosco. É inevitável que mais dia, menos dia perguntemos: Para onde corremos? Por que corremos?
Uma criança abandonada, daquelas que ninguém quer sequer acolher, sente tudo isto ao cubo!
Ser de alguém, contar como elemento estrutural na vida de alguém é fundamental. Carregamos imensos tesouros todos os dias e não nos damos conta do seu valor. Umas vezes cometemos a loucura de os desprezar, outras vezes depreciámo-los ou simplesmente desbaratámo-los. Há experiências que não vale a pena viver – só de ver já marca o suficiente.

GAVB

Sem comentários:

Enviar um comentário