Há umas semanas a “Notícias Magazine”
publicava um interessante trabalho sobre as crianças abandonadas que ninguém
quer adotar nem sequer acolher. Nessa reportagem referia-se que as famílias
portuguesas estão menos disponíveis para acolher crianças em risco. E perde-se
por quê – estas crianças vêm cheias de “defeitos”: umas consomem drogas, outras
têm um passado ligado ao roubo, quase todas têm a escola da rua, nenhuma
cresceu numa família minimamente estruturada.
O trabalho é muito mais profundo e difícil
do que educar - é preciso reeducá-las!
Trabalho hercúleo e muitas vezes inglório, pois não é nada certo que estas
crianças/adolescentes adiram ao “programa” nem que o “programa reeducacional”
seja o mais adequado às suas necessidades.
Quando reflito em alguns casos, cuja
realidade conheço, há duas/três ideias que se repetem: estas crianças precisam
de Amor incondicional; estas crianças precisam de limpar as dolorosas mágoas
deixadas pela família que as abandonou; estas crianças precisam de pertencer a
alguém. É mais do que ser amadas por alguém, é ser de alguém! Uma espécie de
casa afetiva de onde nunca terão de partir; um refúgio onde encontrem aconchego emocional após mais uma recaída.
Estas crianças / adolescentes almejam
contar para a vida de alguém, fazer parte dela e tornarem-se vitais. A maioria
de nós só experimenta este estado de orfandade na velhice, quando a morte levou
todos aqueles que amávamos e nos impôs a solidão. É horrível crescermos
conscientes da nossa total e absoluta irrelevância afetiva. Ninguém nos espera
para jantar; ninguém sofre por causa dos nossos insucessos; ninguém se preocupa
connosco. É inevitável que mais dia, menos dia perguntemos: Para onde corremos? Por que corremos?
Uma criança abandonada, daquelas que
ninguém quer sequer acolher, sente tudo isto ao cubo!
Ser de alguém, contar como elemento
estrutural na vida de alguém é fundamental. Carregamos imensos tesouros
todos os dias e não nos damos conta do seu valor. Umas vezes cometemos a loucura de
os desprezar, outras vezes depreciámo-los ou simplesmente desbaratámo-los. Há
experiências que não vale a pena viver – só de ver já marca o suficiente.
GAVB
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