Hoje, a Câmara dos Deputados do Brasil
vota o processo de destituição da presidente Dilma Rousseff. Ganhe quem
ganhar, o Brasil perde sempre. Perde porque fica dividido, perde porque fica
claro que a maioria dos deputados, que votou, orientou o seu sentido de votou por
“conveniências pessoas” e não pela apreciação correta do processo de
destituição, perde porque se tornou claro que quer oposição quer governo “são
farinha do mesmo saco” e todos eles deviam ser destituídos.
Curiosamente, nem governo (que fala em
golpe de estado) nem oposição que acusa Dilma de falhas tão graves, quer devolver a voz ao povo e marcar
eleições.
Os últimos dias, Brasília tem sido palco
de um espetáculo deprimente, em que os líderes dos principais partidos políticos
brasileiros tentam comprar o voto dos deputados e estes se vendem
declaradamente ao melhor preço.
O Brasil moderno e socialmente mais
equilibrado, que o petróleo permitiu e a governação de Lula reivindicava como
património político diferenciado, sucumbiu completamente a esta mentalidade de
tráfico de influências que todos assumem às claras. O bem-estar da população, a
situação económica do país, a verdade sobre as ações ou omissões da presidente
Dilma, a corrupção comprovada parecem assuntos menores nesta luta brutal pelo
poder puro e duro. Interessa ganhar ou evitar que os outros ganhem; os meios
usados justificam todos os fins.
Nenhum povo, nenhum país consegue ser
respeitado assim. Ganhando ou perdendo, estes ou outros lutadores continuarão,
no futuro, a lutar no ringue de lama em que se tornou a vida política do Brasil.
Farão inúmeras piruetas, dirão discursos eloquentes, farão amigos hoje para os
tornar inimigos amanhã, porque o prémio é aliciante (o dinheiro que deveria ser
de todos e usado para o bem comum) e porque haverá sempre um exército de
imbecis, por detrás de qualquer muro da vergonha, a fazer manifestações de
apoio a gente que não merece apoio nenhum. Na generalidade, parecem quase todos
maus, sem razão, sem ética, sem vergonha.
Claro que me custa ver aquilo em que Lula se
tornou, mas os factos comprovam como ele traiu os ideais que durante tantos
anos proclamou. Lula, Dilma, o PT falharam e falharam naquilo que devia ser
sagrado para eles: a confiança do povo que neles votou e acreditou que “desta
vez” é que era, desta vez o Brasil ia ser um país mais justo, mais verdadeiro,
menos dado a manigâncias de poder.
Lamento imenso que o Brasil esteja a
destituir-se, a desqualificar-se, a impedir-se de avançar. Os Deputados do
Brasil dar-me-iam uma alegria enorme se votassem um impeachment a si próprios e
devolvessem o poder aos brasileiros.
Terão os brasileiros coragem de assumir o que querem?
Terão os brasileiros coragem de assumir o que querem?
Gabriel Vilas Boas
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