O Jornal
de Notícias noticiava hoje, numa tira impessoal na 1.ª página, que uma
professora (mais uma!) fora agredida, em Braga, por duas alunas.
Obviamente, a notícia passou despercebida
à maioria tal a normalidade que constitui a agressão a professores dentro da
Escola Pública em Portugal, sem que a sociedade censure, repudie ou se indigne.
Também por aqui se vê claramente a perda de estatuto social dos professores e
educadores, que nem quando são humilhados no exercício da sua profissão têm um
simples aceno de afeto por parte da população.
No entanto, o mais cruel desta notícia estava
no seu interior. Insultada e agredida, a professora de 55 anos da E.B. 2/3 de Nogueira,
em Braga, viu a mais velha das agressoras puxar-lhe com tal violência o cabelo
que até lho arrancou. Nesse momento de profunda dor e humilhação, a professora
absorveu, mais uma vez, toda a fragilidade física que o cancro impõe às suas
vítimas. Foi chorar sozinha para uma sala vazia, antes de receber tratamento
hospitalar. Chorou certamente todo o horror em que a sua vida se tornou e de
que aquela situação era a metáfora perfeita.
Uma professora, com mais de trinta anos de
serviço, corroída pelo cancro, é obrigada a trabalhar, sujeitando-se a todo o
tipo de humilhações como se tivesse de espiar crimes horrendos.
Aquelas raparigas, brutos carrascos de um
sistema que nos consome e aleija, personificaram cabalmente toda a insensibilidade
maldosa que corrói a alma de um povo como um cancro voraz.
Gabriel Vilas Boas
Sem comentários:
Enviar um comentário