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terça-feira, 12 de abril de 2016

ARRANCARAM-LHE OS CABELOS E A DIGNIDADE COMO O CANCRO LHE ARRANCA A VIDA


O Jornal de Notícias noticiava hoje, numa tira impessoal na 1.ª página, que uma professora (mais uma!) fora agredida, em Braga, por duas alunas.
Obviamente, a notícia passou despercebida à maioria tal a normalidade que constitui a agressão a professores dentro da Escola Pública em Portugal, sem que a sociedade censure, repudie ou se indigne. Também por aqui se vê claramente a perda de estatuto social dos professores e educadores, que nem quando são humilhados no exercício da sua profissão têm um simples aceno de afeto por parte da população.
No entanto, o mais cruel desta notícia estava no seu interior. Insultada e agredida, a professora de 55 anos da E.B. 2/3 de Nogueira, em Braga, viu a mais velha das agressoras puxar-lhe com tal violência o cabelo que até lho arrancou. Nesse momento de profunda dor e humilhação, a professora absorveu, mais uma vez, toda a fragilidade física que o cancro impõe às suas vítimas. Foi chorar sozinha para uma sala vazia, antes de receber tratamento hospitalar. Chorou certamente todo o horror em que a sua vida se tornou e de que aquela situação era a metáfora perfeita.
Uma professora, com mais de trinta anos de serviço, corroída pelo cancro, é obrigada a trabalhar, sujeitando-se a todo o tipo de humilhações como se tivesse de espiar crimes horrendos.
Aquelas raparigas, brutos carrascos de um sistema que nos consome e aleija, personificaram cabalmente toda a insensibilidade maldosa que corrói a alma de um povo como um cancro voraz.
Gabriel Vilas Boas

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