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quinta-feira, 21 de abril de 2016

ENTREVISTA A PAULO GUINOTE (SEGUNDA PARTE)

    

   Há uma década, criou o blogue Educação do Meu Umbigo, o qual decidiu encerrar há um ano. Este projeto pessoal mudou a sua perceção dos seus colegas e da Educação em Portugal? O que mais o surpreendeu durante esses dez anos de troca de ideias, na blogosfera, com outros agentes educativos?
O nível de confiança que se estabeleceu entre pessoas que raramente se conheciam pessoalmente, algo que permitiu uma partilha de informações e conspirações sem paralelo no passado da profissão docente.

Vários professores de História consideram que cumprir o programa da disciplina, no terceiro ciclo, na carga horária programada é como tentar “meter o Rossio na Betesga”. O que fazer: exigir mais horas para a disciplina ou alterar o programa?
Tentar fazer uma adequação mais correcta entre o que se pretende que os alunos aprendam e o tempo disponível. Pessoalmente, defendo uma unificação dos 2.º e 3.º ciclos num ciclo único de 5 anos, o que permitiria, no caso específico da escola, uma abordagem diferente do programa, com menos repetições, leccionando-se da Pré-História à queda do Império Romano do Ocidente no 5º e 6º ano e da Idade Média à Contemporânea do 7º ao 9º ano.

Acha que os Diretores dos Agrupamentos de escolas deviam ter limitação de mandatos?
Sim, sem qualquer dúvida. Três mandatos, sem subterfúgios.

Tem crescido o número de alunos com necessidades educativas especiais, em Portugal, assim como as queixas dos seus encarregados de educação relativamente ao pouco acompanhamento das escolas. Como fazer mais e melhor?
Despiste precoce das situações e acompanhamento por equipas multidisciplinares a sério e não apenas por professores “com jeito” para a coisa ou com formações apressadas.

   

   Um dos aspetos fundamentais da política educativa da última década foi a concentração de escolas em Agrupamentos ou Mega Agrupamentos. Agora que o processo está consolidado, pode dizer-se que foi uma estratégia adequada do ponto de vista educativo?
     Não. Acho que foi um dos maiores erros da política educativa dos últimos 15 anos, apesar de todos os ministros considerarem adequada essa medida por produzir economias de escala e baixar o custo médio por aluno. Esta estratégia conduz a uma desumanização das relações nos mega-agrupamentos, a uma macrocefalia da gestão e a a um cada vez maior distanciamento entre os decisores e os corredores e salas de aula das escolas. Sendo as principais vítimas as escolas do 1.º ciclo.
Já consegue fazer um balanço sobre o atual Ministro da Educação?
Não. Embora a evolução mais recente comece a deixar-me muito receoso quanto à possibilidade de se tornar mais um elo num processo de esvaziamento da Educação numa lógica de low cost.

A título mais pessoal, porquê um “Quintal” depois de um “Umbigo” tão bem sucedido?
Porque era necessário encerrar um ciclo, muito intenso. Ter uma pausa para respirar, pensar e arrancar com um projecto – que até apareceu antes do previsto – mais pessoal.
 Sobre o livro 08/03/08 - Memórias da Grande Marcha dos Professores, o que o levou a escrevê-lo?
A necessidade que senti de preservar desde já a memória de um acontecimento singular da nossa História recente, principalmente a partir dos seus participantes de base. Evitar que essa memória seja amputada ou manipulada pelos “vencedores”, como acontece muitas vezes com a escrita da História.

      
Será professor até ao final da carreira ou caminhará para outras paragens no futuro? Alguma vez foi convidado para ocupar outros cargos?
Não sei o que farei daqui a 5 anos, em virtude do desânimo que mais cedo ou mais tarde nos atinge a todos. Mas sei que não tenho qualquer tentação por uma alternativa de tipo “político”. A ter uma aspiração seria a de poder ler e escrever a tempo inteiro e ensinar por prazer, sem cronometragem ao minuto.


Se voltasse atrás no tempo, seria novamente professor?
          Não sei. O “efeito borboleta” torna muito aleatório esse tipo de previsão retroactiva. Sei       apenas que continuaria a gostar imenso de História e de escrever (e ler).
Por fim sobre o seu Sporting, qual gosta mais: do presidente, do treinador e/ou do futebol praticado pela equipa?
No momento corrente, não gosto muito de nenhum, mesmo se o futebol praticado é o que me desgosta menos. O treinador diverte-me, até pelo facto de ter começado com um discurso que já teve de meter no saco, pois nada ganhará (é o meu prognóstico neste momento). Quanto ao presidente, enfim, no mundo do futebol acontece um pouco de tudo e este tipo de “cromos” nem é dos piores. Acredito que se considera, ele mesmo, uma “muralha d’aço”. Resta saber se o é e se não fragilizou o clube com tantas frentes de batalha.

Nesta entrevista, Paulo Guinote esteve igual a si próprio: claro, assertivo, não a dar opiniões sobre temas polémicos mas não buscando polémicas gratuitas e estéreis. Opinião livre e absolutamente independente, o professor Paulo Guinote procura contribuir com o seu pensamento para que a Escola portuguesa seja cada vez melhor e que os professores tenham consciência do seu papel preponderante nessa ação de renovação e inovação

 GABRIEL VILAS BOAS

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