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domingo, 31 de março de 2019

UM PROFESSOR INDIFERENCIADO NUMA ESCOLA IRRELEVANTE E INÚTIL


A escola portuguesa vive um momento de viragem perigoso, que a pode tornar irrelevante e inútil para a maioria dos jovens portugueses. A teia está montada e será muito difícil quebrar o ciclo vicioso em que caímos. 
Uma geração de professores competentes e conhecedores,(ainda que muitos deles desfasados face ao modo de conectar Escola com as exigências da sociedade atual) está cansada, desencantada e sem forças para lutar contra a incompetência de quem não sabe fazer nem deixa quem sabe executar o que tem de ser feito. 

Do outro lado da barricada, um conjunto de governantes tecnocratas, que apenas conhecem o eduquês, e que querem tornar a Escola um espaço onde apenas se passa o tempo e se aprende superficialmente alguns conteúdos, na condição de todos obterem aprovação. 

Percebendo que encontraram cada vez menos professores competentes para estar nas escolas, os governantes portugueses tudo farão para retirar "conteúdo" ao ensino, obrigando os professores a aligeirar na avaliação, retirando carga letiva a disciplinas essenciais do currículo com é o caso de História e enchendo o horário dos alunos de atividades multidisciplinares, onde qualquer um pode ser professor. 

Daqui a pouco tempo, teremos um novo tipo de professor na escola - o professor indiferenciado. Aquele que tanto dará aulas de cidadania, como ensinará os alunos a andar de bicicleta ou coordenará as atividades que envolvem a flexibilidade escolar. 

Quando alguns pais olharem bem para o horário dos seus filhos, perceberão finalmente que grande parte do tempo não será ocupado a aprender Química, Biologia, História, Francês ou Geografia. Nenhuma dessas disciplinas terá mais de dois tempos letivos semanais, mas entretanto crescerá o tempo para o professor indiferenciado. 

E aqueles alunos que querem aprender, onde terão lugar? Nas escolas privadas! O último refúgio de quem queira e possa pagar um ensino com alguma qualidade, organização visão. 
Oficialmente todos terão a oportunidade de andar doze anos na escola, mas só quem tiver dinheiro poderá fugir a uma escola irrelevante, faz de conta e pouco útil. 

O sonho de Abril irá esfarelar-se entre os dedos daqueles que o criaram. Esses mesmos legarão aos netos um simulacro da verdadeira liberdade que tanto sonharam. 
Gabriel Vilas Boas

UM PROFESSOR INDIFERENCIADO NUMA ESCOLA IRRELEVANTE E INÚTIL


A escola portuguesa vive um momento de viragem perigoso, que a pode tornar irrelevante e inútil para a maioria dos jovens portugueses. A teia está montada e será muito difícil quebrar o ciclo vicioso em que caímos. 
Uma geração de professores competentes e conhecedores,(ainda que muitos deles desfasados face ao modo de conectar Escola com as exigências da sociedade atual) está cansada, desencantada e sem forças para lutar contra a incompetência de quem não sabe fazer nem deixa quem sabe executar o que tem de ser feito. 

Do outro lado da barricada, um conjunto de governantes tecnocratas, que apenas conhecem o eduquês, e que querem tornar a Escola um espaço onde apenas se passa o tempo e se aprende superficialmente alguns conteúdos, na condição de todos obterem aprovação. 

Percebendo que encontraram cada vez menos professores competentes para estar nas escolas, os governantes portugueses tudo farão para retirar "conteúdo" ao ensino, obrigando os professores a aligeirar na avaliação, retirando carga letiva a disciplinas essenciais do currículo com é o caso de História e enchendo o horário dos alunos de atividades multidisciplinares, onde qualquer um pode ser professor. 

Daqui a pouco tempo, teremos um novo tipo de professor na escola - o professor indiferenciado. Aquele que tanto dará aulas de cidadania, como ensinará os alunos a andar de bicicleta ou coordenará as atividades que envolvem a flexibilidade escolar. 

Quando alguns pais olharem bem para o horário dos seus filhos, perceberão finalmente que grande parte do tempo não será ocupado a aprender Química, Biologia, História, Francês ou Geografia. Nenhuma dessas disciplinas terá mais de dois tempos letivos semanais, mas entretanto crescerá o tempo para o professor indiferenciado. 

E aqueles alunos que querem aprender, onde terão lugar? Nas escolas privadas! O último refúgio de quem queira e possa pagar um ensino com alguma qualidade, organização visão. 
Oficialmente todos terão a oportunidade de andar doze anos na escola, mas só quem tiver dinheiro poderá fugir a uma escola irrelevante, faz de conta e pouco útil. 

O sonho de Abril irá esfarelar-se entre os dedos daqueles que o criaram. Esses mesmos legarão aos netos um simulacro da verdadeira liberdade que tanto sonharam. 
Gabriel Vilas Boas

terça-feira, 26 de março de 2019

PARLAMENTO BRITÂNICO PENSA QUE A UNIÃO EUROPEIA É COMMONWEALTH

A maioria dos deputados ingleses votou, nas últimas horas, uma resolução que atribui ao Parlamento o controlo sobre a votação de amanhã (27/3), que decidirá sobre o acordo (ou não) para a saída do Reino unido da união Europeia (UE).

Na prática, o Parlamento britânico não só não quer o acordo que May negociou com a União Europeia, como quer votar "outro" acordo, que, na prática, não existe. Os deputados do Reno Unido querem votar "cenários alternativos" de saída controlada da UE, pois acham que o acordo negociado pela primeira-ministra é mau. Eles pensam que isso é possível, mas não é!

O que os deputados britânicos dizem a May é muito simples:

"Foste muito fraca a negociar!Não queremos o acordo que conseguiste. Pega neste ou num destes, que agora te danos, e impõe-no a Bruxelas"

May já lhes disse que não estão a ser realistas, mas os deputados britânicos continuam autistas perante a realidade. Muitos deles pensam que a União Europeia é uma espécie de Commonwealth europeia, onde eles ditam as regras e os outros obedecem.

Os ingleses querem sair? Façam o favor! Querem uma saída ordenada? Respeitem as regras da maioria.
Não querem as regras da maioria? saem de modo desordenado! 
Perdemos todos? Claro que sim, mas, talvez esteja na altura de muitos ingleses perceberem que os países da União Europeia não são ex. colónias britânicas.

Gabriel Vilas Boas

domingo, 24 de março de 2019

POR QUE RAZÃO A VIDA NOS PARECE TÃO CURTA?


"Para ser honesto, a vida é curta não pelo número de anos que se vive, mas pela raridade de momentos cheios de felicidade!" 

Coskun Cokbulan



“O meu coração sempre ansiou por aventuras, mesmo quando era criança; agora, eu acordo todas as manhãs pronto para ir encontrá-lo." Alex V

quinta-feira, 21 de março de 2019

FANATISMO



Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.

Meus olhos andam cegos de te ver.

Não és sequer razão do meu viver

Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...

Passo no mundo, meu Amor, a ler

No mist'rioso livro do teu ser

A mesma história tantas vezes lida!...

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa...

Quando me dizem isto, toda a graça

Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:

"Ah! podem voar mundos, morrer astros,

Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

Florbela Espanca

sábado, 16 de março de 2019

SE DEREM OS FILHOS PARA ADOÇÃO, MÃES IMIGRANTES NÃO SERÃO EXPULSAS DE ESPANHA

Leio o título e ficou automaticamente chocado. Tenho de voltar a ler com cuidado, pois parece-me irreal. Abro a notícia e leio-a com cuidado. Não há engano. Procuro outras fontes, mas as piores expectativas confirmam-se. Nada há de faccioso no título.

"O Partido Popular (PP) espanhol propõe que as imigrantes ilegais em Espanha que deem os seus filhos para a adoção não sejam expulsas do país. A medida polémica faz parte da estratégia do PP para combater a descida da natalidade em Espanha, e está a ser anunciada na campanha do líder do partido, Pablo Casado. 
Segundo a proposta, se uma mulher que estiver em Espanha sem documentação decidir entregar o seu filho para a adoção, passa a ficar protegida da deportação, ainda que por tempo limitado (podendo ainda, no futuro, vir a ser mandada para o seu país de origem, apesar de já ter abdicado do filho), adianta o jornal La Vanguardia . 
Atualmente, a lei prevê um mecanismo que conduz, automaticamente, as mulheres para fora do país, se, estando em situação irregular, esta entregar o seu filho - e é este mecanismo que o PP pretende desativar, se vencer as eleições. 
O partido argumenta que a medida está a ser bem-sucedida na Comunidade de Madrid (uma comunidades autónomas da Espanha, localizada no centro do país), e que deve ser alargada a nível nacional.", TSF

Quando um partido, como o PP, com as responsabilidades sociais e políticas que tem na sociedade espanhola, faz uma propostas destas algo vai muito mal na cabeça daquela gente. 
Há no mundo muitos países com um deficiente grau de desenvolvimento humano, onde não há democracia, liberdade de expressão nem os direitos são iguais entre homens e mulheres ou para todos os grupos sociais, étnicos ou religiosos, mas não me lembro de nenhum que criasse uma lei onde as mulheres/mães europeias a residir ilegalmente no país pudesseM adiar alguns meses a deportação se dessem os seus filhos para adoção.

Quem propõe aquilo que o PP espanhol propõe não sabe o valor de um filho, não percebe nada de dignidade humana, não pode almejar ser o representante de povo nenhum.
A melhor resposta a esta abjeta proposta do partido de Pablo Casado deu-a a presidente da Câmara de Barcelona, Ada Calau: "Machistas. Racistas. Classicistas. Só nos faltava sequestradores de crianças. Fascistas."

sexta-feira, 15 de março de 2019

A AUTONOMIA AINDA ESTÁ A COMEÇAR, MAS PROMETE ENCALHAR

É arrasador a auditoria realizada pelo Tribunal de Contas aos contratos de autonomia realizados entre o Ministério da Educação e algumas escolas. 
"Contratos inúteis e desadequados", "sem controlo nem revisão", "mais de 75% dos objetivos definidos não são mensuráveis" - são alguns do mimos que o relatório do Tribunal de Contas dispensa aos projetos de autonomia, em execução na Escola Pública portuguesa.

Para o Tribunal de Contas parece não haver muitas dúvidas quanto ao futuro deste bebé prematuro do ministério de Tiago Brandão Rodrigues - acabar com o atual modelo ou alterar o regime jurídico dos contratos em vigor.

Para homens e mulheres habituados a contas, é muito difícil entender como nem 40% dos objetivos operacionais traçados em cada projeto de autonomia  tenham sido alcançados. Eles não compreendem como não há controle nem planos de revisão de projeto. 

Obviamente os visados ficaram caladinhos que nem ratos. Ministério da Educação e Associação de Diretores Escolares devem estar a digerir «a coisa»e a pensar numa resposta redonda, que disfarce o incómodo. 

Como é que o Tribunal de Contas não percebeu a verdadeira essência de projetos pensados às três pancadas, impostos de cima, onde os professores foram só chamados para executar uma ideia vaga de autonomia?
O Tribunal de Contas está habituado a rigor? A objetivos bem definidos e medidas executadas em consonância? Temos pena!
 Nota-se bem que o Tribunal de Contas não conhece o estilo de governação educativa que domina em Portugal no século XXI. 

Todavia «no passa nada». Houve o relatório e a notícia; seguir-se-á o esquecimento mediático e depois tudo continuará na mesma. Os professores deixarão a banda passar, porque, afinal, quem escreveu a pauta foi alguém que percebe pouco de música. 

GAVB

quarta-feira, 13 de março de 2019

ALUNOS E FUNCIONÁRIAS ASSASSINADOS EM ESCOLA BRASILEIRA


Uma dezena de mortos! É este o primeiro balanço (ainda provisório) dum inusitado ataque levado a cabo por dois jovens, numa escola brasileira, do Estado de São Paulo, no Brasil. 



Os dois assassinos, que eram ex. alunos da escola e tinham dezassete e vinte e cinco anos respetivamente, acabaram por cometer suicídio no final do seu tresloucado ato, que está a deixar a sociedade brasileira em estado choque e grande consternação. 
Ainda antes de chegar à escola, os jovens já tinham denunciado as suas intenções, ao atingir  o dono de um posto de lavagem automóveis, nas imediações do estabelecimento de ensino. 
Mal chegaram à escola, atiraram mortalmente sobre duas funcionárias; depois dirigiram-se ao pátio escolar, onde dispararam dezenas de tiros, matando quatro alunos e ferindo vários (dois viriam a falecer no hospital). A sangria só não prosseguiu porque alguns professores se refugiaram com os seus alunos nas salas de aula. Foi então que os assassinos resolveram pôr fim à próprio vida, deixando atrás de si um rasto de destruição e morte.

A tragédia da escola de Suzano é só mais um sintoma da guerra civil informal em que o Brasil vive há alguns anos, no entanto o crime não tinha ainda chegado à Escola. Chegou hoje! Mais uma barreira psicológica quebrada!

Numa escola brasileira há essencialmente crianças. Umas mais conscientes do que outras em relação à realidade negra que as cerca, mas todas inocentes, e para quem a vida ainda só havia escrito poucos parágrafos. Hoje tombarão cruelmente algumas.  
A resposta ao crime não é (nem nunca poderá ser) armar a população, como defende o presidente brasileiro. 
Estou curioso para perceber qual será a reação de Bolsonoro a este odioso crime!

GAVB

domingo, 10 de março de 2019

UMA ENFERMEIRA PORTUGUESA


Reconhecimento. 
Essa fórmula tão simples quanto mágica que a sociedade tem de fazer justiça, de mostrar gratidão e amor. É claro que reconhecer é mais que uma festa, discursos lindos e tocantes, uma medalha ou uma estatueta. Reconhecer o mérito ou o valor é melhorar as condições de trabalho, é aumentar o estatuto e, por vezes, a remuneração. Reconhecer a excelência ou o valor do trabalho de alguém é normal numa sociedade com ética.
Portugal gasta muito com gente que faz pouco ou nada em prol do bem comum e faz-se de esquecido com aqueles que cuidam com carinho e paixão, que inovam com inteligência e são criativos,mesmo tendo poucos recursos.

Década após década continuamos a ser uma sociedade que precisa que o compatriota traga uma espécie de certificação de qualidade internacional para lhe prestarmos algum reconhecimento. Se há três ou quatro décadas isso até era desejado pelo «injustiçado», que fazia gala do novo estatuto quando regressava de férias, no verão, hoje não se passa o mesmo. Grande parte dos nossos jovens licenciados que saíram do país, apesar de adorarem viajar, tinha gostado de triunfar em Portugal. Era no seu país que sonharam trabalhar, aplicar toda a teoria que aprenderam na universidade e serem reconhecidos pela sua qualidade no trabalho. Todavia também vêem como isso é difícil, pois as ofertas de empregos são poucas e de baixo valor, sem perspectivas de progressão profissional, além da falta de reconhecimento. 

Há cinco anos, muitos jovens enfermeiros perceberam que só no Reino Unido podiam começar a exercer a sua profissão, porque o Estado português não contratava ninguém, dado seu estado de coma económico. Cinco anos volvidos, os enfermeiros portugueses lutam ferozmente para que o Estado português reconheça como são essenciais ao Serviço Nacional de Saúde, pondo fim a décadas de falta de reconhecimento. 
No Reino Unido, bastaram cinco anos para que a jovem enfermeira Sílvia Nunes fosse agraciada com o Great British Care Awards na categoria de melhor enfermeira, pela inovação, criatividade e atenção no trabalho.

"A Sílvia representa o melhor da enfermagem num ambiente de lar. Ela é inovadora, criativa, apaixonada e faz tudo pelos residentes, famílias e pela sua equipa. Ela dá às pessoas o valor e a dignidade que elas merecem. Ela esforça-se para promover a enfermagem de alta qualidade dentro da sua equipa e é um excelente exemplo", escreveu  Care England


Em 2014, a Sílvia não encontrou trabalho em Portugal e dominava mal a língua inglesa, mas em 2015 já tinha conseguido a promoção a diretora clínica no Reino Unido; em Setembro de 2016 chegou a diretora adjunta do lar Ford Place, especializado em cuidados paliativos e o ano passado já fora finalista do "National Care Awards". 
As suas promoções não foram acasos da sorte, como o atestam o prémio agora atribuído.

Nos últimos cinco anos quantos enfermeiros em Portugal tiveram o reconhecimento profissional da Sílvia?
Em vez de mandar felicitações à Sílvia, Marcelo Rebelo de Sousa devia telefonar à ministra da saúde e perguntar-lhe por que andamos nós a deixar tanto talento português em lares e hospitais ingleses. Provavelmente porque temos de pagar bancos maus e bancos péssimos. Isso sim é que nos faz bem à saúde e demonstra como somos um povo reconhecido e com as prioridades bem definidas.

GAVB  

sábado, 9 de março de 2019

D. JOÃO V, UM REI VICIADO EM SEXO E FREIRAS


Quase todos os Reis portugueses tiveram amantes, mas D. João V, o magnânimo, especializou-se em freiras. 
O rei era um viciado em sexo, mas a sua verdadeira paixão estava no convento de Odivelas, na cela de Madre Paula, como muito bem anota o historiador Oliveira Martins.
O monarca português, que mais recursos dedicou à cultura e à arte, ocupava grande parte do seu tempo livre com madre Paula, de quem teve um filho ilegítimo, D. José, que chegou a inquisidor-geral do reino. 
Antes de conhecer Paula Teresa da Silva já o rei era frequentador da alcova de outra freira, Madalena Máxima Miranda, de quem terá também um filho bastardo, D. Gaspar. 

Este fetiche do soberano por freiras tinha grande seguidores entre a nobreza europeia. Entre os séculos XVII e XVIII era moda na Europa ocidental os amores proibidos entre nobres e freiras. Era frequente o nobre «ter a sua freira», com quem se correspondia e a quem "visitava" no convento, onde era comum a troca de presentes: eles traziam poemas, elas correspondiam com doces conventuais (Quem não conhece a tradicional marmelada de Odivelas ou o pudim à madre Paula?). Muitas vezes, estas trocas afetuosas terminavam em encontros amorosas nas celas das freiras. 


Muitas freiras que não estavam no convento por vocação. Havia aquelas que lá tinham ido parar para fugir à vontade do pai e outras que lá estavam por castigo, pois recusavam-se que os seus pais determinassem com quem haviam de casar. O certo é que socialmente não era mal visto os casos amorosos entre freiras e nobres, casados ou não. 

Os casos eram tantos e tão notórios que mesmo no reinado de D. João V foram feitas leis que proibiam as visitas masculinas aos conventos, com a exceção de familiares diretos, mas nunca foram cumpridos, até porque o rei era o primeiro incumpridor. 

D. João V era um freirático incorrigível: a sua obsessão por sexo com freiras deu-lhe cabo da saúde e apressou a sua morte. No entanto, desde que conheceu Madre Paula, todas as suas atenções se viraram para aquela freira, de maneira que ela dispunha no convento de enormes luxos, quer em mobílias, quer em jóias, quer em roupas. Mesmo depois da morte do rei (Madre Paula ainda "durou" mais trinta e cinco anos); ela e seu filho sempre foram tratados com muita consideração, tal como aconteceu com os filhos ilegítimos de D. João V, os famosos meninos da Palhavã (o doutor de teologia da Universidade de Coimbra, D. António, o arcebispo de Braga, D. Gaspar e o já citado inqusidor-real, D. José).
Curiosamente, D. João V só teve uma filha ilegítima, D. Maria Rita, mas que o rei nunca reconheceu e acabou por ir para... freira.

quinta-feira, 7 de março de 2019

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: PRECISAMOS DE DIAS DE LUTA PARA EVITAR DIAS DE LUTO

A  violência doméstica é o grande flagelo atual da sociedade portuguesa. 
O vírus já existia e agora disseminou-se. 



Nas últimas dez semanas morreram doze mulheres. MORRERAM! Não foram apenas agredidas, violentadas ou violadas. A morte é a violência doméstica levada ao extremo, não é sequer toda a violência doméstica. 

A violência doméstica é um crime público que precisa de atuação urgente. Obviamente que aqueles que andam preocupados com selfies ou em aparecer em programas de televisão, em altura de eleições, não tiveram tempo para gastar alguns minutos, a lançar mensagens fortes e impactantes contra comportamentos violentos dos homens sobre as mulheres. Não acharam que era tempo de uma campanha de comunicação que atemorizasse os agressores e lhes incutisse algum medo. Nada disso. Havia de se resolver, porque a agenda mediática colocaria qualquer outra coisa na ribalta. 

Não foi isso que aconteceu. O que aconteceu é que um juiz protector dos agressores de mulheres teve a distinta lata de ameaçar processar todos aqueles que gritaram a sua revolta contra este laxismo do Estado e da Justiça, contra a violência doméstica em Portugal.

Agora o Estado tem reagir, mas fá-lo como uma barata tonta. Decreta medidas inócuas e um dia de luto nacional. O que precisamos são medidas concretas e objetivas e não "uma comissão técnica multidisciplinar para a prevenção e combate à violência doméstica" que irá produzir um relatório no prazo de três meses. Estas medidas são uma treta, um insulto a todas as mulheres que já morreram e àquelas que correm perigo.
Mas o governo não se fica por aqui! Propõe também a criação de um "manual de procedimento para as primeiras 72 horas após a sinalização de um caso de violência doméstica", porque ele não existia!!! Como não existe ainda? No entanto, note-se, isto é apenas uma ideia, uma recomendação. Quantas mulheres precisam de morrer mais?

Diz o governo que "o objetivo é garantir o atendimento especializado 24 horas por dia e a inclusão de um serviço de apoio em situações de emergência", p
orque, de facto, ele também não existe. 

Não existe nada pensado para apoiar estes mulheres. Não existe uma lista atualizada e única de agressores, de modo o a monitorizá-los, avaliando em cada momento a sua perigosidade. Isso é que era urgente, pois alguns casos de violência doméstica aguda são tão previsíveis que acontecem porque as autoridades não quiseram saber.

P.S. Além do juiz Neto de Moura, há juízes portugueses, dos tribunais de família e menores, que decretam visitas dos pais agressores aos filhos menores em casas de abrigo, pondo em risco a segurança das vítimas. Será que a Ana Leal não quer fazer uma reportagem/investigação para conhecermos estas sumidades e lhes darmos a oportunidade de se explicarem? 

Morreram doze mulheres vítimas de violência domésticas,  nas últimas dez semanas, entre tantos casos de violência em que muitas outras escaparam por um triz, mas não sabemos por quanto tempo mais.
E isto que urge parar ou, para ser mais realista, diminuir drasticamente.

Gabriel Vilas Boas


segunda-feira, 4 de março de 2019

JUIZ NETO MOURA QUEIXA-SE DE VIOLÊNCIA HUMORÍSTICA


Podia ser uma brincadeira de Carnaval, mas infelizmente é notícia séria e triste, embora não surpreendente: o malfadado juiz Neto Moura queixa-se de violência humorística. 


O homem que tem dedicado o seu pretensioso conhecimento das leis à desculpabilização da estúpida violência doméstica sobre as mulheres, mostra ter zero poder de encaixe e ameaça processar todos aqueles que, com humor e sarcasmo, o têm criticado justamente, pelos inacreditáveis acórdãos que tem produzido, em defesa dos agressores das mulheres, vítimas de violência doméstica.

Infelizmente, Neto Moura é um exemplo de um Portugal que ainda existe e que fundou a sua educação numa mentalidade machista, ignorante e retrógrada, que o Estado Novo de Salazar ajudou a fomentar. 
Esse Portugal já não é maioritário na sociedade portuguesa, mas ainda tem muito poder.
Por falar em poder, como ele está calado perante o maior problema do país nas últimas semanas: a violência doméstica! Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, Rui Rio… e também Jerónimo de Sousa e Assunção Cristas!  Nem o cheiro a votos os faz falar! É triste verificar como quem nos governa e representa falha quase sempre no essencial e têm de ser os humoristas a fazer o papel sério de denúncia, condenação, marcação cerrada aos Netos Moura desta vida, porque na política portuguesa quase todos sabem apenas fazer de Pilatos.
Depois admiram-se com o descrédito em que vivem políticos e magistrados. Eles vivem cada vez o seu mundinho hipócrita e pequenino, onde as vaidades e pruridos são tantos que se atropelam uns aos outros.
A problema do Carnaval português é que a crítica deu lugar à revolta e apetece mais gritar e repudiar que parodiar.
Gabriel Vilas Boas