Reconhecimento.
Essa fórmula tão simples quanto mágica que a sociedade tem de fazer justiça, de mostrar gratidão e amor. É claro que reconhecer é mais que uma festa, discursos lindos e tocantes, uma medalha ou uma estatueta. Reconhecer o mérito ou o valor é melhorar as condições de trabalho, é aumentar o estatuto e, por vezes, a remuneração. Reconhecer a excelência ou o valor do trabalho de alguém é normal numa sociedade com ética.
Portugal gasta muito com gente que faz pouco ou nada em prol do bem comum e faz-se de esquecido com aqueles que cuidam com carinho e paixão, que inovam com inteligência e são criativos,mesmo tendo poucos recursos.
Década após década continuamos a ser uma sociedade que precisa que o compatriota traga uma espécie de certificação de qualidade internacional para lhe prestarmos algum reconhecimento. Se há três ou quatro décadas isso até era desejado pelo «injustiçado», que fazia gala do novo estatuto quando regressava de férias, no verão, hoje não se passa o mesmo. Grande parte dos nossos jovens licenciados que saíram do país, apesar de adorarem viajar, tinha gostado de triunfar em Portugal. Era no seu país que sonharam trabalhar, aplicar toda a teoria que aprenderam na universidade e serem reconhecidos pela sua qualidade no trabalho. Todavia também vêem como isso é difícil, pois as ofertas de empregos são poucas e de baixo valor, sem perspectivas de progressão profissional, além da falta de reconhecimento.
Há cinco anos, muitos jovens enfermeiros perceberam que só no Reino Unido podiam começar a exercer a sua profissão, porque o Estado português não contratava ninguém, dado seu estado de coma económico. Cinco anos volvidos, os enfermeiros portugueses lutam ferozmente para que o Estado português reconheça como são essenciais ao Serviço Nacional de Saúde, pondo fim a décadas de falta de reconhecimento.
No Reino Unido, bastaram cinco anos para que a jovem enfermeira Sílvia Nunes fosse agraciada com o Great British Care Awards na categoria de melhor enfermeira, pela inovação, criatividade e atenção no trabalho.
"A Sílvia representa o melhor da enfermagem num ambiente de lar. Ela é inovadora, criativa, apaixonada e faz tudo pelos residentes, famílias e pela sua equipa. Ela dá às pessoas o valor e a dignidade que elas merecem. Ela esforça-se para promover a enfermagem de alta qualidade dentro da sua equipa e é um excelente exemplo", escreveu Care England
Em 2014, a Sílvia não encontrou trabalho em Portugal e dominava mal a língua inglesa, mas em 2015 já tinha conseguido a promoção a diretora clínica no Reino Unido; em Setembro de 2016 chegou a diretora adjunta do lar Ford Place, especializado em cuidados paliativos e o ano passado já fora finalista do "National Care Awards".
As suas promoções não foram acasos da sorte, como o atestam o prémio agora atribuído.
Nos últimos cinco anos quantos enfermeiros em Portugal tiveram o reconhecimento profissional da Sílvia?
Em vez de mandar felicitações à Sílvia, Marcelo Rebelo de Sousa devia telefonar à ministra da saúde e perguntar-lhe por que andamos nós a deixar tanto talento português em lares e hospitais ingleses. Provavelmente porque temos de pagar bancos maus e bancos péssimos. Isso sim é que nos faz bem à saúde e demonstra como somos um povo reconhecido e com as prioridades bem definidas.
GAVB
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