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segunda-feira, 30 de abril de 2018

O SEXO ENTRE OS JOVENS ESTÁ A PERDER AFETO E AMOR?



Numa recente entrevista ao Diário de Notícias, a psicóloga clínica e sexóloga Vera Ribeiro afirma que a banalização do sexo entre os jovens e adolescentes determina que as relações amorosas sejam mais pobres de amor e afeto.
Para Vera Ribeiro, esta «desumanização» do sexo acaba por estar relacionada com a Violência do Namoro, um tema muito trabalhado nas escolas portuguesas, junto dos adolescentes.

Esta entrevista trouxe-me à memória uma medida que o Ministério da Educação teve de tomar, há seis anos, na sequência da grave crise económica que o país atravessava e que ainda não reverteu: a extinção da oferta formativa da disciplina da Educação Para os Afetos e Sexualidade. Recordo a maneira sábia como a minha colega Maria Adelaide Teixeira conduzia essas aulas e como elas eram fundamentais para o crescimento afetivo e emocional dos adolescentes da escola onde ainda leciono. Tanta violência no namoro precavida, algumas gravidezes indesejadas evitadas e, sobretudo, uma maior consciência do ato sexual como ato de afeto e amor.

O sexo pelo sexo acaba por destruir o amor ainda antes de ele brotar, desacreditando-o no coração de quem ainda dá os primeiros passos no labirinto do Amor.
Há quinze anos, numa das suas mais bonitas e célebres canções, Rita Lee cantava “Sexo vem dos outros / E vai embora / Amor vem de nós / e demora”.
Sim, é preciso tempo, paciência e alguma sorte para acertarmos na fórmula certa da molécula que funde o amor com o sexo. Não trabalhar a afetividade, o lado emocional, a expressão do amor além do sexo, é percorrer uma estrada de prazer efémero até à meta da infelicidade.
gavb

domingo, 29 de abril de 2018

FRIDA KAHLO E DIEGO RIVERA: PAIXÃO, TRAIÇÃO E ARTE


Brutal, intenso, apaixonado, sofrido, cheio de histórias e traições – o amor de Frida Kahlo e Diego Rivera, é um daqueles amores que perduram longos anos na memória coletiva. Provavelmente, o mural mais belo que a pintura mexicana tem para mostrar ao mundo.
Frida e Diego eram duas personalidades fortíssimas, fogosas e com um talento comum: a pintura.

Frida teve uma vida de sofrimento progressivo, por causa de um horrível acidente, quando ainda era jovem, mas o encontro com Rivera, aos vinte e um anos, marcou-lhe a vida, porque os dois eram duas almas gémeas.
Viveram um amor que durou um quarto de século, marcado por muitas traições (sobretudo de Rivera, mas também de Frida, que não era mulher de se ficar…), arrebatadora paixão, intensa atividade artística e ativismo político.

Nem Diego nem Frida eram particularmente bonitos, mas a personalidade de ambos era cativante. Rivera tivera duas esposas antes de Frida, e um número incontável de amantes. A saga prosseguiu durante o casamento com Kahlo, mas esta respondeu à letra, sendo-lhe infiel com o célebre Léon Trotsky, dirigente comunista exilado no México, que Estaline perseguiu e mandou assassinar de forma cruel.


Além da arte, o comunismo também os unia. Mais Diego que Frida, até porque Diego era um comunista sui generis e provocador. Teve a ousadia de, certa altura, pintar um mural para o magnata norte-americano John Rockefeller Jr., o célebre “Man and Crossroads”, que ilustra a tensão entre a arte e a política. O mural era para figurar no lendário Rockefeller Center, um dos ícones do capitalismo, mas o norte-americano mandou-o destruir depois de perceber que Rivera lá tinha retratado, entre outros, Marx e Lenine.

Apesar de ser considerado um dos melhores muralistas de sempre, Rivera achava que Frida era melhor pintora do que ele. Ela não acreditavam muito nisso, mas o mundo da arte veio a dar-lhe razão, no final do século XX, ao valorar extraordinariamente as suas obras.
Frida Kahlo morreu antes de fazer cinquenta anos, por causa de um corpo débil e dilacerado. Rivera sobreviveu-lhe pouco tempo, embora ainda tivesse casado outra vez (ou não fosse ele Diego Rivera…), mas o grande amor da sua vida foi Frida Kahlo. Eles foram a mais bela história de amor intenso que o méxico conheceu.
gavb

sexta-feira, 27 de abril de 2018

FENPROF E PROFESSORES DE COSTAS VOLTADAS FARÃO DA MANIFESTAÇÃO NACIONAL DO DIA 19 UM FIASCO



Estamos a três semanas da grande Manifestação Nacional dos Professores, marcada para 19 de Maio. A iniciativa é dos sindicatos de professores e os professores prometiam uma grande adesão. Prometiam, porque já não sei se prometem.
Os motivos da indignação dos professores são conhecidos e, infelizmente, há que acrescentar mais um concurso de docentes, onde a confusão está instalada.

No entanto, professores e direção da Fenprof estão de costas voltadas. A razão é o amuo do sindicato mais representativo dos professores com a louvável iniciativa legislativa, levada a cabo por um grupo de professores, que pretende angariar vinte mil assinaturas, de maneira a fazer o parlamento português aprovar legislação que obrigue o governo a contar todo o tempo de serviço prestado pelos docentes, para efeito de progressão na carreira.

A Fenprof amuou na piorou altura e pelas piores razões, porque não tem razão nenhuma. A Fenprof devia apoiar esta iniciativa e não ficar com ciúmes dela nem entendê-la como uma crítica ao seu modus operandi, que, de facto, merece críticas.


Entretanto, a grande Manifestação Nacional de Professores pode “flopar” se sindicatos e professores não fizeram as pazes. Os professores precisam da organização do sindicato, a direção do sindicato precisa dos professores, como é óbvio, para fazer uma grande manifestação.
A Fenprof deve perceber que os professores podem e devem ir além dos sindicatos, porque muitos deles não são sindicalizados nem se reveem no taticismo político da Fenprof, nem acham grande piada a que os professores sejam usados como joguete de interesse políticos deste ou daquele partido.

Não sei se os sindicatos deram conta, mas os professores portugueses evoluíram, o país também, e covinha que a direção do Fenprof incorporasse essa informação.
Mário Nogueira refere muitas vezes que a posição da Fenprof será aquela que os professores decidirem. Ora, os professores decidiram tentar uma via menos clássica, já que a clássica não dá os frutos desejados, e assim sendo, o dever da Fenprof é estar ao lado dos professores. Sem amuos, sem críticas, sem boicotes. O que interessa é conseguirmos os nossos objetivos enquanto classe profissional. Se é através do António, do Pedro ou do Mário, isso não interessa nada.
GAVB

quinta-feira, 26 de abril de 2018

O DIA MAIS INFELIZ DA HISTÓRIA



Talvez o título seja exagero, mas é o que apetece chamar ao dia do ano que concentra efemérides tão negativas como Guernica, Chernobyl ou Tiananmen.

Antes de falarmos da «morte», convém referir um dos seus “anjos” preferidos: a Gestapo. 
A 26 de abril de 1933, a mais temível polícia política que a europa ocidental conheceu ficou oficialmente estabelecida. Acho que a partir dessa primavera o dia 26 de abril nunca mais se recompôs, pois quatro anos volvidos, a desconhecida cidade basca de Guernica, em Espanha, foi violentamente bombardeada pela aviação alemã, numa espécie de ensaio geral para a II Guerra Mundial, sem que ninguém percebesse que a estreia estava para breve. Estupidamente o ataque teve a conivência de Franco. Só por isto, já merecia ser odiado por todos os espanhóis, mas ele fez por merecer mais...

Este bárbaro ataque ficou celebrizado no mais fabuloso quadro Pablo Picasso – Guernica – que atrai milhões de pessoas ao Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, bem no centro de Madrid.

Meio século mais tarde, em 1988, o azar deste dia de abril voltou a fazer das suas em Chernobyl (cidade da atual Ucrânia, na altura incorporada na extinta URSS), quando o reator da central nuclear colapsou, provocando danos irreparáveis na população e no ambiente, que ainda hoje se fazem sentir.

Um ano mais tarde, na China, na Praça da Paz Celestial (que ironia da História…) ou Praça Tiananmen decorria um significativo protesto de jovens chineses contra o enclausurado regime comunista chinês. A 26 de abril, o jornal chinês Renmin Ribao, num editorial que fez História, deixava antever o final infeliz da história, quando alcunhava o movimento estudantil que ocupava a Praça como subversivo e desestabilizador. O destino estava traçado, mas uma vez com o dia 26 de abril a servir de enquadramento temporal.


Nota de rodapé: ainda não é uma figura história e possivelmente não o virá a ser, mas a 26 de Abril de 1970, nascia na Eslovénia Melanija Knavs. Aos dezasseis anos mudou-se para os EUA e aos vinte e um conseguiu o visto de residente permanente nos EUA. Nesse mesmo ano casou com Donald Trump, tornando-se, nessa altura, cidadã norte-americana. É hoje a primeira-dama do país mais poderoso do mundo e talvez seja melhor ficar apenas por isso…




segunda-feira, 23 de abril de 2018

O VELHO TRUQUE DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DE PÔR PROFESSORES CONTRA PROFESSORES



O Ministério da Educação tem mesmo um problema de consciência com os professores portugueses: a não contagem do tempo de serviço ao longo de uma década. 
O governo não sabe como fazer para excluir os professores do seu plano de devolução mitigada dos rendimentos aos funcionários públicos e por isso passou a um plano subversivo: dividir para reinar. Não conseguindo maniatar todos os professores independentes e livres como engana os sindicatos, o Ministério da Educação lançou mão do ponto mais frágil da união dos professores portugueses: a colocação dos professores contratados e a eterna questão dos professores que fizeram carreira no setor privado.

A maioria dos professores do ensino público acha uma tremenda injustiça que os professores do ensino privado possam concorrer em igualdade de circunstância às vagas do ensino público que agora abriram, quando a maioria deles, por razões que só a eles dizem respeito, optou por uma carreira no ensino privado. As razões são diversas: para conseguirem trabalhar, para ficarem perto de casa, para ganharem melhor… não importa. Fizeram sua opção e agora o ME dá-lhe a possibilidade de efetivar no setor público sem nunca terem trabalho para o Estado Português, excluindo quem, durante décadas, andou de malas às costas a fazer a volta a Portugal em escolas públicas.

É emocionalmente difícil aos professores digladiarem-se com colegas, alguns deles verdadeiros amigos de longos anos, mas parece ser isso que o ME quer, ao lançar um concurso extraordinário sob condições injustas e possivelmente ilegais.
Mais do que dividir para reinar, o governo, através do Ministério da Educação, tenta desmoralizar um classe já tantas vezes sacrificada e injustiçada a quem todos se acham no direito de faltar ao respeito.
GAVB

domingo, 22 de abril de 2018

ALMEIDA GARRETT E VISCONDESSA DA LUZ: UMA PAIXÃO ESCANDALOSA



Almeida Garrett, um dos maiores escritores portugueses de sempre, foi um homem que viveu muito em pouco tempo. Literatura, teatro, política, vida social… Garrett era um homem poderoso, talentoso, apaixonado. 
A parte final da sua vida fica marcada por uma história de amor arrebatadora, intensa e escandalosa com a Viscondessa da Luz, Rosa Montufar, pois esta era casada com o oficial do exército, Joaquim António Velez Barreiros.
No entanto, a condição de casada de viscondessa não impediu os dois amantes de se encontrar vastas vezes numa casa, na zona de Campo de Ourique, centro de Lisboa, onde consumavam a sua paixão.
O que há de verdadeiramente incomum nesta história não é tanto o adultério, mas o facto de ambos terem deixado que ela fosse do domínio público, pois conhecemos algumas das cartas que ambos trocaram assim como é percetível que alguns dos poemas mais sensoriais de Folhas Caídas têm Rosa Montufar como inspiração e destinatária.

Se Garrett começa por escrever: «Como tu estavas linda, terna, amante, encantadora! Que deliciosa variedade há em ti, minha R. adorada. Possuir-te é gozar um tesouro infinito, inesgotável. Juro-te que já não tenho mérito em te ser fiel, em te protestar e guardar esta lealdade exclusiva que hei-de consagrar até ao último instante da minha vida. Depois de ti toda a mulher é impossível para mim. Que antes de ti não conheci nenhuma que me pudesse fixar
Mais tarde é ainda mais incisivo e percebe-se quanto era correspondido:
«É verdade, amor querido, esta felicidade que nós gozamos, esta liberdade com que de tempos a tempos nos vemos, nos abraçamos, nos beijamos, é imensa, é infinita, minha querida R.»
Garrett, o homem que cuidava da imagem como nenhum outro escritor, não se coíbe de gastar os últimos anos da sua vida vivendo uma paixão arrebatadora, escandalosa, «proibida», que só não é mais icónica na literatura portuguesa porque vinte anos mais tarde Camilo Castelo Branco e Ana Plácido protagonizariam um «Amor de Perdição» ainda mais intenso, polémico, e escandaloso.
GAVB    

sábado, 21 de abril de 2018

PENA DE MORTE PARA QUEM VIOLAR RAPARIGAS ATÉ DOZE ANOS


Reação brutal do governo indiano à onda de protestos da população, chocada com a notícia da violação e assassínio de uma menina de oito anos.
O caso correu mundo, indignando não apenas a população  indiana (https://setepecadosimortais.blogspot.pt/2018/04/protesto-silencioso.html) mas também grande parte da comunidade internacional. Hoje, o governo indiano, através de uma ordem executiva, decretou “pena de morte para quem violar uma rapariga menor de doze anos”. Se a violação for cometida entre doze e dezasseis anos a pena passa de dez para vinte anos, e se o crime for cometido sobre rapariga ou mulher com mais de dezasseis anos, a pena atinge os dez anos de cadeia,

Embora entenda a necessidade de uma reação enérgica por parte das autoridades, sobretudo depois de ver alguns políticos tentarem defender os criminosos, penso que o governo indiano tinha outras soluções, que não a pena de morte.
O problema não é apenas criminal, mas também cultural. Só em 2016 registaram-se quarenta mil casos de violação de menores, muitas vezes cometidos em grupo.

Claro que a pena de morte (a lei ainda carece da assinatura presidencial) é um elemento dissuasor bastante convincente, mas não terminará com este flagelo que assola uma dos países mais populosos do mundo, até porque a lei só aponta para crimes cometido contra raparigas, menores de doze anos. Parece-me muito mais uma medida reativa e não estruturada, mas o desfasamento civilizacional desta ignóbil tradição indiana é tão grande que se tornou quase obrigatória uma medida tão extrema e tão grave.
Agora resta esperar para ver como será implementada, pois seremos sempre colocados perante dois extremos, quando confrontados com uma acusação de violação de menores, na Índia: ou se pune severamente um crime horrível ou se comete imprudentemente um crime terrível.
A lei hoje aprovada pelo governo indiano pode ser purificadora, mas também pode colocar, ainda mais, a ferro e fogo a sociedade indiana.
GAVB

sexta-feira, 20 de abril de 2018

WAKE UP AVICII, PLEASE



Estupidamente a tua jornada acabou, quando ainda há pouco tinha começado. Tal como cantavas, a vida passou por ti e quase não tiveste oportunidade de lhe dizer «bom dia», mas ainda foste a tempo de pôr muitos a pular de alegria, fazendo-os sentir-se jovens de múltiplas maneiras.

Não chegaste nem a velho nem a sábio e a tua história ficou incompleta, mas a tua música atirou-nos novamente para o centro da pista, vibrantes e elétricos, jovens viajantes de um mundo de fantasia e prazer.

Sim, a vida é mesmo esse jogo malvado e cruel, onde o amor tanto pode ser o mais almejado dos prémios como a completa ruína.
Amanhã acordaremos sem esperança de uma nova e surpreendente canção. Não mais aquelas misturas ousadas, não mais aqueles versos cheios de sensibilidade e afeto.
Resta-nos ouvir-te, ainda que a maneira surpreendente e misteriosa como partes, nos roube a alegria que inundava a tua música.
Hei, Brother
             ainda que a tua estrada tenha chegado ao fim, subsistirá, para sempre, a força da tua música, as lições das tuas canções, a esperança que brotava no teu olhar cheio de sol e nos empurrava para cima.
GAVB

quinta-feira, 19 de abril de 2018

TRÁFICO HUMANO SEM CONTROLO EM PORTUGAL?



É possível que o alerta dos inspetores dos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) seja um pequeno exagero, mas os mais recentes dados demonstram que Portugal é um país na rota dos traficantes dos seres humanos, como o demonstra o facto de, recentemente, se ter desmantelado uma estrutura bem organizada que durante quatro anos concebeu e executou um plano de exploração laboral e sexual de romenos e búlgaros.
É verdade que as estatísticas provam que o número de vítimas de tráfico humano desceu de 2016 para 2017, mas isso ficou a dever-se ao elevado número de recusas de visto de entrada, em território português, de gente suspeita.
O alerta dos inspetores dos SEF parece corroborar o relatório do Conselho da Europa, publicado no início do mês, que identificava Portugal como um dos países onde o tráfico de seres humanos está a aumentar.

Um dos fatores que em muito contribui para a disseminação deste cancro é a permissiva lei da nacionalidade portuguesa, que escancarou as portas da nacionalidade lusitana a muita gente, sem olhar aos perigos que tal medida podia ter. Os SEF sempre se mostraram muito críticos da iniciativa governamental, mas a lei avançou ainda que com algumas alterações.
A condenação que agora se conhece pode funcionar como elemento dissuasor, até pelas penas obtidas – seis a dezasseis anos de prisão – mas é preciso que o poder político acompanhe a preocupação dos operacionais e não faça leis inseguras que colocam Portugal outra vez famoso pelos piores motivos.
O tráfico de seres humanos é um dos piores pecados, por omissão, da europa ocidental. É uma indignidade absoluta que atinge milhares de pessoas e suja a consciência de milhões que apenas "lamenta", em vez de forçar os seus dirigentes a criar leis severas para quem organiza ou facilita estas sinistras redes de tráfico de seres humanos.
GAVB

quarta-feira, 18 de abril de 2018

PROTESTO SILENCIOSO



Aconteceu na Índia, no estado de Jammu e Kashmir, há três meses (17 de Janeiro), mas só agora se soube: uma menina de oito anos fora violada e assassinada.
Na semana passada, a população grande parte da população tomou conhecimento do horrível crime, quando um grupo de advogados e ativistas tentou impedir a acusação dos suspeitos.
Reparei em mais este horrível crime por causa da força da fotografia do indiano Ramindder Pal Singh, que ilustra o protesto sentido destas mulheres indianos contra um crime inconcebível.

Num tempo que as palavras são tantas e circulam à velocidade da luz, estas mulheres preferiram amordaçar a boca com fitas negras, numa manifestação de raiva contra os recentes casos de violação de adolescentes e mulheres na Índia, perante a passividade das forças policiais e judiciais.
Há neste protesto silencioso a força da dignidade, a incompreensão pela passividade de quem manda, a raiva pela brutalidade de tais atos, num mundo que se diz evoluído e culto, mas onde ainda abundam exemplo de pura animalidade e maldade.
GAVB

terça-feira, 17 de abril de 2018

A IGNORÂNCIA AMERICANA



Desde que Donald Trump foi eleito presidente dos EUA comecei a suspeitar seriamente da inteligência dos norte-americanos. Afinal eles elegeram um burgesso para seu presidente. Ser presidente do país é o mais alto cargo da nação e para eleger um homem com aquele perfil psicológico, social, cultural e pessoal é preciso ser-se não se ter juízo nenhum.

Agora, um estudo da Jetcost, um site de viagem, sobre o grau de conhecimentos culturais, geográficos e linguísticos do turista norte-americano, ou seja, aquele que viaja e por isso supostamente conhece mais que os que nunca saíram da América, revela quanta ignorância prolifera em terras de Trump.

uma americana a indicar a Coreia do Norte no mapa
Algumas conclusões deviam fazer parte de um livro de anedotas sobre americanos, mas soam terrivelmente plausíveis.
Metade dos inquiridos acha que África é um país e não um continente.
Um em cada cinco americanos inquiridos (e foram mais de quatro mil) pensa que a França faz parte do Reino Unido e que em Portugal se fala espanhol. Cerca de 40% acredita que o Polo Norte não existe e 26% julga que a Escócia se situa no Equador.

Um em cada seis pândegos americanos pensa que a grande Muralha da China, afinal, fica no Japão e cerca de 14% dos entrevistados afiança que as Filipinas são um estado chinês.
Partindo do princípio que as entrevistas foram feita a gente sóbria, este resultado, ainda que seja apenas uma amostra, não deixa de pôr em cheque o modelo educacional norte-americano, muito baseado em testes de Verdadeiro e Falso. Quando olhamos para os resultados de um sistema educativo também temos de olhar para o seu produto final e não apenas para as taxas de sucesso e insucesso. 
O modelo americano produziu a eleição de Trump e uma enorme quantidade gente que motivaria a criação de uma história e geografia mundiais do disparate.
GAVB

segunda-feira, 16 de abril de 2018

A ÉTICA FINLANDESA



A Educação finlandesa é dada, muitas vezes, em Portugal, como o modelo a seguir. Ali tudo parece funcionar às mil maravilhas, desde o financiamento público, ao trabalho colaborativo entre professores, passando pela inexistência da pressão dos exames e terminando na mentalidade de toda a comunidade, que reconhece o valor fundamental da Escola. Nos últimos dias, ficámos a saber que também devemos imitar os seus elevados padrões éticos.

Há longos anos que Portugal e Finlândia têm um acordo fiscal que visa garantir que quem trabalha no outro país não paga duas vezes impostos. Assim um finlandês que trabalhe e resida em Portugal paga impostos em Portugal e a recíproca acontece com os portugueses a viver na Finlândia.

Tudo corria normalmente quando o governo finlandês ficou a saber que o governo português, para atrair reformados ricos a Portugal, resolveu isentar da tributação fiscal os reformados que se quisessem radicar no nosso país. Na prática, isto fez com que muitos reformados finlandeses viessem residir para Portugal e deixassem de pagar os impostos que pagariam no seu país natal.
O governo finlandês lavar as mãos como Pilatos e fazer de conta que nem reparou, até porque era Portugal quem perdia receita fiscal. No entanto, fez o contrário: exigiu ao nosso governo que cobrasse os devidos impostos aos reformados finlandeses que escolheram o sol português e as especialíssimas leis de Mário Centeno para gozar a reforma, pois não pode conceber dualidade de tratamento fiscal entre finlandeses reformados. 

Se na Finlândia pagam impostos, aqui também têm de pagar, para que haja justiça entre eles. O governo português ainda esboçou um protesto, mas os finlandeses mantiveram-se firmes no seu propósito e ameaçaram quebrar o antigo acordo que une os dois países.
Contrafeito, Mário Centeno lá acabou por concordar com as pretensões finlandeses, embora ainda falte a sua demorada assinatura para terminar este pequeno imbróglio diplomático.

É triste que seja um governo estrangeiro a dar-nos lições de ética, bom senso, equidade e justiça. Portugal e o seu governo deviam aprender com estes exemplos, porque o respeito internacional conquistam-se fazendo, muitas vezes, o caminho das pedras e não com habilidades legais e fiscais que tanto nos diminuem.
GAVB


sábado, 14 de abril de 2018

NUNCA ESTÁ EM CASA NEM QUER ESTAR


       
   Rita é uma mulher ativa. Além do emprego gosta de se envolver em várias atividades, do voluntariado às ações culturais. Exibe um sorriso perfeito, mas há nele qualquer coisa de frio e falso, como transportasse um segredo triste, que tenta afastar do coração à custa de tanta atividade.

         Guilherme, o marido de Rita, também não para em casa. Depois do trabalho, sai, frequentemente, à noite, para beber um copo com os amigos, ver um jogo de futebol ou, ocasionalmente, ir ao teatro. Rita não gosta de teatro e por isso é perfeitamente aceitável que ele vá sozinho. Só muito ocasionalmente as agendas de ambos coincidem, no entanto nenhum se aborrece com tamanha dessincronização.
O fim-de-semana dos dois também é socialmente preenchido e por isso passam semanas em que se cumprimentam cordialmente ao deitar e levantar, como dois burocratas do casamento, conversam o tempo indispensável para estarem a par da vida um do outro e… partem para os seus fabulosos mundos.

 A casa e a sua mecânica deixou de lhes interessar, mas evitam-na, porque se querem evitar.
Os dois já intuíram que o desinteresse é recíproco, todavia o que falta em coragem sobra em ardilosas desculpas.

A casa não está desarrumada nem tem tralha inútil, no entanto é-lhes desconfortável, porque Rita e Guilherme sabem que ela pressupõe uma fusão sentimental que já não conseguem. Passar da simpatia ao afeto como da conjugação de interesses à cumplicidade exige uma química que se evaporou.
Ainda que não se tenham apercebido disso, a verdade não é que não estão em casa por estarem ocupados, mas sim estão ocupados para não estarem em casa. E não estão em casa, porque a casa é um espaço de intimidade, amor, cumplicidade e verdade. Por isso preferem aquela espécie de fuga da realidade.
Fugir da realidade é inútil, porque ela encontra-nos quase sempre. Para organizarmos a vida precisamos do mesmo que para arrumar uma casa: tempo e coragem. Quando combinamos estes dois fatores em doses certas há uma série de tralha que sai das gavetas.

Isto não é uma visão muito racional das coisas e nós somos movidos a emoções? Em certos momentos, precisamos de ser corajosamente racionais para que as emoções possam fluir com verdade.
GAVB

sexta-feira, 13 de abril de 2018

A GUERRA FRIA ESTÁ DE REGRESSO?


António Guterres declarou, há pouco, no Conselho de Segurança da ONU, a propósito de mais um ataque químico ao povo sírio, que a Guerra Fria está de volta.
Percebo as afirmações do secretário-geral da ONU, o seu sentimento de impotência, raiva, medo em relação ao que se passa na Síria e a dificuldade em engolir o cinismo, a desumanidade, o descaso dos principais responsáveis mundiais. No entanto, a Guerra Fria foi (e é) outra coisa. Para haver Guerra Fria, tal como aconteceu quando o conceito nasceu, a informação não circulava com a facilidade com que hoje circula, os povos não estavam tão bem informados como hoje estão nem as opiniões públicas eram tão poderosas como as da atualidade. Por outro lado, o nível cultural, social, político e estratégico dos principais líderes mundiais era superior e não roçava a infantilidade como hoje acontece, em alguns casos. Talvez por isso o mundo corra mais riscos agora do que no passado.

A Guerra Fria foi um tempo em que os espiões eram determinantes e o jogo tático e estratégico, a nível político e militar, era altíssimo. Hoje nada disso acontece. Há reações por impulso, de gente absolutamente impreparada, assim como há vários líderes mundiais que não detêm o poder de outrora, apesar de os seus países continuarem a ser considerados muito importantes.
Por outro lado, em meados do século XX, época áurea da Guerra Fria, o poder estava concentrado nos políticos e nos militares; hoje em dia, quem manda na economia, quem detém bancos, seguradoras, multinacionais, empresas cotadas em bolsa exerce uma força muito maior sobre presidentes e primeiros-ministros.

Isso deixa-nos descansados quanto a uma possível nova guerra mundial? Não, mas, a acontecer, ela terá lugar em moldes bem diferentes dos do passado: num qualquer território pobre, abandonado, sem grandes hipóteses de se estender aos territórios das forças beligerantes. Algo parecido com aquilo que se passa hoje na Síria, onde todos parecem mais interessados em experimentar o seu armamento militar, químico, quiçá atómico, numa demonstração canibal de força, do que em devolver aos que restam daquele povo o seu território esfrangalhado.
Não é a Guerra Fria que está de volta, mas os jogos de guerra, transferidos do computador e da televisão para a realidade, e jogados por líderes irresponsáveis como Trump, cínicos como Putin ou maquiavélicos como Bashar al-Assad e Erdogan.
GAVB

quinta-feira, 12 de abril de 2018

NOVA PONTE ENTRE O PORTO E GAIA




Qualquer dia o rio Douro transforma-se em túnel, com tanta ponte entre o Porto e Gaia.
Vila Nova de Gaia e Porto devem mesmo ter falta de problemas e não sabem onde gastar o dinheiro. Requalificação dos bairros sociais, habitação a preços comportáveis para jovens portuenses nas principais freguesias da cidade; requalificação dos principais espaços culturais da cidade; baixa dos impostos municipais, pagamento da dívida bancária, redução do IMI… 
Na verdade não falta onde gastar, com critério, doze milhões de euros (custo estimado da obra), mas os presidentes de Câmara do Porto e de Gaia acham que o mais importante é fazer mais uma ponte, para trazer mais carros às duas cidades, mais poluição, mais confusão.

Já não bastavam as que existiam. Que falta de imaginação! Os problemas do Porto e Gaia são outros: Como desentupir a Avenida General Torres, em Gaia?, Que fazer à crescente onda de despejos na cidade do Porto, a fim de criar mais arrendamento para turistas? Como fortalecer a cidade com uma oferta cultural que mantenha a empolgante onda de turismo dos últimos anos? Para quando a requalificação das zonas degradas das duas cidades?

Por outro lado, é sabido que os transportes públicos e privados a operar nas duas cidades dão prejuízos. Ora, construir uma nova ponte só incentiva o uso do transporte privado, quando a tendência devia ser o contrário, até por razões ambientais.
Ainda que posa existir a tentação de patrocinar uma obra que fique para a História, um presidente da Câmara só a deve promover quando ela é imperativa, o que não é manifestamente o caso.
Não adianta criticar os gastos sumptuosos à volta da capital, quando, em menor escala, se procede da mesma maneira.
Todo o dinheiro público deve ser gasto com critério, seguindo uma ordem de prioridades clara e inatacável.
GAVB

quarta-feira, 11 de abril de 2018

O JULGAMENTO DE SÓCRATES


A história dos homens está cheia de julgamentos célebres, por via do estatuto das pessoas em julgamento, dos crimes por elas cometidos ou por causa da terrível injustiça que o tribunal autorizou, ao condenar um inocente.
O caso do filósofo grego Sócrates inscreve-se neste último caso. 
Decorria a primavera do ano 399 a.C. quando o grande Sócrates era levado a tribunal por não acreditar nos deuses, acusado de introduzir novas divindades demoníacas, de corromper os jovens.
  Sócrates era um homem altamente considerado na sociedade ateniense, famoso e respeitado. Ele acreditava no poder da retórica e na força da convicção e, por isso, toda aquela acusação lhe parecia um enorme equívoco, um absurdo gigantesco.

Depois dos acusadores falaram, ficou perante o velho sábio um clepsidra e Sócrates gastou os primeiros minutos da sua defesa com… silêncio. Na verdade, ele não tinha preparado nenhum discurso e recusara-se a encomendar a sua defesa aos logógrafos (escritores profissionais de discursos). Começou por confessar que aquele local – o tribunal – era estranho para ele. Esse facto causou enorme perplexidade entre amigos e inimigos. Se uns ficaram nervosos perante a pouca habilidade do filósofo em se defender de infundadas acusações, outros aproveitaram para o atacar por não frequentar um lugar de tanto prestígio como era o  tribunal, para os atenienses.
O discurso de defesa de Sócrates sabemo-lo por intermédio de Platão. Fazendo uso de uma fina ironia mal compreendida, Sócrates negou a sua sabedoria e sobretudo a capacidade de influenciar negativamente os jovens atenienses. Não o acreditaram e, apesar de não possuírem provas concludentes para o condenarem, 361 jurados, contra 140, votaram a condenação à morte do mais emblemático grego da antiguidade clássica.

Como nessa altura decorriam as tradicionais festas em memória da libertação de Creta do Minotauro por Teseu, Sócrates não foi logo executado. Enquanto aguardava na prisão, os amigos criaram as condições propícias para a sua evasão, mas o velho Sócrates negou-se a fugir. Isso derrubaria a reputação de virtuoso, que alcançara em vida, e, além disso, defendia que a uma injustiça não  se deve responder com outra injustiça.

Quando chegou o dia, perante amigos e familiares, tomou a cicuta e bebeu-a até ao fim. Em pouco tempo o veneno fez o efeito esperado e assim se consumava um dos maiores erros da história do Direito.
Lenda ou facto, a  verdade é que se conta que a primeira mulher de Sócrates, quando soube do processo que moviam ao marido, exclamou indignada:
- Como é possível que te condenem injustamente?
         Ao que Sócrates terá respondido:
         - Preferias que me tivessem condenado justamente?
GAVB

segunda-feira, 9 de abril de 2018

AFINAL SALAZAR GOSTAVA DE MULHERES, DE DINHEIRO E DE VIAGENS



Ao contrário do mito que criou sobre si, António Oliveira Salazar teve vários casos amorosos, cobrava bom dinheiro pelos seus pareceres jurídicos e não se coibia de viajar ou fazer comprar dispendiosas.
O ditador gostava de passar a ideia de que era um eremita, totalmente devotado à nação e sem qualquer interesse em mulheres. Nunca ter casado nem ter assumido qualquer relação afetiva eram provas suficientes, mas a verdade é outra. 


No livro de Felícia Cabrita Os Amores de Salazar a jornalista elenca oito casos amorosos vividos por Salazar: Maria Laura Campos, a astróloga Maria Emília Vieira, a viscondessa Carolina Asseca, a jornalista francesa Christine Garnier, Felismina Oliveira, Júlia Perestrelo, Mercedes Feijó e Maria da Conceição Santana Marquês. Para um asceta não esteve nada mal. Há galanteadores com menos casos.


Outra ideia muito difundida pela propaganda do regime era o pouco mundo do senhor Presidente do Conselho, pois, dizia-se, ele não gostava de viajar, já que isso custava dinheiro ao país. A verdade é algo diferente. Antes de assumir a pasta de ministro das Finanças, Salazar já tinha viajado de comboio, com o amigo Cerejeira, até Paris e gastado largo tempo por Espanha, desfrutando da monumentalidade do Prado e do Escorial.

Franco Nogueira, o seu biógrafo oficial, destrói outro mito acerca de Salazar: o de homem poupadinho. Este admirador de Oliveira Salazar diz que o ditador português gastava quantias consideráveis em fatos, gravatas e sobretudos, que encomendava num conceituado alfaiate de Coimbra.
Ora para ter tais devaneios Salazar tinha de ganhar bem e isso acontecia, porque, além do cargo de professor de Direito em Coimbra, ainda cobrava avultadas quantias pelos diversos pareceres jurídicos que elaborava a pedido do Banco de Portugal ou do Crédito Predial. Ou seja, Salazar apreciava as coisas belas da vida: dinheiro, sexo, viagens, roupas caras.


Obviamente que ele sabia que lidava com um povo pobre e inculto e por isso devia esconder este estilo de vida. A melhor maneira de o fazer era criar nos portugueses uma ideia totalmente contrário, de modo a que a sua forma de governação fosse aceite sem grande resistência. Como disse, na sua tomada de posse, em 27 de abril de 1928: “Eu sei o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao fim em poucos meses. No mais, que o país estude, represente, reclame, mas que obedeça quando se chegar à altura de mandar.”
GAVB