Almeida Garrett, um dos maiores escritores
portugueses de sempre, foi um homem que viveu muito em pouco tempo. Literatura,
teatro, política, vida social… Garrett era um homem poderoso, talentoso,
apaixonado.
A parte final da sua vida fica marcada por uma história de amor
arrebatadora, intensa e escandalosa com a Viscondessa da Luz, Rosa Montufar,
pois esta era casada com o oficial do exército, Joaquim António Velez
Barreiros.
No entanto, a condição de casada
de viscondessa não impediu os dois amantes de se encontrar vastas vezes numa
casa, na zona de Campo de Ourique, centro de Lisboa, onde consumavam a sua
paixão.
O que há de verdadeiramente
incomum nesta história não é tanto o adultério, mas o facto de ambos terem
deixado que ela fosse do domínio público, pois conhecemos algumas das cartas
que ambos trocaram assim como é percetível que alguns dos poemas mais
sensoriais de Folhas Caídas têm Rosa Montufar como inspiração e destinatária.
Se Garrett começa por escrever:
«Como tu estavas linda, terna, amante, encantadora! Que deliciosa variedade há
em ti, minha R. adorada. Possuir-te é gozar um tesouro infinito, inesgotável. Juro-te
que já não tenho mérito em te ser fiel, em te protestar e guardar esta lealdade
exclusiva que hei-de consagrar até ao último instante da minha vida. Depois de
ti toda a mulher é impossível para mim. Que antes de ti não conheci nenhuma que
me pudesse fixar.»
Mais tarde é ainda mais incisivo
e percebe-se quanto era correspondido:
«É verdade, amor querido, esta
felicidade que nós gozamos, esta liberdade com que de tempos a tempos nos vemos,
nos abraçamos, nos beijamos, é imensa, é infinita, minha querida R.»
Garrett, o homem que cuidava da
imagem como nenhum outro escritor, não se coíbe de gastar os últimos anos da
sua vida vivendo uma paixão arrebatadora, escandalosa, «proibida», que só não é
mais icónica na literatura portuguesa porque vinte anos mais tarde Camilo
Castelo Branco e Ana Plácido protagonizariam um «Amor de Perdição» ainda mais
intenso, polémico, e escandaloso.
GAVB
Sem comentários:
Enviar um comentário