O outono de 1793 tinha poucas semanas e na praça de
Liberdade (hoje Praça da Concórdia, em Paris), as tricoteuses aguardavam, àvidas, a chegada da mais odiada rainha
que os franceses tiveram. Maria Antonieta era já um espectro fantasmagórico da
rainha esplendorosa que reinara nos últimos anos monárquicos em França. Diante
do povo ululante e sequioso de sangue estava uma velha de trinta e oito anos,
rendida à evidência
Dois meses antes, «o julgamento» deixara claro que a outrora
senhora de Versalhes era apenas uma “sanguessuga dos franceses”, a “dilapidadora dos dinheiros da nação” e a “instigadora de discórdias e orgias”.
Morreria como o marido, num espetáculo público que tanto fez
lembrar os Autos de Fé da Inquisição. Não deixa de ser perturbador verificar
como tantos seres humanos se deliciam com o espetáculo macabro da execução de
outro ser humano. Quanto mais cruel e desumano mais público parece atrair. Não
é algo racional, político ou fruto de uma época. Aconteceu no século XVI como
no XVIII ou no século XX, incentivado pela Igreja como pelo povo ou pelo
Estado.
O julgamento e a morte de Maria Antonieta é um daqueles
momentos que fizeram a História, na medida em que marca o princípio do fim da
monarquia, enquanto poder absoluto e efetivo, no velho continente, e
concomitantemente o início da República. No entanto, para mim, o grande
significado deste momento histórico está no facto de também aqueles que
clamavam pela Liberdade, Igualdade e Fraternidade se mostrarem tão animalescos
como um qualquer déspota insensível ou um ditador carniceiro.
Maria Antonieta e Luís XVI expiaram muito mais do que os
seus pecados e tornaram célebre uma máquina de morte e tortura, que sempre vi
como um dos inventos mais infelizes do ser humano.
A bela austríaca, alienada da realidade, insensível à fome
do povo, acabou sem luxos nem fausto, impossibilitada de se despedir do marido
(guilhotinado em 20 de janeiro de 1793) e dos filhos, porque a revolução da Liberdade,
Igualdade e Fraternidade achou mais importante a vingança que a humanidade.
GAVB
Apesar de ser um instrumento macabro, era na época um método mais rápido e indolor do que por exemplo o enforcamento ou o uso de um machado.
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