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quarta-feira, 11 de abril de 2018

O JULGAMENTO DE SÓCRATES


A história dos homens está cheia de julgamentos célebres, por via do estatuto das pessoas em julgamento, dos crimes por elas cometidos ou por causa da terrível injustiça que o tribunal autorizou, ao condenar um inocente.
O caso do filósofo grego Sócrates inscreve-se neste último caso. 
Decorria a primavera do ano 399 a.C. quando o grande Sócrates era levado a tribunal por não acreditar nos deuses, acusado de introduzir novas divindades demoníacas, de corromper os jovens.
  Sócrates era um homem altamente considerado na sociedade ateniense, famoso e respeitado. Ele acreditava no poder da retórica e na força da convicção e, por isso, toda aquela acusação lhe parecia um enorme equívoco, um absurdo gigantesco.

Depois dos acusadores falaram, ficou perante o velho sábio um clepsidra e Sócrates gastou os primeiros minutos da sua defesa com… silêncio. Na verdade, ele não tinha preparado nenhum discurso e recusara-se a encomendar a sua defesa aos logógrafos (escritores profissionais de discursos). Começou por confessar que aquele local – o tribunal – era estranho para ele. Esse facto causou enorme perplexidade entre amigos e inimigos. Se uns ficaram nervosos perante a pouca habilidade do filósofo em se defender de infundadas acusações, outros aproveitaram para o atacar por não frequentar um lugar de tanto prestígio como era o  tribunal, para os atenienses.
O discurso de defesa de Sócrates sabemo-lo por intermédio de Platão. Fazendo uso de uma fina ironia mal compreendida, Sócrates negou a sua sabedoria e sobretudo a capacidade de influenciar negativamente os jovens atenienses. Não o acreditaram e, apesar de não possuírem provas concludentes para o condenarem, 361 jurados, contra 140, votaram a condenação à morte do mais emblemático grego da antiguidade clássica.

Como nessa altura decorriam as tradicionais festas em memória da libertação de Creta do Minotauro por Teseu, Sócrates não foi logo executado. Enquanto aguardava na prisão, os amigos criaram as condições propícias para a sua evasão, mas o velho Sócrates negou-se a fugir. Isso derrubaria a reputação de virtuoso, que alcançara em vida, e, além disso, defendia que a uma injustiça não  se deve responder com outra injustiça.

Quando chegou o dia, perante amigos e familiares, tomou a cicuta e bebeu-a até ao fim. Em pouco tempo o veneno fez o efeito esperado e assim se consumava um dos maiores erros da história do Direito.
Lenda ou facto, a  verdade é que se conta que a primeira mulher de Sócrates, quando soube do processo que moviam ao marido, exclamou indignada:
- Como é possível que te condenem injustamente?
         Ao que Sócrates terá respondido:
         - Preferias que me tivessem condenado justamente?
GAVB

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