Escrita e produzida no início do último outono, CLÁSSICO dos "The Gift" é uma música soberba, onde a ideia musical harmoniza perfeitamente com a letra da dupla Sónia Tavares e Nuno Gonçalves.
Em toda a música há aquela nostalgia triste do castelo de sonhos desfeito, das lágrimas que secaram no rosto e a certeza de que a vida contínua além de toda a desilusão.
Os "The Gift" consideram que esta é uma canção de partida, que apela aos recomeços, mas eu vejo nela a desilusão de muitas relações modernas onde o falhanço se tornou quase uma inevitabilidade. O centro da canção bate ao ritmo daquele fortíssimo refrão
Só seu
Só eu
Que evoca memórias, que nos resume a vida ou simplesmente nos faz ver a diferença entre o que sonhámos e com que ficámos. “Juntos” era o sonho que morreu, juntos era o amor; mas desse amor ficou apenas a solidão (Só Eu /Só Eu).
E quando o amor falha, quando os sonhos não se concretizam é impossível não haver consequência: “algo em mim aqui morrer”. Morreu a inocência de quem acredita sem hesitação, morreu a entrega absoluta, morreu a alegria que não desconfia.
E ainda que o fim da estrada não signifique propriamente o fim, afinal de contas “há flores por abrir”, ainda que no fim da estrada reste sempre a solução de “partir para outra”, isso será sempre um resto para o qual nos empurraram, não uma escolha. Talvez por isso Sónia cante logo desde início “Vou querer sobreviver ao dia de amanhã”, porque sabe perfeitamente que depois de "virar a página", de partir, apenas tem o mar, o sol e a chuva como companhia. Ou por outras palavras: "Só Eu".
E verdadeiramente não podemos esperar coisa que não o vazio quando o amor termina e os sonhos acabam – partir. Importa pouco se estamos fracos ou fortes. Obviamente estamos fracos… obviamente temos de partir e recomeçar.
«Clássico» é uma metáfora interessante dos relacionamentos modernos, onde a sensibilidade não conseguiu apagar a deceção nem o foco no «Eu» consegue desmentir quanto almejamos o “Juntos”.
E talvez a felicidade seja isto: um cíclico saber reerguer-se e voltar a acreditar, como da primeira vez, ainda que algo parece ter morrido. Talvez a felicidade não seja um lugar de chegada mas a própria viagem, ainda que toda a viagem só tenha sentido quando sabemos qual é o nosso porto seguro.
Gabriel Vilas Boas
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