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segunda-feira, 25 de abril de 2016

«AO ESTADO A QUE ISTO CHEGOU»


A frase pertence a Salgueiro Maia, um dos mais puros heróis da revolução portuguesa de 1974 e foi proferida na madrugada desse lindo dia de 25 de abril de 1974, quando o capitão Salgueiro Maia se dirigiu aos soldados da Escola Prática de Cavalaria, na parada do Quartel, e lhes disse:
«Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas; os estados corporativos e o estado a que isto chegou! Ora nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos. De maneira que quem quiser vem comigo para Lisboa e acabamos com isto. Quem é voluntário sai e forma. Quem não quiser vir não é obrigado e fica aqui.»


Salgueiro Maia chegou a Lisboa com 240 homens, numa coluna de blindados que saiu de Santarém às três da madrugada para mudar o rumo da História de Portugal.
Ao contrário do que o Movimento das Forças Armadas pediu, raros foram os lisboetas que se recolheram em sua casa, talvez pressentindo que o regime estava morto e não haveria luta.
Na manhã do dia 25 de abril de 1974, o Largo do Carmo estava cheio, com gente em cima dos tanques, das árvores e dos postes. E alguém engalanou os canos das G-3 com cravos vermelhos, com se no coração da população só houvesse lugar para a festa e o derramamento de sangue fosse de todo improvável.
No quartel da GNR fronteiro ao Largo do Carmo, Marcelo Caetano recebia a extrema-unção do regime salazarista e entregava o poder sem dar luta, apenas fazendo uma exigência decorativa: entregaria o poder desde que fosse o general Spínola a recebê-lo, porque, segundo Marcelo Caetano, “o poder não podia cair na rua”. Claro que não, ele já estava completamente na rua.



A revolução portuguesa foi provavelmente a revolução mais pacífica da História, porque a ditadura estava totalmente podre, cansada da sua existência e apenas esperava que alguém pegasse o país no colo. Portugal era aquela frase bem-disposta e certeira de Salgueiro Maia. 

Quarenta anos depois, ela parece novamente certeira, só que não falta a liberdade de expressão e a democracia por que todos suspiravam em 1974, mas sim autonomia económica para tomar as decisões que nos parecem mais justas. Não temos nenhum Salgueiro Maia para nos guiar até junto de quem detém o poder sobre Portugal, nem o poder está podre ou cansado. Todavia é bem possível que não existam 240 portugueses capazes de marchar sobre esse poder cego e desumano que aprisiona estados e condiciona gerações. Por vezes chamamos-lhe neoliberalismo, outras vezes interesses económicos, muitas vezes materialismo ou egoísmo. Prefiro chamar-lhe falta de amor a Portugal, que, quer queiramos quer não é o nosso país.
Gabriel Vilas Boas

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