A frase pertence a Salgueiro Maia, um dos
mais puros heróis da revolução portuguesa de 1974 e foi proferida na madrugada
desse lindo dia de 25 de abril de 1974, quando o capitão Salgueiro Maia se dirigiu aos
soldados da Escola Prática de Cavalaria, na parada do Quartel, e lhes disse:
«Há
diversas modalidades de Estado: os estados socialistas; os estados corporativos
e o estado a que isto chegou! Ora nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que
chegámos. De maneira que quem quiser vem comigo para Lisboa e acabamos com isto.
Quem é voluntário sai e forma. Quem não quiser vir não é obrigado e fica aqui.»
Salgueiro Maia chegou a Lisboa com 240
homens, numa coluna de blindados que saiu de Santarém às três da madrugada para
mudar o rumo da História de Portugal.
Ao contrário do que o Movimento das Forças
Armadas pediu, raros foram os lisboetas que se recolheram em sua casa, talvez
pressentindo que o regime estava morto e não haveria luta.
Na manhã do dia 25 de abril de 1974, o Largo
do Carmo estava cheio, com gente em cima dos tanques, das árvores e dos
postes. E alguém engalanou os canos das G-3 com cravos vermelhos, com se no
coração da população só houvesse lugar para a festa e o derramamento de sangue
fosse de todo improvável.
No quartel da GNR fronteiro ao Largo do
Carmo, Marcelo Caetano recebia a extrema-unção do regime salazarista e
entregava o poder sem dar luta, apenas fazendo uma exigência decorativa:
entregaria o poder desde que fosse o general Spínola a recebê-lo, porque, segundo Marcelo Caetano, “o poder não podia cair na rua”. Claro que não, ele já
estava completamente na rua.
A revolução portuguesa foi provavelmente a
revolução mais pacífica da História, porque a ditadura estava totalmente podre,
cansada da sua existência e apenas esperava que alguém pegasse o país no colo. Portugal
era aquela frase bem-disposta e
certeira de Salgueiro Maia.
Quarenta anos depois, ela parece novamente certeira, só que não falta a liberdade de expressão e a democracia por que todos suspiravam em 1974, mas sim autonomia económica para tomar as decisões que nos parecem mais justas. Não temos nenhum Salgueiro Maia para nos guiar até junto de quem detém o poder sobre Portugal, nem o poder está podre ou cansado. Todavia é bem possível que não existam 240 portugueses capazes de marchar sobre esse poder cego e desumano que aprisiona estados e condiciona gerações. Por vezes chamamos-lhe neoliberalismo, outras vezes interesses económicos, muitas vezes materialismo ou egoísmo. Prefiro chamar-lhe falta de amor a Portugal, que, quer queiramos quer não é o nosso país.
Gabriel Vilas Boas
Quarenta anos depois, ela parece novamente certeira, só que não falta a liberdade de expressão e a democracia por que todos suspiravam em 1974, mas sim autonomia económica para tomar as decisões que nos parecem mais justas. Não temos nenhum Salgueiro Maia para nos guiar até junto de quem detém o poder sobre Portugal, nem o poder está podre ou cansado. Todavia é bem possível que não existam 240 portugueses capazes de marchar sobre esse poder cego e desumano que aprisiona estados e condiciona gerações. Por vezes chamamos-lhe neoliberalismo, outras vezes interesses económicos, muitas vezes materialismo ou egoísmo. Prefiro chamar-lhe falta de amor a Portugal, que, quer queiramos quer não é o nosso país.
Gabriel Vilas Boas
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