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sábado, 30 de abril de 2016

A ESCOLA É A IDENTIDADE DE UM POVO



A Europa é o mais lindo tesouro multicultural do planeta. Nela habitam línguas, culturas, costumes e climas tão diversificados quanto complementares que atraem continuamente gente dos quatro cantos do mundo. É certo que na Europa há paz, há democracia, há riqueza e as mais variadas formas de expressar as mil e uma facetas da alma humana, mas também há uma grande importância atribuída à Escola como fator primordial de afirmação pessoal e coletiva.
Apesar de toda a multiculturalidade, cada país mantém a sua pegada genética e a escola é o local onde tal se começa a notar. Recentemente li um trabalho patrocinado pela Unicef sobre o dia-a-dia das crianças em várias escolas espalhadas pelo mundo. Trago hoje três exemplos europeus: uma rapariga belga, outra italiana, um rapaz polaco.


A belga tinha oito anos e frequentava uma escola internacional, onde os colegas provinham um pouco de todo o mundo. Era-lhe familiar ouvir falar italiano, espanhol, alemão, mas tal não impedia a realização de trabalhos em conjunto nem as brincadeiras sem fronteiras. Claro que falamos de Bruxelas, centro administrativo da União Europeia, uma das capitais mais poliglotas da Europa. Aí, mais do que uma obrigação, é uma necessidade ser versado em línguas. Talvez por isso essa destreza linguística seja um traço fundamental da escola belga.





Em Itália o foco é outro. Recordo Chiara, uma adolescente de onze anos que vive perto de Milão. O centro da sua educação estava nas artes: aprender música, visitar museus ou observar in loco obras de arte faziam parte do menu educacional dessa adolescente transalpina. A cultura e a mentalidade italianas tinham sido transportadas para a Escola de uma maneira mais vincada do que acontecia em Bruxelas, com a jovem Flora.
Já na Polónia, o menino Marek, natural de Cracóvia, passa os seus dias na escola, onde tem aulas regulares, atividades extracurriculares (dança) e faz todas as refeições importantes do dia. A escola proporciona-lhe o contacto com a natureza, a religião, a arte e o desporto. Não notei nenhuma preocupação em internacionalizar o ensino nem um forte pendor da cultura polaca nos conteúdos ou métodos de ensino, mas “apenas” a vontade de relacionar as crianças com a natureza, de oferecer um ensino diversificado, de equilibrar atividade física e motora com a parte intelectual.

Decidi então viajar no tempo e procurar Marek, Chiara e Flora vinte anos depois. Não encontrei um, encontrei milhares. Os traços que a escola começara a esboçar estavam agora bem definidos e transformaram-se em peças únicas com dois encaixes que formam o puzzle europeu. A identidade de cada povo estava neles e havia começado na escola.
Quando um país leva a sério a «sua» Escola, a sua identidade mantém-se uma identidade inconfundível e necessária para que o puzzle esteja completo; quando despreza a educação, qualquer multinacional compra a patente e transforma-a em produto descartável de marca branca.

Gabriel Vilas Boas

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