O romance de António Lobo Antunes foca o
tema da guerra colonial portuguesa e os traumas que ela deixou nos combatentes
portugueses.
Ao
longo de todo o romance ressalta o sentimento de revolta perante uma guerra sem
sentido, em defesa dum patriotismo balofo e dum regime que a maioria odiava de
tão despótico que era.
A
voz do narrador é a voz do autor pois percebe-se que o protagonista é um
soldado que foi mobilizado para Angola, exercendo também a função de médico,
tal como o autor do romance.
A
narrativa demonstra também o absurdo da guerra colonial, pois percebe-se que os
soldados não lutavam por uma causa, não entendiam porque estavam naquele fim do
mundo (Os cus de Judas), não
partilhavam a ideia de pátria serôdia do Dr. Salazar e seus apaniguados, não
sentiam aquele território como seu, não sentiam nos africanos os seus inimigos
… em suma, não percebiam por que tinham de matar e morrer por um ideal que não
era o seu.
O
livro propõe uma reflexão sobre um tempo e uma guerra de guerrilha que marcou
uma geração de portugueses, de uma forma indelével. E como o autor muito bem
faz notar, a raiva que transparece no livro é também pelo não reconhecimento
desses traumas por parte daquele Portugal que ficou a gozar a paz. António Lobo
Antunes acentua muito essa ingratidão, esse olhar de lado, como se os
combatentes em África fossem doentes mentais, a quem se tivesse de dar um
desconto por algumas atitudes mais agressivas.
O livro é a voz de muitos ex.
combatentes que não entendem esse tratamento ingrato, de desprezo , por vezes
humilhante a são votados pelos seus compatriotas quando estiveram a dar a vida
por eles, numa guerra que nunca quiseram, e que os transtornou de modo
irreversível.
Por
outro lado, o romance marca de forma categórica a revolta e muitas vezes o ódio
do autor a Salazar e ao regime do Estado Novo, por lhes terem destruído muito
mais que a juventude, a confiança de viver.
Gabriel Araújo
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