Alguns professores ficaram muito
admirados pelo facto da comunicação social falada e escrita ter dado
pouquíssima relevância à sua manifestação de protesto, de ontem, no centro de
Lisboa. Foram cinquenta mil pessoas e ficaram reduzidos a dois minutos, no meio de um qualquer noticiário, como uma notícia banal entre a crise psiquiátrica
do Sporting, o casamento de um príncipe inglês ou o rali de Portugal.
Há muitos que os professores
tinham deixado de ser respeitados pelo poder político (ontem, só apareceu o
comunista Jerónimo de Sousa, o que não deixa de ser elucidativo, e dos
restantes partidos nem um referência) e agora são desprezado pelos media.
Percebo perfeitamente o desalento
de quem fez uma viagem de 800 quilómetros e teve de gastar oito horas do seu
fim-de-semana em viagens, para ouvir o discurso dos líderes sindicais,
engrossar as fileiras dos manifestantes e perceber pouco depois o desprezo a
que votam a sua luta, os seus direitos, as suas reivindicações.
Há uma clara sensação de
impotência na luta dos professores (como de outras classes profissionais),
porque as lógicas mediáticas destroem qualquer tentativa de pressão política. A
comunicação social gosta de dizer que afronta o poder, que dá voz a quem não a
tem, mas a verdade é que a maneira vampírica com que consome acontecimentos,
lutas, denúncias acaba por fazer o jogo daqueles que acusa.
O mundo está em mudança. As
velhas fórmulas de lutas sindicais, de pressão mediática ou de denúncia de crimes
estão ultrapassadas, mas os problemas não.
Os professores
não devem desanimar, mas «apenas» reinventar outra forma de reivindicar, de
fazer passar a mensagem, de conseguir os seus objetivos. Nos últimos tempos, vejo
com agrado os professores a procurarem outras formas de luta. Foi assim a ILC
(Iniciativa Legislativa de Cidadãos), com a luta dos professores contratados,
com o concurso extraordinário de professores, já neste ano letivo. Procurando
no sistema, maneiras de apanhar o rato na sua própria ratoeira.
Nota: na manifestação de professores de ontem, vimos muita
gente da velha guarda, de fora de Lisboa, a lutar pelos direitos de professores
que parecem já ter desistido. É uma lição, mas impõe também uma reflexão.
Trazer
os professores mais novos para a luta não obrigará a uma mudança de modus
operandi? Não estará na altura de renovar os quadros dirigentes dos
sindicatos de professores, dando lugar aos mais novos? Fica mal acusar os
políticos e fazer o mesmo.
GAVB
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