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quarta-feira, 9 de maio de 2018

UM BATOM PERIGOSO NO MEIO DE TÃO PATRÍCIO FOGO-DE-ARTIFÍCIO



Há mais de vinte anos que assisto a jogos de futebol, ao vivo. Normalmente vejo apenas os grandes jogos, que envolvem o meu clube contra outro clube grande ou contra grandes clubes estrangeiros. Tanto vejo jogos no estádio do meu clube como no do clube adversário. E se há coisa que sempre me revoltou foi as proibições que os clubes organizadores dos jogos fazem em relação aos adereços (camisolas, cachecóis) que os adeptos do clube adversário podem levar para dentro do estádio.

Então eu não pago bilhete? Então eu não posso manifestar, como qualquer outro espectador, o agrado pelo meu clube, usando uma cor, uma camisola, ou cachecol? Como é isto possível num estado de direito democrático? Como é que autoridades policiais compactuam com estas ilegais proibições ditadas pelo fanatismo e falta de fair-play dos dirigentes dos clubes?

Nos jogos internacionais é proibido invetivar um jogador negro de um clube adversário com cânticos ou tarjas racistas. Já houve clubes severamente punidos por causa destas práticas xenófobas dos seus adeptos, mas em Portugal acha-se bem proibir a entrada de alguém que traga uma camisola interior azul, verde ou vermelha, porque pode ferir a suscetibilidade dos grunhos dos adeptos dos clubes da casa. Revolta-me imenso este tipo de prática e gostava mesmo que esses dirigentes tivessem a coragem de as implementar em jogos da UEFA. Ia ser muito divertido e esclarecedor.

Hoje, o sensato Bagão Félix, que já foi ministro das Finanças de Portugal, na sua crónica semanal no jornal «’A Bola» tem um excerto de deliciosa ironia sobre isto, contando uma história tão verdadeira quanto surreal.
Transcrevo o respetivo excerto.

«Uma das minhas netas, quinze anos de idade, benfiquista de alma e coração, foi a Alvalade com uma das suas melhores amigas, sportinguista de coração e alma. À entrada, embora sem qualquer sinal exterior de adepta encarnada, revistaram-na e encontraram uma perigosíssima arma de destruição maciça: um batom para o cieiro. Com um demoníaco pormenor, o invólucro era vermelho. Vai daí, um zelota dos bons costumes tirou-lho repentinamente e atirou-o para o lixo, garantindo assim a ordem pública e impedindo uma jovem tranquila e educada de provocar desacatos com tão contundente objeto.
Uns minutos depois, antes do jogo se iniciar, elas assistiram já sentadas ao fogo-de-artifício com que as claques leoninas deram as boas-vindas. O tal zelota ainda deve estar a pensar como tendo ele evitado uma catástrofe com o batom da minha neta foi impotente (ele e os colegas) para impedir os adultos de levar bombinhas Entrudo. Um perigoso batom é um batom perigoso, mesmo que seja do cieiro. Assim vai o nosso futebol. Apanha-se uma mosquinha para fingir que se controlam os elefantes.» 

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