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segunda-feira, 19 de julho de 2021

ALVES DOS REIS, O PRIMEIRO GRANDE BURLÃO DA HISTÓRIA DE PORTUGAL



Agora a televisão está cheia de burlões de tantos milhões que até sorrimos com bonomia, quando nos lembram o primeiro de todos: ALVES DOS REIS.
No entanto, de quando em quando, a RTP encarrega-se de nos refrescar a memória acerca deste figurão inteligente e bem-falante, com uma série inspirada na sua vida e nas suas façanhas à margem da lei. 
A fama de Artur Virgílio Alves Reis (1898-1955) extravasa das fronteiras portuguesas, pois mais ninguém, que conste, conseguiu falsificar dinheiro verdadeiro…

Filho de um cangalheiro, embarcou jovem para Angola, onde se fez passar por engenheiro, falsificando um diploma de Oxford. Ali, enriqueceu comprando, com um cheque sem cobertura, a maioria das ações de uma companhia ferroviária. De regresso a Lisboa, adquiriu uma empresa de revenda de automóveis norte-americanos passando um cheque sem provisão que, depois, cobriu com os fundos da própria firma. Com o dinheiro restante, tentou adquirir uma empresa mineira de Angola, mas descobriu-se a fraude e ele lá foi fazer uma visita à cadeia. 
Defendendo-se bem, conseguiu ser libertado, após o que concebeu o plano de encomendar uma grande quantidade de notas de 500 escudos à própria casa impressora britânica que costumava imprimir o dinheiro português por encomenda do Banco de Portugal. Desta avalanche de dinheiro falso, que era “verdadeiro”, meteu ao bolso 25%, quantia com a qual fundou o Banco Angola e Metrópole, jogou fortemente na Bolsa, comprou um palácio e três quintas, tornou-se proprietário de uma empresa de táxis, encheu a mulher de joias e tentou apoderar-se do Diário de Notícias. O seu objetivo último era comprar o número de ações do Banco de Portugal (que, na altura, era semiprivado) necessário para poder abafar o escândalo das notas, na eventualidade de a maquinação ser descoberta.

Foi mesmo descoberta, e Alves dos Reis condenado a uma pesada pena de prisão. Seria libertado em 1945, com 47 anos, e morreria de ataque cardíaco, uma década mais tarde. Vamos dar-lhe a palavra.

«Meus senhores! Eu sou um honestíssimo empreendedor, cujos meios de fortuna nada ficam a dever aos grandes financeiros do vosso século. Parafraseando um posterior colega meu, que vós deveis conhecer bem, tudo o que fiz foi “para ajudar a banca nacional”. (…) Fiquei conhecido, sobretudo, pelo golpe das notas de 500 escudos, com a efígie de Vasco da Gama. De forma difamatória, fui acusado de falsificação. Mais do que um equívoco, tal acusação é uma fraude – e em fraudes, farão a justiça de reconhecer, serei eu uma autoridade. (…) 


Se eu alguma vez falsifiquei alguma coisa, essa coisa não foram notas de banco. Talvez umas assinaturas. Se calhar um ou outro documento oficial. E claro, com a tenra idade de 18 anos, um magnífico diploma de engenheiro, da própria Universidade de Oxford, uma das mecas do Ensino Universitário mundial, certificado pela prestigiadíssima Polytechnic School of Engineering – instituição, aliás, inexistente. Ora, mas quem nunca?…
(…) Se adquirisse as ações da empresa, mediante o pagamento com um cheque careca (…), poderia vendê-las a tempo de dotar a conta de provisão, ainda antes de ele ser descontado. (…) Se fosse no vosso século, teria pedido emprestado ao banco para comprar as ações, dando por garantia os próprios títulos. (…) É um esquema genial, reconheço, e tiro o meu chapéu aos que, depois de mim, inventaram este tipo de estratagemas…»

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