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domingo, 9 de agosto de 2015

FARRAPO HUMANO


O ano de 1945 foi marcante para o mundo porque viu terminar a mais sangrenta e destruidora guerra de que há memória, e memorável para o realizador Billy Wilder, que antes de fazer quarenta anos era premiado pela Academia de Hollywood com o seu primeiro Óscar como realizador, com o filme Farrapo Humano, que conquistou a Academia por completo: Melhor filme, melhor realizador, melhor ator principal.
Farrapo Humano (The Lost Weekend), de Billy Wilder, é, além de um drama em torno do alcoolismo que não perde atualidade, um marco na história do cinema adulto em Hollywood. Um excelente argumento premiado com o Óscar da autoria do próprio Wilder e de Charles Brackett, servia de alicerce para que o realizador (também ele o melhor de 1945) contasse em imagens: a alucinação vivida por um alcoólico (Ray Milland), num fim-de-semana, em que desce até ao fundo do abismo. As cenas foram minuciosamente concebidas, fotograma a fotograma, sendo usadas técnicas como o zoom ou a profundidade de campo, para evidenciar permanentemente a ameaça da bebida.

O desempenhado de Milland, que lhe deu o Óscar de Melhor Ator, é soberbo. Habitualmente visto em comédias ligeiras de êxito duvidoso, construiu um personagem inesquecível. O ator abordou o seu papel com cuidado invulgar para a época: fez uma dieta radical para perder peso e ganhar mau aspeto, Experimentou ele próprio os excessos com a bebida e chegou, inclusivamente, a fazer-se internar uma noite na ala dos alcoólicos do Hospital Bellevue, em Nova Iorque.
Esta última experiência deixou Wilder de tal modo satisfeito que o realizador moveu esforços para filmar uma das sequências no próprio hospital. Contudo, depois de pronto o filme, os responsáveis de Bellevue cortaram definitivamente com Hollywood, pois é mostrado um enfermeiro a maltratar um alcoólico.
Inicialmente, Milland estava relutante em aceitar o papel, mas acabou por convencer-se graças ao empenho da sua mulher e, também, por saber que a dupla Wilder/Brackett nunca tinha tido um fracasso.
Quando os executivos da Paramount viram este filme quase surrealista, informaram Wilder de que estavam a pensar não o colocar no circuito comercial, face aos protestos que vinham recebendo de partidários da abstinência, que consideraram estar ali um incentivo ao consumo do álcool. Por outro lado, os barões da indústria de bebidas chegaram a oferecer cinco milhões de dólares pelas cópias da película, para que estas pudessem ser destruídas.

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