Há
algum tempo o filósofo e linguista americano Noam Chomsky escreveu um
interessantíssimo texto sobre estratégias de manipulação mediática. Ao lê-lo,
dei comigo a pensar como a manipulação tomou conta dos dias modernos, de tal
modo que muitos vivem do seu dióxido de carbono enquanto outros convivem com a
angústia de serem manipulados. No meio, uma legião de inocentes é consumida
pelas doces labaredas da manipulação.
A
manipulação é uma coisa má. A curto prazo traz vantagens ao manipulador, mas a
longo prazo cria danos irreparáveis em todos, ao minar a confiança que existe
entre as pessoas. E a confiança é um dos pilares fundamentais das relações
humanas.
A
manipulação inspira-se na ignorância humana e num certo sedentarismo mental,
que nos leva adotar pensamentos, opiniões, comportamentos dos outros sem refletirmos
sobre eles, sem pensarmos na sua utilidade e na nossa efetiva ligação a eles.
Quantas vezes pensamos se aquilo que estamos a fazer ou a dizer é aquilo que
realmente queríamos fazer ou aquilo que os outros queriam que fizéssemos? É
muito mais fácil comprar uma ideia feita, sem ter que a sustentar ou justificar.
O manipulador percebe essa preguiça intelectual e atua como um predador,
impondo-nos sorrateiramente a ideia que melhor lhe convém, fazendo-nos crer que
somos nós que decidimos, que a ideia é nossa. O processo é quase pavloviano,
mas o papel de embrulho é tão bonito que caímos como patos.
Quando
o manipulador não é demasiado ansioso no processo de engodo da nossa
personalidade, podemos viver enganados durante longo tempo, mas o excesso de egoísmo
e o crescente materialismo em que vivemos apressou os manipuladores e fê-los
cometer erros fatais. Dá-se então o grande choque com a realidade e o
manipulado experimenta a horrível sensação do engano preparado, reiterado,
propositado. Normalmente perde-se uma alma inocente para sempre, mas há casos
em que se perde dramaticamente mais do que isso.
Ao
refletir sobre muitos casos de manipulação, uns públicos outros privados,
chego, muitas vezes, à conclusão que, quase sempre, a vitória é ilusória. O prazer
de vitória do manipulador é bem menor; os ganhos obtidos têm a consistência de um
soufflé; a confiança fica entornada pelo chão e viver torna-se num exercício
sofrido de permanente escrutínio das ações dos outros.
Manipular
não é viver, manipular é usar permanentemente uma máscara que não nos permite
sentir por inteiro.
Gabriel Vilas Boas
Assim é.
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