Quinhentos mil portugueses já foram infetados pelo coronavírus; mais de oito mil já faleceram por causa da pandemia e Portugal registou, há dois dias (11-1-21), 633 mortos, num único dia.
A COVID «só» foi responsável por 122, ou seja, menos de 20%.
Por que chegamos até aqui? De quem é a culpa? A culpa é de todos, mas há uns mais culpados do que outros, porque há gente que morre que não tinha de morrer. Gente que morre, porque não há médicos que cuide dela, gente que morre porque quem dirige o país acha que a pandemia se trata com a mesma leviandade com que se autorizou a festa do Avante ou o comício do PCP. Gente que acha que numa escola não há professores e funcionários, com mais de sessenta anos, pessoas de risco, que deviam ser protegidas.
Temos dez mil novos contaminados por dia e a culpa é do pessoal que se junta nos cafés, restaurantes e ginásios? Só pode, porque as escolas com dois mil alunos vão continuar abertas, como vai continuar aberto o Pingo Doce, o Continente e o Lidl, onde se faz, todos os dias, filas à porta, pois ninguém gosta de perder ajuntamento da carne, do peixe e dos legumes.
Nos lares continuam as contaminações, já que a vacina ficou parada nos hospitais públicos. Morre gente, literalmente, à porta de um hospital, porque ao fim de oito horas um médico não conseguiu encontrar tempo, cama e espaço para o recolher. Nos últimos dias, os internados em enfermaria, por causa da COVID, subiram, à média de 150 por dia, mas não há crise.
O importante é garantir que os velhos votem nas eleições, ainda que se quebre mais uma vez o raio da bolha dos lares, porque há uns alienados que nos governam e que acham que, mesmo com o dobro de contágios por 100 mil habitantes dos da Alemanha, temos de fazer apenas um confinamento light para «a coisa» ir ao sítio.
Um bom comandante resolve problemas, não passa culpas. Não muda de critérios de avaliação de risco por tática ou conveniência política. Não manda os seus guerrilheiros confraternizar com o inimigo a meio da luta, sem existência de cessar fogo, esperando que a sorte proteja os incautos.
Um comandante em condições não pede aos seus generais que lhe resolvam os problemas, mas retira-lhes as armas e decide contra as suas indicações.
A ministra da saúde queria outro tipo de confinamento, mas Costa, o génio do Natal 2020 mais liberal da europa, acha que ele é que sabe e portanto siga para bingo: escolas abertas, supermercados abertos, futebol de primeira liga na televisão, eleições na data prevista, como se a saúde dos portugueses dependesse da reeleição de Marcelo em 24 de Janeiro.
"Ah, e tal a constituição não permite alterar a data sem revisão constitucional".
E a constituição permite que uma ministra da saúde tenha de ordenar a suspensão de cirurgias programadas de prioridade normal ou prioritária? Deve permitir!
Desde o início da pandemia que os médicos já têm de escolher quem morre. E morrem quase todos aqueles que precisam urgentemente de um médico e dos serviços de um hospital, mas não são doentes COVID. Ainda há dois dias morreram 500, em 24 horas.
Mas sobre isto o génio do Costa nada disse. Não se lembrou. O importante é garantir as aprendizagem dos petizes, que não podem perder as aulas presenciais.
Morreram 500 pessoas não-Covid no dia 11 de Janeiro de 2021? Olha, azar, ou como diria Estaline, "-500 mortes, num só dia? Isso é uma estatística. Se fosse uma só morte, seria obviamente uma tragédia, porque a vida humana não tem preço!" E dizendo isto, verteu uma lágrima.
Gabriel Vilas Boas
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