Entendo perfeitamente a angústia do ministro do Ambiente
português, João Pedro Matos Fernandes, quando percebe a acusação velada no
olhar das vítimas das cheias dos últimos dias. Também ele sabe que boa parte
dos estragos poderiam ter sido evitados se o Ambiente não fosse o filho
bastardo da governação. Por isso, resolveu trazer debate uma questão
pertinente: a insensibilidade da justiça portuguesa para os crimes
ambientais.
O ministro dá um exemplo concreto, sem citar nomes: «O Ministério Público está cada vez mais atento à relevância e à gravidade dos crimes e
contraordenações ambientais, mas a magistratura judicial transforma, às vezes,
uma multa de 72 mil euros em contribuições de 300 euros para os bombeiros
locais.»
Se isto não for um caso isolado, mas uma prática corrente, diria
que anda a magistratura portuguesa a convidar ao crime ecológico. Também já
tinha tido esta impressão, aquando da contaminação do Tejo, por uma empresa do
patrão do Correio da Manhã. Curiosamente, o jornal mais dado a notícias sensacionalistas
nunca se interessou por crimes ambientais. A maioria dos portugueses também
lhe passa ao lado e, talvez por isso, só haja revolta quando morrem pessoas nos
incêndios ou as águas das cheias dos rios desalojam aldeias inteiras.
O crime ambiental é o que mais compensa porque a população
portuguesa não tem muita sensibilidade para ele. Como se a natureza tudo
pudesse aguentar ou absorver. Não pode!
A população portuguesa precisa de olhar para a natureza que a rodeia
como se do seu próprio corpo se tratasse. Todas as agressões feitas ao ambiente
se repercutirão em cada um de nós.
Em vez de dizermos piadas obscenas sobre a Greta Thunberg ou
tentarmos apoucar os seus esforços, devíamos concentrar-nos a melhorar bastante a nossa prática ambiental.
GAVB
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