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sábado, 14 de dezembro de 2019

GABINETE DO ÓDIO


Joice Hasselmann, deputada federal do PSL[Partido Social Liberal], a mulher mais votada para a Câmara dos deputados na história do Brasil, ex.- aliada política de Bolsonaro, foi à comissão parlamentar mista de inquérito sobre as fake news  e abriu o saco, denunciando um grupo difusor de notícias falsas com ligações ao presidente e funcionado no palácio do Planalto [residência oficial do presidente do Brasil] .
A deputado confirmou a existência de um grupo conhecido como o «Gabinete do ódio», cujos mentores seriam os dois filhos do presidente brasileiro.
O grupo terá difundido e produzido notícias falsas na internet, atuando com uma estratégia bem definida e organizada. Joice explicou método: "escolhe-se um alvo, combina-se um ataque e há, inclusive, um calendário de quem ataca e quando esse alvo está escolhido, entram as pessoas e os robots. É por isso que numa questão de minutos temos uma informação espalhada pelo Brasil inteiro."

Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades! Meia verdade que seja! Há casos em que a zanga das comadres traz ganhos evidentes à comunidade. É claro que a deputada federal, até anteontem aliada do presidente, o qual, há dias, se desfiliou do PSL, sobre qual bandeira concorrera, está envolvida em conflito político com o clã Bolsonaro, e foi ela própria vítima de ciberbullying por parte de Eduardo, filho de Jair Bolsonaro.


Qualquer deles terá dado pouca atenção ao aviso de Millôr Fernandes, de que «não devemos odiar com fins lucrativos, porque o ódio perde a sua pureza.»

«Não há nada mais tenaz que um bom ódio!», proclamava, entretanto, o grande Machado de Assis. 
Mas o primeiro presidente da Academia brasileira de Letras, neto de escravos, não participaria em qualquer Gabinete de ódio para a construção de notícias falsas. 

Do mesmo modo, Bolsonaro, se tivesse vivido cem anos antes, não teria sido acolhido na “Sociedade Petalógica”, organizada por um jornalista e tipógrafo, em cuja livraria se vendia de tudo, incluindo chás e parafusos. 
O lugar era frequentado pelo futuro autor de “Quintas Borba” e “Dom Casmurro”, que também participava na criação de patranhas.  
O método da intelectualidade do Rio de Janeiro, há época, reunida, com frequência, na livraria do tipógrafo Francisco Paula Brito, era o de no convívio de personalidades da classe letrada e não-letrada promover uma mais estreita observação da Mentira e a sua demolição. 
O objetivo dos membros da Sociedade Petalógica era o de, criando patranhas, desprestigiar os mentirosos, os produtores de fake news da época. Afinal, eles antecipavam, com outro garbo, é certo, … as comissões de inquérito.

Fernando Alves Guerra, Sinais, TSF, 5-12-2019

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