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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

BLACK FRIDAY: A MODA JÁ NÃO É COMPRAR, MAS UTILIZAR

A moda já não é comprar, mas sim UTILIZAR. 
Os transportes, a roupa, os livros, os sacos das compras... no entanto, há em nós um lado irracional, antigo e vaidoso que ainda nos domina e nos conduz à compra. Compulsiva, irracional, destrutiva.
 Só isso  explica esta alienação coletiva que fez/faz gastar a cada português mais de trezentos euros em compras no Black Friday. 


Comprar, comprar, comprar... e tornar a comprar como alguém que fuma cigarro atrás de cigarro, nervoso com qualquer evento da sua vida.

É verdade que o Black Friday fica na esquina mais perigosa do ano para a nossa carteira, já que se situa na confluência da Rua do Subsídio de Natal com a Avenida Compras Natalícias, havendo tentações feitas à medida dos nosso pontos fracos em cada monta, feed do facebook, ou spot publicitário que a televisão passa com arte e comoção. No entanto, do outro lado devia de estar o bom senso, a noção que algumas comprar são mesmo desnecessárias e fúteis, além de que nos farão desequilibrarão as finanças e o humor nos próximos dois meses. 

É bem possível que seja quase impossível quebrar este colossal vício consumista, pois ele alimenta-se do nosso pior defeito - a vaidade, mas não será assim tão difícil promover uma transformação libertadora em vez de uma revolução dolorosa. UTILIZAR em vez de comprar. Temos de abandonar definitivamente essa noção esclavagista de posse. 
Amontoamos roupa nos armários, acessórios, sapatos, telemóveis, relógios, coleções de livros cuja folhas nunca virão a luz do dia. Precisamos de tornar todo esse material desfrutável, dando-lhe outros donos, aprendendo a beleza das coisas usadas e, sobretudo, partilháveis. 
Saí muito mais barato e condiz bem melhor com o espírito natalício.
GAVB
  

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

O CONSUMISMO COME O CÉREBRO

Hoje é dia BLACK FRIDAY. Provavelmente o dia do ano em que mais apetece consumir. É já uma data iconográfica.
Para mim é curioso ouvir quase sempre falar dos “direitos do consumidor”, quase nunca dos deveres. Isto acontece porque o consumidor é a parte fraca. Até já tem direito a dia para lembrar os seus direitos. Quanto aos deveres, ele cumpre na perfeição: consome até se consumir.
Consumir já nem é pecado. Tornou-se doença e dependência. Já nem é alvo de censura, mas de compreensão, tal é a impotência com que o enfrentamos. 
Consumir é uma droga legal. Tão legal que muitas economias plantaram o seu sucesso em cima dela. É claro que isso desequilibrou sociedades em geral e o indivíduo em particular, mas isso não interessa nada às máquinas registadoras com duas pernas e muitas mãos. Como são magnânimos e inteligentes permitem o dia do consumidor que, lá no fundo, apenas lhes presta homenagem.



Há mais de cinquenta anos, Kennedy criou o dia procurando que aos americanos fosse garantido o direito à informação, segurança, escolha e o direito a ser ouvido. Portugal só em 1996 consagrou esses direitos, em lei. De lá para cá a DECO tem sido das associações mais ativas em Portugal na sua defesa.
Claro que sei que consumir é uma necessidade humana, claro que reconheço a importância dos direitos dos consumidores estarem plasmados em lei. No entanto, a questão, para mim, transborda o campo legal. É sociológica.
O consumismo é o ato de comprar o que não se precisa, com o dinheiro que não se tem, para impressionar pessoas que não se conhece, a fim de tentar ser aquilo que não se é.
A sociedade ocidental (e agora também a oriental) tornou-se numa sociedade consumista. Uma sociedade de mercado, onde o dinheiro parece ser o único valor que conta, só existe se houver alguém que consuma porque sim.

Isso aconteceu quando o consumismo comeu o cérebro das pessoas. A vaidade e a futilidade fizeram o resto. A mais suprema das ironias é que consumir passou a ser chique, desejável, recomendável. Enfim, uma virtude. É ver a estratégia económica das cidades e até de países como Portugal: “Bom, bom é que venham cá e consumam muito”. É uma ideia de desenvolvimento económica errada, porque depende dos outros. É uma ideia socialmente egoísta que apenas vê o seu interesse. Jamais produzirá sociedades justas, quanto mais felizes ou ricas.
O consumismo é altamente destruidor. Destrói o planeta e o equilíbrio do Homem com a Natureza. Mina o apetite pela descoberta, pela experiência e nesse sentido atrasa a ciência. Mas a mais importante destruição é a do ser humano. Dos valores aos sentimentos a devastação é imensa. O melhor exemplo disso é o Natal, onde a hipocrisia e o consumismo estão a construir uma obra-prima digna do diabo.

O consumismo transformou os valores do ser humano ao entrar-lhe no âmago. Hoje, as pessoas são descartáveis como as coisas, porque as encaramos como objetos consumíveis tal e qual como uma peça de roupa que usamos uma ou duas vezes antes de a pôr definitivamente de lado. Já reparámos que consumimos despudoradamente os outros?
               

Não podemos deixar que o consumismo tome conta do espaço do amor, da amizade, da partilha, pois abrir-se-ão feridas enormes na alma que nos derrotarão com mais contundência que uma doença mortal.
O que temos que fazer é simples: deixar de comprar o que não precisamos. Ter a inteligência suficiente para distinguir entre a necessidade e o desejo.
Precisamos urgentemente de voltar a ter a parcela de liberdade que alienámos. Ela não está perdida, está no “prego”, à espera que tenhamos a coragem de a resgatar.  

GAVB