A internet é a maior e mais poderosa arma da democracia
contemporânea, mas ainda não consegue derrubar ditaduras. Uma das grandes
lições que podemos aprender com elas é que elas não caem pela ação dos cidadãos,
do povo que suspira pelo regresso à liberdade, mas caem quase sempre porque
apodrecem.
Franco, Estaline, Salazar, Pinochet, Fidel Castro, José Eduardo
dos Santos. Eles perpetuaram-se no poder até à morte e só com ela o
regime abriu lentamente e os direitos fundamentais lá foram ganhando cor e
asas.
Isto leva-me a duas conclusões tristes: uma ditadura é como uma bebida
amarga e lenta, que, depois de escolhida, temos de beber até ao fim, sem poder
escolher o fim; geralmente os cidadãos não conseguem recuperar a democracia e a
liberdade por vontade própria. Os movimentos de ativistas, os partidos
ilegalizados, os sindicatos, a indignação da sociedade civil podem muito pouco
perante a força controladora e opressora de uma ditadura.
José Eduardo dos Santos está a morrer, mas já ninguém tira
aos angolanos quarenta anos de ditadura, infelizmente coincidentes com os
primeiros quarenta anos de existência enquanto país. A liberdade dos angolanos
foi sempre uma liberdade condicional. Que marcas ficaram na sua alma? Como irão
reagir aos primeiros anos de vida sem o grande ditador disfarçado de grande
salvador? Não sabemos! Provavelmente nem eles, mas creio que não será nenhum
conto de fadas. A cultura da ditadura, da corrupção, do controlo da liberdade
de expressão está tão arreigada em quem decide que não se desfaz de um dia para
o outro.
Uma ditadura demora poucos meses a formar-se, mas leva anos
a desentranhar-se da pele e da alma.
GAVB
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