Logo após ter conquistado o festival Eurovisão, Salvador
Sobral (o novo herói da nação) acentuou a ideia fundamental do seu discurso,
nos últimos dias: “A Música não é fogo-de-artifício, a música é sentimento”.
Ontem, Portugal encheu-se de festa por causa de três inéditas
conquistas (presença do Papa Francisco em Portugal para fazer santos os três
pastorinhos de Fátima, conquista do inédito tetra campeonato consecutivo
pelo Benfica, conquista do festival da Eurovisão, pela primeira vez, por Portugal),
que imundaram de felicidade o coração de milhões de portugueses.
Alguns assinalaram que se tratava do regresso do Portugal
dos três F, aludindo, em tom irónico e crítico, a um Portugal ignorante,
atrasado, antidemocrático, pobrezinho de conteúdo, de estilo e de classe. No entanto, maioria mandou às malvas a alusão e foi festejar, porque se há coisa que os
sub-30 não têm é complexos.
Há milhões de portugueses que apreciam Fátima e têm
tendência a acreditar nos seus milagres? Há. Como há gente que não tem vergonha
de expressar a sua fé da maneira mais tradicional. Há uma enorme maioria que
adora futebol e o seu clube é o Benfica? Há. E qual é o mal disso? Em que é que
essa gente é inferior a quem gosta de teatro, bailado ou cinema? Ontem,
Portugal descobriu que havia muito mais gente a gostar dos festivais da
Eurovisão do que se suponha. Ou foi apenas o inebriante cheiro a vitória que
fez muitos ficarem colados à televisão? Afinal, parece que os festivais da
canção já não são aquela coisinha pirosa que ninguém via nem dava importância…
Nós somos como somos e não há nada de errado nisso.
Gostamos de futebol, somos cristãos católicos (por muito que o Estado seja e
tenha de ser laico) e gostamos da nossa música, que é uma música onde os
sentimentos do amor e da saudade se misturam frequentemente. É piroso? É atrasado?
É pobrezinho? Não, é genuíno! E não foi essa a grande lição que Salvador Sobral
deu em Kiev? Não foi por causa desse modo genuíno de cantar e de ser que
conquistou o coração e admiração dos outros concorrentes, do júri e do público
europeu?
Por que é que precisamos sempre que sejam os outros a dizer
que não há nada de errado com a nossa maneira de ser? Tentar fazer melhor, tentar
progredir, fazendo coisas com qualidade e novidade, não é esconder aquilo que sentimos
e nos faz felizes, com se fosse algo feio.
Por vezes, parecemos mesmo complexados e masoquistas…
GAVB
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