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domingo, 14 de maio de 2017

O ESTRONDOSO INCÓMODO DOS TRÊS F


Logo após ter conquistado o festival Eurovisão, Salvador Sobral (o novo herói da nação) acentuou a ideia fundamental do seu discurso, nos últimos dias: “A Música não é fogo-de-artifício, a música é sentimento”.
Ontem, Portugal encheu-se de festa por causa de três inéditas conquistas (presença do Papa Francisco em Portugal para fazer  santos os três pastorinhos de Fátima, conquista do inédito tetra campeonato consecutivo pelo Benfica, conquista do festival da Eurovisão, pela primeira vez, por Portugal), que imundaram de felicidade o coração de milhões de portugueses.

Alguns assinalaram que se tratava do regresso do Portugal dos três F, aludindo, em tom irónico e crítico, a um Portugal ignorante, atrasado, antidemocrático, pobrezinho de conteúdo, de estilo e de classe. No entanto,  maioria mandou às malvas a alusão e foi festejar, porque se há coisa que os sub-30 não têm é complexos.

Há milhões de portugueses que apreciam Fátima e têm tendência a acreditar nos seus milagres? Há. Como há gente que não tem vergonha de expressar a sua fé da maneira mais tradicional. Há uma enorme maioria que adora futebol e o seu clube é o Benfica? Há. E qual é o mal disso? Em que é que essa gente é inferior a quem gosta de teatro, bailado ou cinema? Ontem, Portugal descobriu que havia muito mais gente a gostar dos festivais da Eurovisão do que se suponha. Ou foi apenas o inebriante cheiro a vitória que fez muitos ficarem colados à televisão? Afinal, parece que os festivais da canção já não são aquela coisinha pirosa que ninguém via nem dava importância…

Nós somos como somos e não há nada de errado nisso. Gostamos de futebol, somos cristãos católicos (por muito que o Estado seja e tenha de ser laico) e gostamos da nossa música, que é uma música onde os sentimentos do amor e da saudade se misturam frequentemente. É piroso? É atrasado? É pobrezinho? Não, é genuíno! E não foi essa a grande lição que Salvador Sobral deu em Kiev? Não foi por causa desse modo genuíno de cantar e de ser que conquistou o coração e admiração dos outros concorrentes, do júri e do público europeu?
Por que é que precisamos sempre que sejam os outros a dizer que não há nada de errado com a nossa maneira de ser? Tentar fazer melhor, tentar progredir, fazendo coisas com qualidade e novidade, não é esconder aquilo que sentimos e nos faz felizes, com se fosse algo feio.
Por vezes, parecemos mesmo complexados e masoquistas…

GAVB

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