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quinta-feira, 11 de maio de 2017

TALAQ, TALAQ, TALAQ


Quem é com quem diz em indiano «estou divorciado». No entanto, só resulta se for homem e isso tem feito a indignação das mulheres.
O triplo Talaq, uma espécie de divórcio imediato no Islão, existe há cerca de oitenta anos na Índia e está neste momento a ser posto em causa por um movimento de mulheres que conseguiram que o Supremo Tribunal de Justiça discuta a constitucionalidade da norma.
Trata-se claramente de mais uma luta entre tradição e lei, porque não há muito como defender legalmente uma norma discriminatória. Todavia é bom lembrar que a lei ainda emana da tradição e em muitos países islâmicos a tradição manda mais do que a Lei.

O governo indiano já declarou a prática do triplo talaq inconstitucional, referindo que tal tradição atenta contra a igualdade de género e tira dignidade a mulher, mas também vai ter esperar porque quem sabe da constitucionalidade ou não da bizarra tradição muçulmana é o Supremo e este está hesitante e medroso.
O que seria deveras interessante era ver a coisa da perspetiva contrária: se as mulheres (e só estas) pudessem declarar “Talaq, Talaq, Talaq” e como um passo de mágico verem-se livres dos seus indesejados maridos. Como reagiriam os homens indianos? O que diriam sobre a importância de se respeitar as tradições? Provavelmente a tradição já tinha deixado de ser o que ainda é e o Corão tinha sofrido corajosas interpretações.


Às vezes, tenho a sensação que as tradições só são defendidas e evocadas quando egoisticamente nos interessam e não nos importamos nada que causem danos profundos aos outros. É triste que, muitas vezes, não tenhamos a coragem suficiente de corrigir uma tradição absurda, injusta e indigna apenas porque nos dá jeito. E por vezes, não era preciso mais do que um Talaq, Talaq, Talaq de bom senso que «coisa» desaparecia sem deixar saudades.
GAVB

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