Quem é com quem diz em indiano «estou divorciado». No
entanto, só resulta se for homem e isso tem feito a indignação das mulheres.
O triplo Talaq, uma espécie de divórcio imediato no Islão,
existe há cerca de oitenta anos na Índia e está neste momento a ser posto em causa por
um movimento de mulheres que conseguiram que o Supremo Tribunal de
Justiça discuta a constitucionalidade da norma.
Trata-se claramente de mais uma luta entre tradição e lei,
porque não há muito como defender legalmente uma norma discriminatória. Todavia
é bom lembrar que a lei ainda emana da tradição e em muitos países islâmicos a
tradição manda mais do que a Lei.
O governo indiano já declarou a prática do triplo talaq
inconstitucional, referindo que tal tradição atenta contra a igualdade de
género e tira dignidade a mulher, mas também vai ter esperar porque quem sabe
da constitucionalidade ou não da bizarra tradição muçulmana é o Supremo e este
está hesitante e medroso.
O que seria deveras interessante era ver a coisa da
perspetiva contrária: se as mulheres (e só estas) pudessem declarar “Talaq,
Talaq, Talaq” e como um passo de mágico verem-se livres dos seus indesejados
maridos. Como reagiriam os homens indianos? O que diriam sobre a importância de
se respeitar as tradições? Provavelmente a tradição já tinha deixado de ser o
que ainda é e o Corão tinha sofrido corajosas interpretações.
Às vezes, tenho a sensação que as tradições só são
defendidas e evocadas quando egoisticamente nos interessam e não nos importamos
nada que causem danos profundos aos outros. É triste que, muitas vezes, não
tenhamos a coragem suficiente de corrigir uma tradição absurda, injusta e indigna
apenas porque nos dá jeito. E por vezes, não era preciso mais do que um Talaq,
Talaq, Talaq de bom senso que «coisa» desaparecia sem deixar saudades.
GAVB
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