Na entrevista ontem publicada na revista Visão, o
secretário de Estado da Educação, João Costa, afirma com grande pompa e
circunstância que “os alunos precisam de ir muito para além do conhecimento
enciclopédico”. Uma constatação óbvia que, arriscaria dizer, todos os professores
já têm como adquirida há anos. Aliás, há décadas que o conhecimento adquirido
nas escolas não é enciclopédico, embora algum material que o Ministério
disponibiliza às escolas seja do tempo em que a enciclopédia era muito bem
vista.
João Costa diz ainda que não faz sentido ensinar da mesma
maneira em todos os recantos do país. Outra trivialidade: já não se ensina, mas
convém lembrar ao secretário de Estado da Educação que o seu Ministério realiza
exames nacionais de acesso ao ensino superior e esses são iguais para todos,
como tem de ser. Quem os faz são a nata dos alunos portugueses, portanto,
quando João Costa, fala em projetos próprios das escolas está a referir-se a
projetos destinados aqueles que não pretendem seguir o ensino superior, ou
seja, os alunos menos dotados.
Destinando esses percursos alternativos aos piores alunos
como quer o Ministério da Educação retirar deles grande sumo qualitativo? Não
me parece… parece-me apenas que o ME quer fazer um embrulho muito bonito de
algo que não tem brilho nenhum: acabar com as retenções.
Falar em modelos da Finlândia, do Canadá ou da Nova
Zelândia é demagógico. Que comparação social, económica, cultural podemos fazer
com eles? Pouca ou nenhuma. Era como pensar em desenvolver o modelo de educação
húngaro a partir do exemplo da Nova Zelândia.
No reino das trivialidades óbvias, João Costa esqueceu-se daquela que me parece a mais óbvia: nenhum aluno pode dispensar o conhecimento.
Até pode dispensar que o transitem de ano, mas jamais se conseguirá afirmar
numa sociedade portuguesa, europeia ou outra se não desenvolver o seu conhecimento.
O secretário de Estado quer que ele vá além do conhecimento enciclopédico? Eu
acho que ele nem abrange o conhecimento do manual quanto mais da enciclopédia.
A
questão sempre teve na maneira como este conhecimento lhe chega e na tradução
prática daquilo que aprende. E isso é formação de professores e coragem na
revisão dos curricula, senhor secretário de Estado da Educação. O resto é apenas um
embrulho muito bonito em forma de diploma para cumprir metas da escolaridade
obrigatória.
Gabriel Vilas Boas
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