Macbeth é a
peça de Shakespeare que mais me fascina e atemoriza. Já a encenei, já a
representei, já a olhei, algumas vezes, do lado de fora, e de todas elas me
parece mais misteriosa, aterradora e irresistível.
Um dos encenadores mais conceituados do país – Nuno Carinhas
– vai pô-la em palco – TNSJ – nas primeiras três semanas de Junho, e conta com
um elenco de luxo, onde se destacam João Reis, Emília Silvestre e Sara
Barros Leitão.
Voltarei a sentar-me na plateia, porque o mistério do texto
shakespeariano ainda continua por desvendar e a sedução daquele Macbeth que um dia encarnei continua tão
forte como da primeira vez.
Macbeth é bem
mais do que uma tragédia sobre um regicídio e suas consequências. É um
exercício cénico brutal e poético sobre insónias, fantasmas, ritos maléficos e
traições, que nos passam diante dos olhos a uma velocidade furiosa.
Macbeth é o herói e o vilão , que suscita ódio, pena, admiração e medo. Ele está sempre a tentar antecipar-se ao tempo como quem procura antecipar-se ao destino para o ludibriar.
Macbeth tem essa necessidade ansiosa de roubar o tempo,
porque o medo o consome e impulsiona, porque não consegue controlar os acontecimentos
nem o destino e isso o angustia.
Num tempo em que vivemos a urgência do momento, a pressa de
tudo compreender, sentir e fazer como se a eternidade fosse o final da rua, a
mais intrigante obra de Shakespeare tem aquela inquietante atualidade que nos
impele para o teatro e no palco procura o espelho onde se veja retratado com
tanta cruel verdade.
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