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segunda-feira, 29 de maio de 2017

OS DITADORES NÃO CAEM, MORREM!


A internet é a maior e mais poderosa arma da democracia contemporânea, mas ainda não consegue derrubar ditaduras. Uma das grandes lições que podemos aprender com elas é que elas não caem pela ação dos cidadãos, do povo que suspira pelo regresso à liberdade, mas caem quase sempre porque apodrecem.

Franco, Estaline, Salazar, Pinochet, Fidel Castro, José Eduardo dos Santos. Eles perpetuaram-se no poder até à morte e só com ela o regime abriu lentamente e os direitos fundamentais lá foram ganhando cor e asas. 
Isto leva-me a duas conclusões tristes: uma ditadura é como uma bebida amarga e lenta, que, depois de escolhida, temos de beber até ao fim, sem poder escolher o fim; geralmente os cidadãos não conseguem recuperar a democracia e a liberdade por vontade própria. Os movimentos de ativistas, os partidos ilegalizados, os sindicatos, a indignação da sociedade civil podem muito pouco perante a força controladora e opressora de uma ditadura.

José Eduardo dos Santos está a morrer, mas já ninguém tira aos angolanos quarenta anos de ditadura, infelizmente coincidentes com os primeiros quarenta anos de existência enquanto país. A liberdade dos angolanos foi sempre uma liberdade condicional. Que marcas ficaram na sua alma? Como irão reagir aos primeiros anos de vida sem o grande ditador disfarçado de grande salvador? Não sabemos! Provavelmente nem eles, mas creio que não será nenhum conto de fadas. A cultura da ditadura, da corrupção, do controlo da liberdade de expressão está tão arreigada em quem decide que não se desfaz de um dia para o outro.
Uma ditadura demora poucos meses a formar-se, mas leva anos a desentranhar-se da pele e da alma.


GAVB

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

AUGUSTO PINOCHET - O ANJO DA MORTE


A História escreve, nos anais do Tempo, ironias tão certeiras e profundas que algumas parecem brotar das mãos dum Poeta Divino. Hoje é o Dia Internacional dos Direitos Humanos e, precisamente neste dia, terminou uma das mais infames existências do século XX: Augusto Pinochet. 
Augusto Pinochet viveu longuíssimos noventa e um anos, de uma vida profundamente lamentável, onde é difícil encontrar algo de bom para referir.
O chileno mais desprezível do século XX entrou na História do seu país quando traiu os ideais militares que jurou defender e depôs, através dum golpe de estado extremamente violento, o mítico líder comunista Salvador Allende, a 11 de setembro de 1973.


Durante dezassete anos submeteu o seu povo a uma ditadura militar execrável, onde exercitou os piores defeitos deste tipo de regime: corrupção; atropelo aos direitos humanos; ausência de liberdade de imprensa; perseguição, tortura e assassínio da oposição política; fraudes eleitorais; criação de leis que visavam uma proteção futura dos crimes cometidos; diminuição em 40% dos salários reais dos chilenos; duplicação do número de pobres; o desempregou aumentou 500%...
Na verdade, a realidade ultrapassa a imaginação mais cruel e maldosa, pois  tudo e mais alguma coisa Augusto Pinochet fez aos seus.
Haveria de terminar como viveu: no meio da mais profunda indignidade. Pacientemente os chilenos deixaram que fosse expondo toda a sua abominável personalidade. Em plebiscito, os compatriotas negaram-lhe que se perpetuasse no poder.
 Cobardemente, saiu da cadeira do poder, que ocupou tanto tempo tão indignamente. Negociou a sua retirada para senador vitalício, onde às mordomias materiais acrescentava a impunidade perante os crimes, cuja profundidade se ia descobrindo, mês após mês.


Rapidamente se soube que Pinochet estivera envolvido na “Operação Condor”, na “Caravana da Morte”, na “Operação Colombo”. Esteve ligado a negócios ilícitos, privatizou bens públicos que os amigos compraram a preços irrisórios, fugiu ao fisco, chegou a fazer dinheiro com a fabricação de cocaína em instalações militares!
Em 1998, foi preso em Londres, onde tinha ido por questões de saúde, mas a infeliz pressão da senhora Thatcher impediu que Baltasar Garzón o julgasse em Espanha por crimes contra os Direitos Humanos. Regressou ao Chile e fez-se passar por maluquinho para escapar novamente à justiça. A indignidade, a cobardia eram traços tão vincados na sua personalidade como a sociopatia, a maldade ou a corrupção.
Morreria uma semana após um ataque cardíaco. Acho que o destino e a História esperavam a chegada do dia 10 de dezembro – Dia Dos Direitos Humanos – para colocar uma cruz negra sobre um dos seres que mais espezinhou, humilhou e torturou o seu semelhante.

Gabriel Vilas Boas