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segunda-feira, 29 de maio de 2017

OS DITADORES NÃO CAEM, MORREM!


A internet é a maior e mais poderosa arma da democracia contemporânea, mas ainda não consegue derrubar ditaduras. Uma das grandes lições que podemos aprender com elas é que elas não caem pela ação dos cidadãos, do povo que suspira pelo regresso à liberdade, mas caem quase sempre porque apodrecem.

Franco, Estaline, Salazar, Pinochet, Fidel Castro, José Eduardo dos Santos. Eles perpetuaram-se no poder até à morte e só com ela o regime abriu lentamente e os direitos fundamentais lá foram ganhando cor e asas. 
Isto leva-me a duas conclusões tristes: uma ditadura é como uma bebida amarga e lenta, que, depois de escolhida, temos de beber até ao fim, sem poder escolher o fim; geralmente os cidadãos não conseguem recuperar a democracia e a liberdade por vontade própria. Os movimentos de ativistas, os partidos ilegalizados, os sindicatos, a indignação da sociedade civil podem muito pouco perante a força controladora e opressora de uma ditadura.

José Eduardo dos Santos está a morrer, mas já ninguém tira aos angolanos quarenta anos de ditadura, infelizmente coincidentes com os primeiros quarenta anos de existência enquanto país. A liberdade dos angolanos foi sempre uma liberdade condicional. Que marcas ficaram na sua alma? Como irão reagir aos primeiros anos de vida sem o grande ditador disfarçado de grande salvador? Não sabemos! Provavelmente nem eles, mas creio que não será nenhum conto de fadas. A cultura da ditadura, da corrupção, do controlo da liberdade de expressão está tão arreigada em quem decide que não se desfaz de um dia para o outro.
Uma ditadura demora poucos meses a formar-se, mas leva anos a desentranhar-se da pele e da alma.


GAVB

sábado, 26 de novembro de 2016

A HISTÓRIA ABSOLVÊ-LO-Á?


Talvez. Mas não da maneira que Fidel sonhou, ou seja, dando-lhe razão política. A minha opinião assemelha-se à de Catarina Martins: Fidel Castro foi uma figura histórica de grandes feitos e de grandes erros.
Concordemos ou não com a ideologia da revolução cubana, ela teve toda a legitimidade, porque assentou na vontade popular e, quando assim é não há como não louvar quem a corporiza.
         Fidel não era um romântico como Che, no entanto tinha a determinação e a coragem dos grandes líderes e nunca se vergou perante a força económica dos EUA. Fê-lo por convicção e orgulho e acho que fez bem. Não podem ser os outros a decidir que caminho é melhor para nós. 
Fidel também esteve bem ao definir a educação e a saúde como pilares básicos da sociedade cubana, fornecendo aos seus compatriotas melhor saúde pública que muitos americanos. Talvez não fosse má ideia Donald Trump tentar explicar por que razão a maior dos cubanos ainda hoje tem um sistema de saúde público e universal bem melhor que muitos milhões de norte-americanos.
         
Ao lado de coisas boas e corajosas, Fidel fez outras muito negativas e fê-lo conscientemente, o que não tem perdão.
         Começo pelo erro mais óbvio e mais perdoável: a ideologia. Estava errada, como viria a ser provado um pouco por todo o mundo, mas Fidel persistiu nela estupidamente.
         
Depois há os erros indesculpáveis: acabar com uma ditadura para impor outra, não permitir a iniciativa privada, não deixar que os cubanos pudesse sair livremente do seu país, não abrir a economia, atirando o povo para a indigência, perseguir a assassinar os seus opositores.
Ideologicamente talvez Fidel obtenha a absolvição, porque o comunismo foi um modelo económico e social falhado como o foi o neoliberalismo, mas não consigo absolvê-lo da opressão que impôs aos seus compatriotas, não consigo perdoar-lhe as mortes, as décadas de separação que impôs a muitas famílias, a miséria a que condenou os cubanos, apenas por teimosia. 
GAVB

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

MARCELO FOI VER FIDEL


Fidel tornou-se na grande atração turística de Cuba. Uma espécie de Torre Eiffel de Paris ou Buckingham Palace de Londres. Hoje, os líderes políticos mundiais vão a Cuba para ver Fidel como quem vai a um museu ou decide visitar um monumento. Faz parte do roteiro de qualquer presidente ou primeiro-ministro visitar esta lenda viva do comunismo mundial.
Desgraçadamente, Fidel tornou-se num fóssil vivo, num dinossauro da política mundial in stricto sensu, ao lado de quem se gosta de tirar fotos, para depois contar aos amigos “Eu estive com Fidel, em Cuba!”
Ninguém vai a Cuba para falar com Raul Castro ou para saber dos cubanos (como eram hipócritas as nossas preocupações com a falta de liberdade dos cubanos em tempos de Fidel, o humano) ou para estabelecer relações bilaterais.
Obviamente, Marcelo nada disse do que conversaram porque não se conversa com um monumento. Sorri-se a seu lado, tira-se fotos, aperta-se a mão, tem-se aquelas conversas cheias de nada.


O grande erro/problema de Fidel aconteceu há quarenta anos, quando era vivo, e recusou viajar, conhecer gente, observar mundo além das ideias que ganhou nas montanhas com Che Guevara.  
Em Cuba tudo cristalizou lentamente: Fidel, o comunismo, a economia e a sociedade. Não lamento a agonia de Fidel e do seu comunismo, porque ambos escolheram o seu caminho, mas tenho imensa pena dos cubanos que passaram anos e anos a ver o futuro cada vez mais longínquo a desenhar-se magnificamente a poucas milhas de distância. 
Ao contrário do que pensa Fidel, o líder cubano não amava verdadeiramente os seus compatriotas nem queria o melhor para eles.
Os cubanos não eram (nunca foram) tontos nem ingratos. Gostavam de Fidel, alguns até do comunismo, mas acima de tudo amavam a liberdade de ver, sentir, conhecer, escolher. Isso só se consegue quando nos permitem viajar, abandonar a "nossa ilha" e conhecer outros lugares, outras pessoas, outras ideias.
Fidel nunca saiu da ilha que criou e onde sequestrou a aqueles que dizia amar. 
Gabriel Vilas Boas.

domingo, 29 de março de 2015

DE FIDEL A RATZINGER - SABER SAIR DE CENA




Ontem, as páginas que alguns jornais dedicam às efemérides assinalavam que tinham passado três anos sobre o encontro histórico entre Fidel Castro e o Papa Bento XVI. Reparei nas personagens, não no significado e relevância do encontro.
Fidel e Bento XVI perceberam tarde (no caso de Fidel, muito tarde) que o seu tempo na História tinha terminado. Numa espécie de arrependimento de última hora, retiraram-se. Decidiram verificar com os próprios olhos a irrelevância em que se tinham tornado. Pessoalmente, deve ter sido uma experiência dolorosa, mas ainda bem que o fizeram. Foi, talvez, o último grande gesto de amor às suas gentes. Entre a vaidade cega e a dignidade, optaram pela segunda.

Fidel percebeu que o seu tempo tinha passado. Foi preciso a ruína do corpo lho dizer, desgraçadamente. O povo cubano respeitou-o e respeita-o muitíssimo. Só assim se percebe que esperem pacientemente a sua morte definitiva para cederem ao canto da sereia americana. Ou então são moralmente tão superiores que preferem a sujidade da pobreza à da coca-cola. Cederão, naturalmente, porque é humano desejar uma vida com bem-estar e conforto, o reencontro familiar, um emprego justamente remunerado. Agora é mais fácil o Castro moderado apertar a mão ao inimigo americano porque Obama é simbolicamente (infelizmente apenas isso) “um dos deles.”

Com Bento XVI, falamos, obviamente, de uma santidade mais santa. O Papa alemão compreendeu que o sonho de uma vida concretizara-se tarde e por causa disso já não era capaz de o concretizar como sonhara.
Saber sair de cena é uma virtude e uma grandeza só ao alcance dos verdadeiramente grandes. Quem escreve a História dos homens com a própria vida deve entender que o Homem continua finito e a História permanece eterna. A repetição não é História! Quando a repetição se torna insuportavelmente repetente apaga a beleza do dia em que foi original e grandiosa.

Há uns anos, Gabriel Garcia Marquez escreveu “Um General No Seu Labirinto”, aludindo a um ditador sul-americano que se perpetuava no poder até à fossilização de tal modo que nem ele nem o povo sabiam já como e porquê ascendera ao poder. Não sei se foi buscar inspiração a Fidel, mas não era descabido que o tivesse feito.
Ratzinger e Fidel deviam inspirar alguns políticos, empresários, líderes sindicais, bancários… que nos aborrecem a vida. Talvez não fosse má ideia pensarem que não lhes resta muito tempo de vida, porque o seu lugar na História há muito que foi à vida!
Gabriel Vilas Boas