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domingo, 29 de março de 2015

DE FIDEL A RATZINGER - SABER SAIR DE CENA




Ontem, as páginas que alguns jornais dedicam às efemérides assinalavam que tinham passado três anos sobre o encontro histórico entre Fidel Castro e o Papa Bento XVI. Reparei nas personagens, não no significado e relevância do encontro.
Fidel e Bento XVI perceberam tarde (no caso de Fidel, muito tarde) que o seu tempo na História tinha terminado. Numa espécie de arrependimento de última hora, retiraram-se. Decidiram verificar com os próprios olhos a irrelevância em que se tinham tornado. Pessoalmente, deve ter sido uma experiência dolorosa, mas ainda bem que o fizeram. Foi, talvez, o último grande gesto de amor às suas gentes. Entre a vaidade cega e a dignidade, optaram pela segunda.

Fidel percebeu que o seu tempo tinha passado. Foi preciso a ruína do corpo lho dizer, desgraçadamente. O povo cubano respeitou-o e respeita-o muitíssimo. Só assim se percebe que esperem pacientemente a sua morte definitiva para cederem ao canto da sereia americana. Ou então são moralmente tão superiores que preferem a sujidade da pobreza à da coca-cola. Cederão, naturalmente, porque é humano desejar uma vida com bem-estar e conforto, o reencontro familiar, um emprego justamente remunerado. Agora é mais fácil o Castro moderado apertar a mão ao inimigo americano porque Obama é simbolicamente (infelizmente apenas isso) “um dos deles.”

Com Bento XVI, falamos, obviamente, de uma santidade mais santa. O Papa alemão compreendeu que o sonho de uma vida concretizara-se tarde e por causa disso já não era capaz de o concretizar como sonhara.
Saber sair de cena é uma virtude e uma grandeza só ao alcance dos verdadeiramente grandes. Quem escreve a História dos homens com a própria vida deve entender que o Homem continua finito e a História permanece eterna. A repetição não é História! Quando a repetição se torna insuportavelmente repetente apaga a beleza do dia em que foi original e grandiosa.

Há uns anos, Gabriel Garcia Marquez escreveu “Um General No Seu Labirinto”, aludindo a um ditador sul-americano que se perpetuava no poder até à fossilização de tal modo que nem ele nem o povo sabiam já como e porquê ascendera ao poder. Não sei se foi buscar inspiração a Fidel, mas não era descabido que o tivesse feito.
Ratzinger e Fidel deviam inspirar alguns políticos, empresários, líderes sindicais, bancários… que nos aborrecem a vida. Talvez não fosse má ideia pensarem que não lhes resta muito tempo de vida, porque o seu lugar na História há muito que foi à vida!
Gabriel Vilas Boas


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