Ontem, as páginas que
alguns jornais dedicam às efemérides assinalavam que tinham passado três anos
sobre o encontro histórico entre Fidel Castro e o Papa Bento XVI. Reparei nas
personagens, não no significado e relevância do encontro.
Fidel e Bento XVI
perceberam tarde (no caso de Fidel, muito tarde) que o seu tempo na História
tinha terminado. Numa espécie de arrependimento de última hora, retiraram-se.
Decidiram verificar com os próprios olhos a irrelevância em que se tinham
tornado. Pessoalmente, deve ter sido uma experiência dolorosa, mas ainda bem
que o fizeram. Foi, talvez, o último grande gesto de amor às suas gentes. Entre
a vaidade cega e a dignidade, optaram pela segunda.
Fidel percebeu que o
seu tempo tinha passado. Foi preciso a ruína do corpo lho dizer,
desgraçadamente. O povo cubano respeitou-o e respeita-o muitíssimo. Só assim se
percebe que esperem pacientemente a sua morte definitiva para cederem ao canto
da sereia americana. Ou então são moralmente tão superiores que preferem a
sujidade da pobreza à da coca-cola. Cederão, naturalmente, porque é humano
desejar uma vida com bem-estar e conforto, o reencontro familiar, um emprego justamente
remunerado. Agora é mais fácil o Castro moderado apertar a mão ao inimigo
americano porque Obama é simbolicamente (infelizmente apenas isso) “um dos
deles.”
Com Bento XVI, falamos,
obviamente, de uma santidade mais santa. O Papa alemão compreendeu que o sonho
de uma vida concretizara-se tarde e por causa disso já não era capaz de o
concretizar como sonhara.
Saber sair de cena é
uma virtude e uma grandeza só ao alcance dos verdadeiramente grandes. Quem
escreve a História dos homens com a própria vida deve entender que o Homem
continua finito e a História permanece eterna. A repetição não é História!
Quando a repetição se torna insuportavelmente repetente apaga a beleza do dia
em que foi original e grandiosa.
Há uns anos, Gabriel
Garcia Marquez escreveu “Um General No Seu Labirinto”, aludindo a um ditador
sul-americano que se perpetuava no poder até à fossilização de tal modo que nem
ele nem o povo sabiam já como e porquê ascendera ao poder. Não sei se foi
buscar inspiração a Fidel, mas não era descabido que o tivesse feito.
Ratzinger e Fidel
deviam inspirar alguns políticos, empresários, líderes sindicais, bancários…
que nos aborrecem a vida. Talvez não fosse má ideia pensarem que não lhes resta
muito tempo de vida, porque o seu lugar na História há muito que foi à vida!
Gabriel Vilas Boas
Sem comentários:
Enviar um comentário