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quarta-feira, 18 de março de 2015

ESPERTEZA SALOIA


Hoje volto a olhar para a nossa língua e a dedicar alguma atenção a expressões que usamos com frequência e cuja origem e significado preciso podemos não dominar perfeitamente.
 Selecionei a expressão “esperteza saloia”.
Comecemos por refletir sobre as palavras que a constituem. Esperteza é um substantivo formado a partir do adjetivo «expertus», que em latim clássico significa “experimentado”, mas em latim medieval ganha a designação de “acordado”. Uma pessoa “esperta” é aquela que, por não estar nem com sono nem a dormir, se apercebe de tudo o que se passa à sua volta. Em português, a palavra acabou por assumir o sentido figurado de inteligente, perspicaz, arguto, mas também o sentido pejorativo de ladino, finório. (Afinal, o povo sempre vai tendo a sua razão quando diz: “quem muito dorme pouco aprende”).
Ora, tudo isto em relação a «esperteza», atestada desde o século XVIII, que tanto pode equivaler a ação de alguém inteligente como à de algum finório que só quer passar a perna ao outro. Já para a palavra «saloio» são apontadas duas hipóteses justificativas da sua origem: uns defendem que vem do nome do primeiro patriarca hebreu, Salé, filho de Arfaxad e pai de Heber; outros dizem que a palavra surgiu após a conquista de Lisboa aos mouros, em 1147: do mesmo modo que por essa altura nasceram as judiarias, para isolar os judeus, também os mouros foram confinados às mourarias. Como estes fazem orações que se denominam de çala ou salab, passaram a ser chamados saloios.

Com o tempo, saloio tornou-se designação dos habitantes dos arredores de Lisboa, que, há muito tempo atrás, eram, exclusivamente, aldeões. O termo acabou por dar nome a um tipo de trigo produzido nas cercanias de Lisboa, e por se tornar sinónimo de individuo rústico, isto é, que desconhece normas de comportamento e etiqueta, que não tem bom gosto ou que age de forma manhosa e velhaca. É este último sentido que está subjacente à expressão esperteza saloia.   
Os aldeões, sabendo não ter grande instrução, temiam ser enganados pelos da cidade, sobretudo pelos “alfacinhas”. Ainda hoje há programas de televisão que retratam essa disputa, pondo em cena lisboetas cheios de bazófia e alentejanos, por exemplo. Por isso, os saloios recorriam sempre a diversas artimanhas para enganar os seus parceiros nos negócios (ou pelo menos para não serem enganados). Mas, como estas manobras eram tão simples, tão ingénuas, facilmente acabavam desmascaradas.

Usa-se como sinónimo de esperteza saloia a expressão “esperteza de rato”, pois o roedor corre, corre, mas não consegue fugir à ratoeira nem ao gato.

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