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sábado, 14 de março de 2015

O MEU NOME É ALICE




STILL ALICE é um filme comovedor e tocante, onde brilha, com grande intensidade, Julianne Moore, a quem foi justamente atribuído o Óscar de Melhor Atriz Principal pela Academia de Hollywood.

Aos 50 anos, Alice Howland é uma mulher realizada: tem um casamento feliz, os filhos crescidos e uma carreira prestigiante como professora universitária. Tudo lhe corre de feição até ao momento em que começa a esquecer palavras e a baralhar-se nas coisas mais simples do dia-a-dia. Depois de fazer alguns exames, recebe o terrível diagnóstico: encontra-se num primeiro estádio de Alzheimer, um tipo de demência que provoca uma deterioração progressiva e irreversível da memória, atenção, concentração, linguagem e pensamento. Consciente do que o futuro lhe reserva, Alice está determinada a viver um dia de cada vez e a superar cada contrariedade com a tranquilidade possível. Deste modo, vai vivendo cada momento sabendo que, em breve, a doença vai alterar totalmente a forma como percepciona o mundo – e como o mundo a percepciona a ela…

O filme trata das repercussões que o Alzheimer traz à vida daqueles em quem a doença se manifesta. Através da magnífica interpretação de Julianne Moore percebemos quanto doloroso é perder a memória das coisas, das pessoas, dos afetos, dos sentimentos, da nossa história. Tanto mais doloroso quanto vamos tendo consciência dessa perda, aprofundado a dor impotente em que mergulhamos sem regresso.

Entretanto, o desleixo com a nossa aparência torna-se o caminho normal de quem perde a noção de si, do mundo em que habita, das convenções e das conveniências sociais. A realização de Richard Glatzer trabalha muito bem este aspeto, transformando progressivamente a Alice, professora universitária altamente considerada, bem vestida e sedutora, numa mulher descuidada, despenteada, vestida de modo desleixada, colocada a um canto da sala como uma caixa de cartão velha e sem préstimo que outrora foi a morada do mais belo lustre da casa.

Alice vai tendo flashes de memória, cada vez mais espaçados e imprecisos, que a transportam até às memórias familiares dos filhos, do marido, da infância. É nesses curtos momentos de luz que a força do amor permite que todos se comovem perante a injustiça desta doença cruel. Paulatinamente, a família vai entranhando a situação de aliene de Alice e esquecendo-se dela. Por isso não admira que tenha sido um momento feliz, aquele em que a chegada da empregada impediu Alice de se suicidar, sem ter consciência disso, executando um plano secreto elaborado por si, quando teve conhecimento da sua doença incurável.    

O filme ensina-nos a arte de perder. Como muito bem fez notar a protagonista no seu discurso, num congresso sobre Alzheimer em que foi convidada. É o momento alto do filme que merece ser recordado:



A poetisa Elisabeth Bishop escreveu: ‘A arte de perder não é nenhum mistério; tantas coisas contêm em si o acidente de perdê-las, que perder não é nada sério’. Eu não sou uma poetisa. Sou uma pessoa a viver no estágio inicial de Alzheimer. E assim sendo, estou a aprender a arte de perder todos os dias. Perdendo meus modos, perdendo objetos, perdendo sono e, acima de tudo, perdendo memórias.




Toda a minha vida eu acumulei lembranças. Elas tornaram-se meus bens mais preciosos. A noite que conheci meu marido, a primeira vez que segurei meu livro em minhas mãos, ter filhos, fazer amigos, viajar pelo mundo. Tudo que acumulei na vida, tudo que trabalhei tanto para conquistar, agora tudo isso está indo embora. Como podem imaginar, ou como vocês sabem, isso é o inferno. Mas piora.



Quem nos leva a sério quando estamos tão diferentes do que éramos? O nosso comportamento estranho e a fala confusa mudam a percepção que os outros têm de nós e a nossa percepção de nós mesmos. Tornamo-nos ridículos. Incapazes. Cômicos. Mas isso não é quem nós somos. Isso é a nossa doença. E como qualquer doença, tem uma causa, uma progressão, e pode ter uma cura. O meu maior desejo é que os meus filhos, os nossos filhos, a próxima geração não tenha que enfrentar o que estou a enfrentar. Mas, por enquanto, ainda estou viva. 


Eu sei que estou viva. Tenho pessoas que amo profundamente, tenho coisas que quero fazer com a minha vida. Eu fui dura comigo por não ser capaz de me lembrar das coisas. Mas ainda tenho momentos de pura felicidade. E, por favor, não pensem que estou a sofrer. Não estou a sofrer. Estou lutando. Lutando para fazer parte das coisas, para continuar conetada com quem eu fui um dia.
‘Então, viva o momento’, é o que digo a mim própria. É tudo o que posso fazer. Viver o momento. E culpar-me tanto por dominar a arte de perder. Uma coisa que vou tentar guardar é a memória deter falado aqui hoje. Irá embora, sei que irá. Talvez possa desaparecer amanhã. Mas significa muito estar aqui hoje. Como meu antigo eu, ambicioso, que era tão fascinado em comunicação. Obrigada por esta oportunidade. Significa muito para mim.”



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