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quarta-feira, 11 de março de 2015

A BANALIDADE DO MAL



A 11 de março de 2004, o mundo foi surpreendido por três atentados simultâneos em Madrid, em quatro comboios suburbanos. Morreram 201 pessoas, cerca de 1470 ficaram feridas. O Governo espanhol de Aznar acusou a ETA, que negou a autoria. Entretanto movimentos associados à Al-Quaeda reivindicaram o atentado.


Nessa altura, o mundo ocidental vivia ainda combalido pela pancada que representara o 11 de setembro de 2001 e o ataque ao coração da América. De lá par cá, os grandes ícones do terrorismo internacional foram perseguidos, presos, mortos, mas o terrorismo não abrandou, antes pelo contrário. Tornou-se ainda mais estupidamente irracional, fugindo a qualquer lógica reivindicativa.



Tivemos (e nalguns casos ainda temos) o terrorismo da ETA, do IRA, do Hezbollah, do Hamas, da Al-Quaeda, onde era percetível uma fundamentação teórica para o ignominioso ato de matar inocentes. Com o Estado Islâmico, tenho muita dificuldade em encontrar qualquer lógica política, na sua atuação. O Estado Islâmico tornou o terrorismo mais cruel de que há memória numa banalidade dos dias de hoje, dada a facilidade com que decapita gente e exibe os seus atos através da internet.

Há uma década, a Espanha percebeu que o terror com que estava habituada a lidar já não era o mesmo. Há poucas semanas, a França sentiu algo semelhante com o atentado ao Charlie Hebdo. Chegará a vez doutros povos e doutras latitudes, porque hoje é muito fácil atentar contra a vida de milhares de pessoas.



Além disso, a reação da civilização à barbárie tem sido pouco mais que ridícula. Lamenta-se, fazem-se marchas de indignação para ficar bem nas fotos e postar nas redes sociais, escrevem-se artigos de opinião, mas medidas concretas sobre controlo de fronteiras e monitorização de indivíduos potencialmente perigosos existem poucas. E pior, a população ocidental começa a aceitar a ideia de que pode conviver com esta anormalidade, desde que ela esteja longe. Primeiro estranhou, indignou-se, agora entranhou.


Há alguns meses vi o filme “Hannah Arendt”, todo ele construído a partir do seu livro Eichman in Jerusalem, onde ela teoriza sobre a banalidade do mal. Segundo a reputada autora alemã, o mal não é ontológico, metafísico ou natural, mas antes político e histórico. Segundo ela, o mal acontece quando encontra espaço institucional para isso. Para Arendt, a trivialização da violência corresponde ao vazio de pensamento.

E se há coisa que caracteriza muito a sociedade moderna é um enorme vazio de pensamento e de valores. Há quem tenha horror ao vazio… há quem o preencha com horror.

Gabriel Vilas Boas

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