É um
dia triste sempre que um poeta parte para sempre. Com ele leva a arte de dizer
aquilo que sentimos, a chave que nos abria, o mapa da nossa ilha da felicidade.
Herberto
Hélder escreveu poesia toda a vida. Versos longos, muitas vezes sem rima nem
ritmo entendíveis a olho nu, mas quase sempre inquietantes.
Os
seus poemas olhavam a vida, as emoções, os pensamentos como um desafio. Havia
que explorá-los, interrogá-los, experimentá-los com os olhos das palavras, das
construções poéticas, do ritmo. E Herberto Hélder teve a paciência e a
sabedoria necessárias para construir poemas onde a beleza encontrava
frequentemente a inteligência e as duas ficavam longas palavras a conversas na
folha de papel.
Como
escrevi há três dias, faz um bem extraordinário à alma ler um pouco de poesia todos dia. O pretexto não é o melhor, mas a poesia é superlativa.
Fica bem, fiquem com Herberto Helder.
Fica bem, fiquem com Herberto Helder.
Não sei como dizer-te que a minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e casta.
Não sei o que dizer, especialmente quando os teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e tu estremeces como um pensamento chegado.
Quando iniciado o campo,
o centeio imaturo ondula tocado pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima,
– eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.
Quando as folhas da melancolia
arrefecem com astros ao lado do espaço
o coração é uma semente inventada
em seu ascético escuro e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a minha casa ardesse pousada na noite.
– E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes caem no meio do tempo, –
não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
arrefecem com astros ao lado do espaço
o coração é uma semente inventada
em seu ascético escuro e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a minha casa ardesse pousada na noite.
– E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes caem no meio do tempo, –
não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante a primavera inteira
aprendo os trevos, a água sobrenatural,
o leve e abstracto correr do espaço
– e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra vai cair da curva sôfrega dos meus lábios,
sinto que me falta um girassol, uma pedra, uma ave –
qualquer coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto, a criança,
a água, o deus, o leite, a mãe, o amor,
aprendo os trevos, a água sobrenatural,
o leve e abstracto correr do espaço
– e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra vai cair da curva sôfrega dos meus lábios,
sinto que me falta um girassol, uma pedra, uma ave –
qualquer coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto, a criança,
a água, o deus, o leite, a mãe, o amor,
que te procuram.
Herberto Hélder
Herberto Hélder
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