Certo
dia, Shakespeare escreveu que “a vida é uma peça de teatro que não permite
ensaios, por isso, cante, dance, ria, antes que a cortina desça e a peça
termine sem aplausos”.
Não
precisamos de fazer das nossas vidas uma peça de teatro, mas a vida de cada um
ficará muito mais rica se deixarmos que o teatro faça regularmente parte dela.
Como já escrevi noutras ocasiões, o teatro é um espetáculo único, total,
apaixonante. É um privilégio fazer parte desse mundo; para o espectador é um
deleite.
No
Dia Mundial do Teatro, desejo apenas transmitir-vos um pouco da minha paixão
por esta arte maravilhosa. Podemos vivê-la sob várias perspetivas que de todos
os ângulos sairemos satisfeitos e bem mais ricos.
A
mais arrebatadora forma de sentir o irresistível poder da arte de Molière é representar,
embora também seja a mais exigente. A mais fácil é sentarmo-nos na plateia e
assistir a uma peça de teatro.
Devíamos
ter o saudável hábito de ver, no mínimo, uma peça de teatro por mês. É um vício
bom que enriquece a alma, o espírito e o corpo, que redescobre no teatro gestos
esquecidos nas brumas da memória.
Como
todas as coisas extraordinárias, o teatro não é uma arte fácil. Nela apenas
triunfa quem tem talento, persistência e personalidade. Uma professora de
teatro que tive costumava dizer, frequentemente, que “no teatro não podemos ter
medo do ridículo”.
Saber
deixar a pessoa que somos e mergulhar na personagem que nos coube é o primeiro
grande desafio que o teatro coloca ao candidato a ator. Quem vence este
primeiro obstáculo, em cima do palco, frente a um público que conhece do
contacto social, está apto para que o encenador trabalhe o seu talento, sob os
auspícios das grandes obras dos dramaturgos. Entre estes, prefiro Sófocles,
Shakespeare e Molière.
Um
ator de teatro não pode aspirar à glória social nem a uma conta bancária de
relevo. Trabalhará sempre por paixão, sem contar as horas noturnas consumidas
em ensaios nem reparar no magro salário ou no pouquíssimo público presente na
plateia. Mas nada há a lamentar: as paixões são loucas, insensatas, arriscadas…
maravilhosas!
O
teatro também é exigente com o espectador. Em primeiro lugar, obriga-nos a
vencer o sedentarismo que nos envenena o espírito. Depois necessitamos de
gastar dinheiro no bilhete, nas viagens, no estacionamento. Por último, requer
algum conhecimento sobre a peça a que vamos assistir. Para aqueles que estão
habituados às coisas fáceis e sem sabor desta vida, estas são razões mais do
que suficientes para desistir. Para aqueles que gostam de desafios, o teatro é
uma sedução permanente.
O
meu conselho é que deixe que o teatro enriqueça a sua vida. Vença a inércia,
entre num teatro e assista a uma peça. E regresse na primeira oportunidade. São
raros os casos de intolerância a este medicamento cultural. Hoje é um ótimo dia
para começar. Há Teatro um pouco por todo o lado: no Porto, no Teatro Nacional
São João temos a peça “Fim das Possibilidades”; em Lisboa, no Teatro Nacional
D. Maria II, pode-se ver “Pirandello”. Em ambos os casos a entrada é livre. A
minha sugestão para quem está próximo de Vila Real é a imortal peça de Molière
“O Avarento”, levada à cena, no teatro local, pela companhia Ensemble – Sociedade de Actores, onde
pontificam Jorge Pinto e Emília Silvestre.
Shakespeare
tinha absoluta razão: a vida é uma peça que não admite ensaios, por isso deixe
de ensaiar mais desculpas e vá ao Teatro!
Gabriel Vilas Boas
Gabriel, vou partilhar pq adorei
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